sobre o EP65 – o peso ideal
Passei a vida inteira a querer alcançar o meu peso ideal. 75kg. A minha cabeça sempre concebeu um corpo extremamente magro, talvez pelas referências que tinha da altura. Com 75kg, eu já não teria barriga, a gordura das costas nem vê-la! A questão é que tenho 75kg há praticamente um ano, já tive o corpo mais definido quando frequentava o ginásio…e embora mantenha o músculo da altura, o reflexo que vejo ao espelho em nada se assemelha às minhas idealizações.
O que ocorreu, então?
As minhas referências não eram as melhores. Eu não sabia que o que via eram pós produções das sessões fotográficas, talvez distúrbios escondidos por detrás de sorrisos, muitas limitações alimentares, muitas exigências. Na minha experiência, passei por isso. Sentir-me limitada a comer, comer com culpa. Treinar com muito pesar. Não gostar de me mexer. Sentir-me obrigada a mexer-me.
Crescer num corpo gordo foi doloroso pela consciência precoce que ganhei dele, agregado às críticas que me acompanham, de momento, mentalmente. Quando me imaginava com um peso coincidente com um IMC dito saudável, jamais conceberia o atrito de sempre, as preocupações que nunca cessaram, algumas consequências de tanto me formatar em buscar o corpo perfeito. Atualmente, treino por gosto.
Porém, também o faço porque uma voz me diz que se não o fizer, voltarei a ser aquela miúda gordinha a quem chovem críticas, a quem custa comer, que adormecia a chorar de tanto se sentir enojada.
Hoje, choro por não ter estado lá com ela para a tranquilizar e guiar. Para lhe dizer que é uma questão de autoconhecimento, que o seu sistema hormonal tem condicionantes que dificultam o processo. Que cuidar de si não deveria estar conectado com o desejo de agradar os outros. Que, eventualmente, ela caberá num S sem se dar conta. Ainda assim, receberá bocas e questionamentos sobre um processo que se tornou natural e uma manifestação de saúde. Gostaria de ter lá estado, mas ainda aqui estou.
Por isso, tudo o que lhe puder dizer interiormente para a acalmar, farei. Assim como quero estar pela Carol do futuro, caso se sinta desorientada. Quero que ela escute o novo episódio, reflita e se centre no que realmente importa. Porque por muito bonito que seja estar no peso ideal, caber em muitas roupas diferentes, receber olhares de cobiça, mais agradável ainda é comer sem pensar duas vezes, sair de casa sem se questionar, movimentar-se sem duvidar das suas capacidades. Digo-o não só para ela, como para todos os que passam pelo mesmo.
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