O assunto está a tornar-se tão sério que acabei de imprimir um manuscrito de um dos livros que estou a desenvolver. Não que isto fosse um segredo e que, do nada, suscite reações de admiração. Nada disso. Creio não ser segredo o facto de estar estampado na minha cara o desejo de publicar livros. Histórias. Algo que faça sentido e que impacte o mundo.
Ao longo da minha adolescência, escrevi desenfreadamente por todas as folhas soltas que encontrasse. Desenvolvi narrativas que, até hoje, mantenho guardadas. Mesmo que não as revisite com frequência, ainda se me palpitam as sensações da época. As noitadas enquanto escrevia sentada na cama e de caderno ao colo.
O rubor de quando passava tudo a limpo e publicava pelo facebook, no social spirit ou no wattpad. A alegria de acompanhar outras fanfictions e observar o crescimento das minhas. Foi uma fase na qual transcrevi quase tudo o que eram fantasias, a maior parte destinada ao meu ídolo da época. Coisas de adolescente.
Questiono-me, no entanto, o que é feito dessa energia criativa. Dessa Carolayne. Essa mesma, que escrevia com o sonho de publicar livros, mas que não se exigia tanto. Que será feito desse sonho? Será verdadeiro, autêntico, ou o que em mim habita é a sombra do que acho querer realizar?
Se tenho este sonho e se ele é genuíno… Então, por que me cobro tanto? Por que simplesmente não aprecio todo o processo e me entrego, sem pensar no futuro? Sonhar não deveria suscitar sensações de leveza, liberdade, ao contrário do que tenho colhido nos últimos tempos? Desse modo, creio faltar-me compreender de onde surgem tantas cobranças.
Desejo descobrir a partir de que momento é que me comecei a condicionar e o porquê. Porque é assim, eu quero mesmo muito publicar livros. E o que estou a desenvolver, de momento, reflete como tem sido ter consciência das minhas experiências amorosas. Estas presentes 11.200 palavras trouxeram ao de cima quem sou eu quando me apaixono.
E posso, desde já orientar, que me sinto chocada pela repetição de certos padrões, chocada pela oportunidade que lhes concedi de me roubarem tanto de mim. Em puro choque por me ter deixado levar tanto.
No entanto, tem sido uma jornada bastante importante para o processo de perdão. De aceitar o meu perdão para com as decisões e armadilhas nas quais me meti. De modo consciente e inconsciente. Torno-me bastante ingénua quando os sentimentos me caçam. Não sei como é contigo, mas apesar de me mostrar como uma fortaleza, o facto é que acumulei muitas feridas.
Ao contrário do que julguei ao longo destes anos, tornei-me numa pessoa muito frágil. Capaz, até, de temer sentimentos. Recuso-me por medo. Um medo de não conseguir sair dessa espiral de mágoas, sem nunca ter a oportunidade de expor a minha verdadeira e bela vulnerabilidade. Quis tanto apaixonar-me, que acabei por simular isso.
Se me apaixonei, em 22 anos, foi por três vezes. Em muitas, muitas vezes. Reconheço-o, agora… A paixão que me inspirou a escrever mais de metade deste livro em construção é uma que me custou a ultrapassar. Até que eu admitisse que o que agora vivo é uma lembrança daquele tempo, de modo a me inspirar… Foi uma autêntica viagem. Já lhe escrevi uma carta.
Escrevi-lhe uma carta com a mensagem que achei necessária, dobrei-a e queimei-a. Digno de um ritual de cura.
Já não dependo tanto dela, ainda que lhe prefira direcionar todos os desabafos de carácter magoado… Revoltado e choroso. Suponho que a vida de um artista assim o seja, sobretudo quando vive intensamente. Este livro ensina-me, igualmente, a entender porque é que, daqui adiante, deverei escutar a minha intuição e não as opiniões externas.
Por muito que valorize o lugar de onde partem, a verdade é que muitas delas me fazem sentir pior do que o contexto em si. Levam-me a acreditar que eu estou errada por querer amar tanto. Errada por me querer conectar. Por anos, julguei que fosse uma consequência proporcional às minhas tentativas. Todavia, hoje, reconheço que o meu mindset, construído com base nas opiniões externas, resumia tudo como um erro.
Afinal, sempre me deram a entender que eu é que procurava sentir-me assim. E só depois de começar a fazer terapia é que me foi dito que as decisões de outrem não são culpa minha.
Que está tudo bem em eu querer conectar-me com pessoas… E que se o deixei de fazer, foi por medo de me magoar novamente… Daí que recuperar o trabalho desenvolvido neste livro e dar-lhe continuidade tem sido essencial para me livrar do passado. Para que eu possa respirar sem sentir qualquer peso no peito. Visto que, por norma, a escrita ajuda-me a relaxar, por que não extrapolar essa ligação? Mal posso esperar para terminar este manuscrito e partilhá-lo com o mundo.
Quem sabe, muitos se identificarão e terá valido a pena criar uma rede de compreensão e empatia! ♥
já que chegaste até aqui, convido-te a ouvires este episódio do meu podcast, onde também falo sobre escrita!
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