LIVROS | “Crónica de uma morte anunciada” (*)

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Este é um dos livros favoritos da Sofia. Não se tornou no meu, embora compreenda o seu fascínio por esta obra do Gabo. Foi o segundo livro que li da sua autoria, colocando-o no topo em comparação. Não lhe retiro o mérito em “Cem anos de solidão”… No entanto, a “Crónica de uma morte anunciada” compila quase tudo o que aprecio numa leitura: é curto para os dias de verão, trata de um assunto sensível, a linguagem é bastante particular e as personagens, apesar de retratadas em poucas páginas, têm todas uma individualidade.

Já o queria ler há muito tempo.

Tendo em conta a minha rotina de leitura desregulada, o que menos queria era lançar-me a calhamaços, receosa de que isso perpetuasse a minha preguiça. A escolha foi evidente, juntando assim o útil ao agradável. Apesar de ter levado algum tempo a explorá-lo, compensou por cada dia em que ficou suspenso na estante. “Crónica de uma morte anunciada”, semelhante ao “A morte de Ivan Ilitch”, capturou a minha atenção por desenvolver uma narrativa em torno da morte.

Não sei se isso diz algo sobre mim e que eu deva dar particular atenção na terapia, a verdade é que gosto da normalidade com que certos artistas abordam a morte. Não há cá floreados nem tretas, o nosso dia há de chegar. Sou apologista de que conteúdos deste género ajudam-me a amenizar o medo que tenho da morte. Não da minha, mas em relação à dos que me são queridos. Já sofri duas perdas grandes, e por muito tempo que tenha passado, até hoje dou por mim a digerir o vazio físico colmatado pelas memórias.

Creio que esta nossa dificuldade advenha da carência em comunicarmos sobre ela.

A nossa falta de preparação é consequência de anos a fingirmos que ela não existe. Só que a morte está em todo o lado. Nas plantas que cuidamos. Entre as pessoas que amamos. Nos próprios ciclos que terminam… E vê-la exposta na literatura com a sabedoria de alguém que viveu o suficiente é fascinante. Na realidade, abre-me portas para questionar os meus medos, quais as ações que teria tomado naquele cenário, o que poderei fazer para aceitar com tranquilidade a aproximação ao meu fim.

Quero acreditar que esteja longe desse desfecho. Entretanto, tal como nestes livros, a morte é imprevisível. Seja por batermos a anca no canto de um objeto pontiagudo, como por nos difamarem num século em que a honra de uma família vale mais do que a vida humana. Santiago Nasar jamais imaginaria que ele morreria naquele dia… Ainda para mais depois de um dia de festa e devido a motivos que nem teve a oportunidade de compreender.

“Crónica de uma morte anunciada” explora como é que a nossa loucura é facilmente acedida ao depararmo-nos com a motivação “certa”…

…qual o verdadeiro carácter de quem convive connosco diariamente, como é que um boato tão sério é levado tão na descontra até que se torne realidade. Toda esta narrativa remonta ao ditado de São Tomé, “ver para crer”, pois não é possível como é que metade de uma aldeia pouco fez para precaver a ameaça de morte de alguém.

Mais impactante ainda foram as voltas que este anúncio deu por todos sem nunca alcançar a vítima! Como não apreciar um livro que consegue despertar todas estas aflições, dúvidas, deslumbramento? Houve coisas de que não gostei, como por exemplo do desfecho, que tanto pode atrair como repelir adeptos. Penso que depois de um silêncio interminável, o mínimo que poderia acontecer seria uma revelação interessante. Não se tornou num dos meus favoritos, mas está lá perto.

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