Como é que Usar Dating Apps Expandiu-me os Horizontes

E Ajudou-me a Clarificar e a Compreender as Relações

Não sei ao certo o que é que fui lá procurar e, sinceramente, continuo sem saber. Após estes meses, dificilmente apostaria todas as minhas fichas, exclusivamente, em “relacionamento romântico”. Depois de tudo o que aconteceu nos últimos tempos, não creio que tenha sido apenas isso. No fundo, no fundo, o que eu queria era conhecer pessoas. E acabou por se cumprir, pois, numa situação de confinamento, mal não me faria em explorar as minhas possibilidades.

É verdade que a maior parte deles esfumou-se, e confesso que nem mesmo eu me dei ao trabalho de manter contacto com eles. O facto é que naquela tarde solarenga de agosto de 2020, na qual também reinava uma atmosfera de tédio, contradisse-me e lancei-me às dating apps. Nunca nutri interesse por elas, tanto que, finalmente, desativei a minha segunda conta – foi ontem, a 19/01/2021. Deixei de a usar em setembro, ainda tentei em dezembro, mas nada feito -, e admito que entrei numa espécie de escassez.

Ainda que não seja a palavra certa para as reflexões que se seguem, a verdade é que me tenho apercebido de que não existe urgência alguma em construir uma relação romântica com alguém, nem tão pouco de conhecer JÁ quem será o meu companheiro.

autorretrato, carolayne ramos, reflexão sobre usar dating apps, expandir horizontes e relações romântico-afetivas

Aliás, perpetuar esse gasto de energia impede-me de viver a minha solitude com todo o coração, afastando-me, assim, de mim mesma. Não o digo feita velha do Restelo, pelo contrário. Estou somente a dizer que o que me foi incutido e alimentado, esta ideia de que só somos completos e mega felizes quando estamos num relacionamento, não é regra, não é saudável e desvirtua-nos da questão mais importante: nós mesmos. Tal e qual.

Se antes eu tinha pressa, de momento consigo compreender o porquê de certos caminhos e situações. Às tantas, é como tenho repetido: está-me a ser concedido o tempo para colocar projetos em dia, de conquistar a minha liberdade financeira e unir pontos no que toca à minha percepção das relações românticas… De desconstruir o que realmente quero e de como é que darei e aceitarei para que as dinâmicas realmente funcionem.

De que me vale querer entrar numa relação se reconheço que ainda crio uma espécide de dependência afetiva por alguém, por receio de a perder?

Porque quererei eu de continuar a alimentar essas ansiedades, sem antes compreender que eu, ele e nós seremos entidades completamente distintas, mas que se unem por diversas razões? Ter entrado de cabeça nas duas dating apps que usei permitiu-me esclarecer imensas coisas sobre mim. Tive sim uma oportunidade e, certamente, terei tantas mais. Mas a vida, com as suas facetas imprevisíveis, as suas performances curiosas, está a mostrar-me de que as situações nem sempre podem correr de acordo com a minha velocidade e que, muitas das vezes, não dependem só de mim e dos meus desejos.

Afinal, o outro lado também prima pela sua humanidade. A outra pessoa também tem planos, traumas, sentimentos, o direito a viver o seu espaço e o seu tempo. Quanto a mim, tenho vindo a reforçar o que já tinha aprendido nas minhas amizades: nem sempre há disponibilidade e quando houver uma sincronicidade no modo de dar, receber, estar e partilhar, a distância e o silêncio compensarão! Por ter estado disposta a investir numa relação, dei por mim a refletir intensamente nas marcas que fui acumulando noutras vivências…

autorretrato, carolayne ramos, reflexão sobre usar dating apps, expandir horizontes e relações romântico-afetivas

Dei-me conta de que algumas foram inevitáveis, e de que tantas mais poderiam não existir, se na altura eu estivesse tão centrada em mim como estou de momento.

Inegavelmente, aprendo que as dores, as deceções, são fruto das minhas expectativas e que podem ser evitadas, se eu souber distinguir entre as ilusões que alimento e a pura realidade. Dou por mim a resguardar-me, pela leve sensação de já ter investido imenso nas pessoas “erradas”… Portanto, perante uma potencial relação, distancio-me, deixo de ser eu mesma, interpreto o invisível nas entrelinhas, resultado de inseguranças e que foram plantadas lá atrás.

Recordo-me das chamadas de atenção, das críticas, das rejeições, das tampas. Vêm ao de cima as bocas que sempre escutei ao crescer, ora por estar acima do peso, ora pela minha forte personalidade e que, para alguns, faz de mim uma pessoa séria, pouco acessível e pouco amigável… Ora pela intensidade e que me leva a exagerar no modo como exponho o que sinto… Seja pelos amigos, ou pelas pessoas por quem nutro algo mais…

Há uns anos, reconheci que estar constantemente em busca de alguém não passava de uma necessidade de fechar buracos. Nada mais era do que uma carência que eu, na altura, não compreendia.

Além disso, por muito que também tenhamos de ser responsáveis pelas nossas relações, até que ponto é que isso não se torna numa obsessão? Sem dúvida que ter usado dating apps foi crucial para o meu amadurecimento. E por muito que eu tenha para aprender, eu jamais estarei a cem porcento pronta para entrar numa relação. Nunca estaremos a cem para nada e, aguardar por tal, afastar-nos-á de imensas oportunidades!

autorretrato, carolayne ramos, reflexão sobre usar dating apps, expandir horizontes e relações romântico-afetivas

Posto isto, é importante relembrar que o pilar da vida romântica deve resumir-se a isso, a um pilar e não a um pavimento completo. Tendo estado em arquitetura, bem sei que feitas as contas, a falta de um pilar poderá ser colmatado pelos demais, se houver um equilíbrio. E esse equilíbrio existirá consoante a nossa dedicação para com as outras áreas da nossa vida. Uma vez que as melhores vivências são as que não se planeiam, deixo anotado a minha pré-disposição em ir com o flow. De verdade.

Por muito desafiante que seja, por muitas pessoas especiais que eu tenha de deixar ir, por muitas memórias que necessitem de ser arquivadas…

Para mim, chegou a hora de extrapolar todas as colheitas das minhas práticas meditativas e que me ensinam o seguinte: o agora é tudo o que eu tenho, tal como a essência que carrego. Nesse sentido, a pessoa que chegar e com a qual eu tiver de estabelecer uma conexão no sentido de amizade, romance, companheirismo, terá o seu lugar. Perante essa verdade em suspenso, só me resta deixar a porta aberta e o compartimento a arejar, enquanto mantenho a restante casa de pé. Há tanto para explorar, porquê negligenciar isso?

O que pensas sobre o assunto? Gostaria de ler a tua opinião! ♥

Scroll to Top