FOLHAS SOLTAS | 19 de novembro de 2020

São 23h48, do dia 19 de novembro de 2020. A tocar através dos auriculares “A memória”, de Orelha Negra. Todo o meu corpo transborda inchaço, consequência do primeiro dia da menstruação. Já não me recordo de quando foi a última vez em que me sentei na cama, nestas condições, para transcrever pensamentos. Uma ansiedade que desconfio não ser minha achou-se no direito de me invadir o peito, espicaçando-o em períodos tempo muito específicos, qual sprint daqueles que o treinam com sagacidade.

Sei, primeiramente, que editarei este texto pela manhã, já com outra disposição e discernimento, possivelmente a questionar-me das razões por detrás deste desabafo. Há imenso que não escrevo para o blogue com um sentido de lazer, descontração… A cumprir com a imagem que, sem me ter esforçado para tal, pois, não passa de um reflexo da pessoa que sou, é mencionada por imensa gente da blogosfera. Não se passa nada de especial…

Aliás, estou a ser injusta não só para comigo, como para aqueles que, num registo diário, têm vindo a pincelar os meus dias com novidades e sensações que o meu corpo desconhecia. Porém, e como manda a lei da pessoa na qual me tenho transformado, tratam-se de assuntos que para aqui não são chamados, pois, para alem de cada individuo merecer refastelar-se com a sua privacidade, nem todos os detalhes da nossa vida são motivos de conversação.

Eis um dos maiores aprendizados dos últimos dias; afinal, o que é que eu desejo partilhar e, sobretudo, com quem?
Onde? Como e porquê?

Tenho-me debatido imenso com esta questão, muito por conta do blogue e do podcast. Tenho feito por avaliar a utilidade e qualidade das minhas ideias, dado que, por muitos anos, dei a conhecer detalhes que, atualmente, sei que jamais partilharia. Quis eu, numa busca inconsciente e desenfreada, criar conexões pelas quais estou grata, mas que, no entanto, poderiam ter sido outra coisa. Eu sei, eu sei: não se deve chorar pelo leite derramado – ainda se o bebesse, o lema faria sentido! -…

Contudo, e por muito que tenha batido com a cabecinha nas paredes que permanecem intactas e me despoletam um sentido de admiração, já sei apurar a espécie das minhas preocupações. Estou a conquistar terreno numa versão individual e que, até então, desconhecia. Eu não sei que Carolayne é esta, somente o passado que tem vindo a arquivar para trás das costas. E não saber que pessoa é esta e que vos escreve, não por a considerar um perigo, mas antes por nunca ter aguardado que ela se desse a conhecer, é um tanto bizarro…

No sentido em que implica que eu, este limiar entre a zona de conforto e o desconhecido, tenha de expandir os horizontes, escutar duas ou mais vertentes de um só invólucro e decidir…

Decidir sem nunca abandonar os planos da entidade que fui; escolher sem nunca construir armadilhas para a versão que pretendo moldar e encaminhar para o sucesso. Não propriamente de idiossincrasias financeiras, mas antes emocionais, psicológicas, de saúde mental, espiritual e física. Conforme os dedos passeiam pelo teclado do computador, a esfera da ansiedade que se me palpitava na introdução tem diminuído. Afinal, a nova Carolayne apenas pretendia dar voz aos seus monólogos e que, felizmente, são impressos no seu journal.

Pudera, que seria feito de nós se eu, o limiar, não me responsabilizasse quanto a essas intermediações? Daria em doida… Talvez, até um pouco mais! Confesso que já sentia saudades. Irremediavelmente, terei de renderizar todo este texto e fazer com que corresponda com os pré-requisitos do SEO (*). Investir numas quantas palavras de transição, aprimorar as ideias, reforçar as entrelinhas. Isto, obviamente, sem podar na excessividade lírica e sobre a qual julgava estar a perder o controlo.

(*) inesperadamente, até me consegui safar à primeira, sem necessitar de remodelar o texto!

Otária. Eis o máximo que me consigo dirigir, enquanto abano a cabeça e esboço um sorriso.

Sabes ao que também devo esta ira artística e que me fez levantar da cama? Ouvir um podcast, como há muito não acontecia. Uma necessidade de mudança. Invocar à memória a imagem de indivíduos muitos especiais. Ler Murakami. Não sei se já te fizeste acompanhar da minha conversa com a Sofia, disponível no Congresso Botânico, todavia, oriento-te já um dos nossos conselhos: para que nos possamos tornar em bons escritores, uma das coisas a fazer é ler como se a nossa vida dependesse disso! (*). Para além do mais, ler relaxa!

(*) Entretanto, vou contar-te o que aconteceu aqui: não me senti capaz de racionalizar a frase em português, então, escrevi-a em inglês e francês para que, posteriormente, a pudesse traduzir tal como a leste. Eis, a frase original: “in order to become great writers, un chose que nous pouvons faire est lire comme si notre vie depends ceci

Sim, recordaste das minhas metas para 2020?

Felizmente, um dos meus amigos teve a capacidade de me motivar a começar a estudar francês e, embora não treine com ele tanto quanto ele gostaria, já dei um grande avanço no aprendizado. Tem sido divertido, confesso. 00h27. Déjà vu (que, traduzindo e simplificando, quer literalmente dizer “já visto”), dado que, há uns anos, escrevi textos (*) com uma estrutura muito semelhante a este. Curioso.

(*) LER TAMBÉM: 25 de janeiro de 2018 | 20 de junho de 2018 | Ser Livre de Mim Mesma | Uma Amostra de Clarividência

Vou deitar-me. O sono já começou a escalar pelo meu corpo, deixando de arrasto uma moleza que dificilmente me permitirá racionalizar em condições. Até já troco o compasso dos dedos. Esta, em suma, continuarei a ser eu: aquela que poetiza todo o seu trânsito mental e que a eleva, mesmo nas ocasiões conturbadas. Eventualmente, falaremos um pouco melhor. À bientôt! ♥

O que pensas sobre o assunto? Gostaria de ler a tua opinião! ♥

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