Faz hoje 7 anos que tenho este blogue. Nem sempre se chamou assim, mas os conteúdos que guarda são os mesmos desde o seu primeiro dia. Não tinha planeado escrever o que quer que seja – como me é habitual -. Contudo, a Sofia deu-me no que pensar. Ultimamente, a Sofia tem-me dado sempre no que pensar. Ao aperceber-se de que 2015 foi há 7 anos, deu-se-lhe uma crise existencial que, aos poucos, foi passando para mim.
Daí estar aqui sentada a desemaranhar o turbilhão de ideias que me assomaram. O que mudou nestes 7 anos?
É quase tendencioso querer falar das mudanças dentro do próprio blogue. São mudanças válidas. Já lhe alterei o nome, a plataforma, alguns tipos de conteúdo. Até hoje, no entanto, ainda não descobri o meu nicho, questão que nunca me preocupou. Foi só uma constatação. Este blogue reflete muito das minhas fases enquanto pessoa. Há alturas em que me sinto mais segura e confiante, logo venho para aqui com mais frequência.
Outras, como as de ultimamente, caracterizam-se pelos baixos nos quais escavo ainda mais a essência que guardei para mim, chegando-me a alienar dela. Seja pelas expectativas criadas em torno de mim, ou pelos medos que fui absorvendo daqueles que me rodeiam. Ou rodeavam. Em 7 anos, mudei o meu modo de pensar, os meus planos de vida, as minhas prioridades. Ainda me é difícil assentar em determinadas áreas, nomeadamente no foro relacional.
Tendo em conta que cresci confinada, amedrontada quanto aos perigos do mundo, na maior parte sozinha, tornou-se clara a minha incapacidade de socialização.
Eu não me sei dar com pessoas. Posso ter amigos, uma relação com os meus pais que tem melhorado, ambições… Mas a verdade é que no final dos dias, semanas, meses a única sensação que tinha era a de que existia um fosso imenso entre mim e os outros. Dispensei muito do meu tempo a dar-me a outrem. Nunca parei para me dar de forma consciente, descomplicada, eficiente. Nunca fui egoísta.
Sempre persegui objetivos que vistos de fora seriam os mais aceitáveis… Por consequência, essa conduta afundava-me ainda mais num mar de incertezas que me atrofiam até hoje, desconectava-me de mim, levando-me a fugir das pessoas. Por longos anos, o amor que tinha para dar era de uma natureza que só agora compreendo. Tratava-se de um amor condicionado pelo que eu queria urgentemente receber.
E quando falo de amor refiro-me ao caminho oposto ao do medo!
Em 7 anos, revoltei-me com a faculdade, comecei a trabalhar, vivi sozinha em plena quarentena, iniciei a minha descoberta enquanto mulher, vivi desgostos amorosos que deram lugar a um livro publicado, deprimi como nunca antes, comecei a fazer terapia, iniciei um mestrado, estou a reeducar o meu ego, tenho amadurecido e desabrochado, embora tenha pressa quanto a esse processo…
Aliás, uma das minhas maiores conquistas tem sido a de aprender a ter paciência comigo, com os meus processos, com o que posso controlar, largando-me de responsabilidades que não são as minhas. Nos últimos 7 anos, chorei (e choro) como uma criança perdida, descobrindo amparo em lugares mais saudáveis. Vi muitos planos a saírem-me completamente ao lado em prol de outros que, sem dúvida, compensaram pelas supostas perdas das quais poderia fazer um luto.
Falando em luto, perdi duas pessoas muito importantes para mim, mas com cuja ausência relativizo as minhas questões.
Criei um podcast que, aos poucos, vai crescendo comigo. Faço por sair da minha familiar rotina de procrastinação, que nada mais é um modo de fugir do falhanço, dos julgamentos, da energia que tenho de dispensar a aprender coisas novas para me superar. Incrível como, em 7 anos, tomei decisões que me expuseram a situações muito complicadas em termos de saúde, seja ela física ou mental.
Tenho agora a perceção de que teria bastado um conjunto de diferenças no modo como apreendi os primeiros rasgos do mundo para que os meus comportamentos fossem totalmente diferentes… A minha vida foi o que foi até eu aceitar as minhas responsabilidades e, dali, assumir uma postura cada vez mais ativa. Eu tenho sonhos. Desejos.
Eu sinto tesão, tristeza, nem sempre estou disposta a fazer com que algo aconteça. Os últimos meses que o digam; tenho saído, ainda que alguma dificuldade, de situações nas quais não me sinto bem. Ainda que sejam comportamentos interessantes de se avaliar na terapia, tenho aprendido a escutar a minha intuição.
E ela direciona-me para os lugares onde me sinto a expandir, mesmo que não seja ali onde me imagine por muito tempo.
Meios para atingir um fim mais agradável, sem que ele assim o seja no sentido literal. Não existem fins, somente pontos de viragem no nosso progresso. Os últimos 7 anos foram completamente diferentes do que alguma vez concebi nos que lhe antecederam… Se abraço as minhas fases depressivas, ansiosas, de puro caganço é por agora aceitar melhor a minha condição enquanto humana. Ainda não me deixo sentir na totalidade.
Confesso que ainda dou por mim a fugir de sentir, de fazer o luto, de aceitar que certas coisas são o que são. Todavia, depois de ter começado a cuidar de mim, não consigo conceber uma possibilidade de retrocesso total. De desistência de mim. Posso colocar muitos projetos e ideias em suspenso, como é o caso deste blogue, do podcast, dos livros, das pinturas, das viagens.
Mas quando escolho amar, é para eles que viro o olhar. É em mim que vejo luz e beleza. Pode ainda ser pontual, sendo o objetivo o de me tornar mais estável nesse aspeto. Terei mais do que 7 anos daqui para a frente para relatar o que mais aconteceu. Será curioso… Oh, o que estará guardado?
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