Sou suspeita ao falar deste assunto. Ao longo da minha licenciatura, tive uma cadeira na qual tínhamos de pensar em arquitetura, do ponto de vista teórico. Como tal, e se não me falha a memoria, um dos temas para comentarmos era sobre o conceito de casa. Não que esta questão para o Verde de Flora tenha surgido dessa experiência na faculdade. Aliás, foi uma amiga que mo sugeriu, para este exato projeto.
E eu, como adepta do pensamento, dou por mim a cogitar imenso acerca dos conceitos de casa.
Não só por gostar de teorizar arquitetura, mas por ser um tema que tem diversas interpretações. Além do espaço físico, que demanda, igualmente, um raciocínio importante do ponto de vista social e psicológico, uma casa, para mim, é também estar nos braços de alguém querido. É receber abraços quando os peço, ou quando mos são dados por pura vontade.
São momentos de gargalhada junto das minhas pessoas, independentemente do local onde ressoe a nossa alegria. É, de igual modo, sentir-me confortável para expor a minha vulnerabilidade, dar a conhecer as minhas inseguranças e iniciar um diálogo mais íntimo… Mais sincero e aberto. Sinto-me em casa de todas as vezes em que fecho as portas do quarto, acendo a vela e o incenso, e converso comigo mesma.
Do ponto de vista espacial, considero uma casa quando todo o meu corpo entra num estado de paz e começa a magicar no que fazer ali, com toda a liberdade possível. Sim, quando me sinto ainda mais livre, considero-me em casa. Inegavelmente, meu corpo é a minha casa… Apesar de não o ter visto como tal, por muitos anos.
“O importante não é a casa onde moramos. Mas onde, em nós, a casa mora.”
Mia Couto in “Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra”
Curioso ter começado a ler este livro do Mia Couto, dias após iniciar este rascunho.
Esta pequena nota introdutória de um capítulo despoletou-me uma sensação de confirmação. De facto, não importa onde nos situamos, mas sim o que carregamos em nós. Quantas vezes é que já não me senti desconfortável em locais que, supostamente, dariam uma boa casa?
Isso deve-se à correspondência que não ocorreu entre o que em mim habita e o ambiente de determinado espaço. E não há nada de errado com isso. Uma casa, para mim, é um espaço no qual eu me veja refletida. Onde eu me possa refletir, seja pelos pequenos ou grandes detalhes. Igualmente, a casa são as memórias que guardo de tempos que não se permitem ser medidos.
É, sem dúvida, o conforto que sinto e despoleto por onde quer que passe.
A clarividência que estimulo ou que estimulam no meu entendimento. Claro que considero um meio verde como uma casa. Uma mata. Um jardim. A beira-rio ou mar. Tenho mais pessoas como casa do que propriamente espaços, pois, reconheço que, com elas, jamais faltará felicidade. É isso, a alegria no fundo do olhar quando partilho momentos com os que amo. Uma casa, portanto, são momentos e ocasiões que me inspiram a viver com plenitude.
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