A Reconstrução da Minha Identidade e Maturidade Capilar

Se, eventualmente, eu me sentir frustrada com o meu cabelo, quero que este texto contorne esse estado emocional. Não quero, de modo algum, voltar a criar barreiras contra o meu cabelo. Desde pequena que me incutiram um certo desprezo para com a naturalidade do cabelo africano. Muitos intitulam-no de feio e não apresentável.

E, assim, fui crescendo. Com a ideia de que a minha liberdade capilar representaria um descuido para com a minha aparência. Até que muitas pessoas começaram a falar dos seus cabelos, exibindo-os tal como vieram ao mundo. Com efeito, comecei a sentir-me mais confortável com o meu. Ou seja, valorizo-o pelo que é e pelas histórias que conta.

Alguns não compreenderão como é que algo tão simples impacta no quotidiano de outrem.

Contudo, criaram-se demasiados estereótipos que desvalorizam o cabelo africano. E, por consequência, eles são plantados nas mentes dos que possuem tal herança genética. Àqueles que, sucessivamente, transferem isso para os seus filhos através da educação. Acredito que muitas pessoas negras nem se apercebam do que estão a fazer. 

Afinal, condicionaram-nos a existir conforme regras sociais “adequadas”. Só que essas regras sociais, além de obsoletas, nunca fizeram sentido. Isto do ponto de vista de quem prioriza a dignidade e os direitos básicos humanos. Acho ridículo – sim, ridículo -, ao facto de haver sempre uma estratégia de nos podarem a autenticidade. Ao facto de agruparem seres humanos devido a características físicas, aceitando-os ou rejeitando-os.

Acrescido a este sentimento de estupefação, mais ridículo ainda foi a minha autoestima ter sido construída sobre uma fundação de areia. Cresci a acreditar que jamais seria aceite por andar de cabelos ao ar. E, se o fizesse, achava que teria de preparar um mega discurso, de modo a explicar por que tenho o cabelo assim. Assim, natural, existindo só porque sim.

E a verdade é que me comecei a cansar de não me identificar com o que encarava no espelho. Então, decidi enveredar pelo caminho mais simples. O de abraçar quem sou. Mesmo que tenha imenso para aprender sobre rotinas capilares para cabelos africanos.

Atirei, portanto, muita coisa pelos ares. E assumi a responsabilidade pelo meu cabelo e a sua respetiva saúde.

A responsabilidade pela minha imagem, para que ela possa refletir quem sou eu… Embora eu ainda me esteja a descobrir. Por me respeitar, não me cabe a ideia de seguir um rumo delineado pelos demais, somente para os agradar. Não fui feita para isso. Nem eu nem ninguém.

Sou da opinião de que esta sociedade está doente. Doente a partir do momento em que nos vendem realidades e modos de ser que não encaixam connosco… Fazem-nos acreditar que não devemos experimentar o mundo, de modo a evoluirmos. E acho incrível como é que eu, pelo menos, arranjei muitas desculpas para me esquivar do que me orienta internamente. Admito-o, sem reservas, pois, procuro melhorar e superar-me.

Abraçar o meu cabelo pelo que ele é foi um dos passos. E muitos mais estão por dar! ♥

para ler…

O Poder da Representatividade, numa Simples Folha

A Auto Confiança da Mulher Que Se Descobre Negra

A Importância de Ter Deixado de Utilizar Alisantes

2 thoughts on “A Reconstrução da Minha Identidade e Maturidade Capilar”

    1. Tal e qual! O crescimento e amadurecimento são fatores que levam tempo… Mas quando nos apercebemos destas conquistas, damn, é tão bom!
      Muito obrigada, Andreia!!! ??

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