sobre o EP62 – o pior que há em nós
Aconteceu algo na quarta passada que me fez repensar no que gravei na terça. Uma nova perspetiva sobre este assunto. Até pensei no quão precoce, por vezes, é gravar sobre certos assuntos sabendo que ainda tenho dias e enigmas pela frente…o bom é que posso sempre acrescentar novas visões.
Inicialmente, o episódio seria sobre quando nos envolvemos com pessoas que nos estimulam o lado mais horrendo. O lado ansioso, apegado, corrido a emoções negativas e que não só nos prejudicam quanto aos demais envolvidos.
No meu caso, exijo o que não me pode ser dado ora porque não querem, ora porque não sabem. Além do mais, torna-se tóxico porque estou sempre em cima, a pessoa não corresponde e se sente abafada, o feedback torna tudo mais penoso…não há paz.
O pior que há em nós é um sintoma de que algo não está certo dentro de uma determinada dinâmica.
Não deveria colocar-me em causa sempre que me maltratam. Isso não faz de mim uma pessoa de merda. Conta, antes, como traços de personalidade do outro lado. Todavia, precisei acrescentar que, em muitos casos, haver alguém que estimule o pior que há em nós pode, também, ser bom, sobretudo se forem nossos amigos. Porquê?
Porque na verdadeira amizade, há espaço para criticas construtivas, chamadas de consciência e aprendizado. Se temos atitudes hostis que não estão relacionadas com algo que a pessoa nos tenha feito, enquanto amiga, ela só tem de nos chamar à razão, fazer-nos ver de que estamos errados, com algum problema ou uma atitude pouco correta, e ajudar-nos a compreender os porquês que, de igual modo, vivem dentro de nós.
Por vezes, foi uma situação mal resolvida com alguém, foi algo que nos incomodou, foi um gatilho que se acionou…
…e o amigo que reflete isso, que estimula, vê, denuncia o nosso pior lado, pode também ser a melhor pessoa para estar connosco. Amigos são os que nos aceitam assim e não nos abandonam na nossa ignorância que se perpetua como se estivéssemos sempre certos de tudo.
Foi muito importante para mim ter sido confrontada na mesma medida em que elevo as minhas armaduras. Não contava em fazê-lo tão cedo, ou de todo, mas aconteceu. Fi-lo, estava inconsciente disso, achei que já estivesse pronta, sendo que ainda não estou.
Detesto quando me chamam à razão por verem algo que estou a tentar esconder de mim, por puro terror de me magoar, só que isso não inspira confiança, logo também não me permite confiar. Eu só recebo o que dou.
Foi bom levar esta chapada de luva branca, re-despertar, voltar para o que me ancora.
Não posso continuar a rejeitar os lados sombra como se fossem os inimigos. Eu torno-me minha inimiga quando só quero enaltecer as coisas boas. Ser vulnerável é, sobretudo, abraçar os lados sombra na mesma medida que os lado luz.
Nem tão pouco confundir ambientes tóxicos com assertividade e verdade. Ser saudável também dói na medida em que demanda ultrapassar o que nos bloqueia pelo processo. Disse algures no episódio que só por não ser bem tratada, não quer dizer que eu não tenha motivos para não o ser.
E a verdade, depois do que compreendi na quarta, é que o modo como me tratam é um reflexo de como me trato a mim mesma, do que inspiro a que me façam. Se não mantiver uma postura equilibrada com os meus valores, é normal que muitas relações desabem, eu me coloque sempre em causa e, por consequência, metade das pessoas com quem me cruze me repila.
Porque, de algum modo, eu também o faço sem me aperceber.
Okay que durante muito tempo confundi o saudável com o tóxico, desvalorizei-me….mas se de algum modo continuo a navegar pelas relações com este ar presunçoso, sabichão, na defensiva, confundindo-o com a verdadeira vulnerabilidade que tenho de explorar….como posso exigir tanto do que também não dou?
É assim que vos convido a escutar outras partilhas que deixei expostas no episódio mais recente do Congresso Botânico. ❤️
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