sobre o EP63 – mulheres com barba
Cresci muito influenciada por complexos físicos. Primeiro que soubesse como lidar com as questões de peso, foi com muita agitação que percebi que teria de lidar, igualmente, com o facto de ser uma mulher com barba. Foram precisos anos até descobrir que isto é uma disfunção hormonal e que tem um nome. Hirsutismo.
Além disso, pode também agravar-se se eu não tiver os devidos cuidados com o meu corpo. Descobri, já tarde, sobre a importância de cuidar dele como tratamento e prevenção deste e de outros problemas. O meu médico de família da altura nunca me soube orientar, nem tão pouco a endocrinologista que me diagnosticou.
Este assunto dos pelos sempre foi muito complicado para mim.
Tenho viva na memória a quantidade de vezes em que me privei de me expor; em que debaixo de um calor insuportável, não via outra solução que não a de me tapar com um lenço no pescoço, tamanha a vergonha de ter barba. Não foi fácil. Por vezes, ainda não o é.
Tornou-se, no entanto, menos cansativo lidar com isto quando descobri que também outras mulheres passam pelo mesmo. Além das estratégias que aprendi como a depilação com creme e não lâmina, uma boa hidratação, abraçar que é mesmo assim. De tudo o que compõe esta minha jornada, a que me trouxe mais esperanças foi a medicina chinesa.
Tratei-me, por um ano e pouco, com um especialista na área, tendo sido a primeira vez em que realmente vi e senti o meu corpo a transformar-se para melhor. Mesmo que a vida tenha dado voltas que me afastaram do tratamento, guardo a vontade de o retomar, mergulhando ainda mais na postura que preciso de ter para obter resultados positivos.
Nunca tinha falado abertamente desta questão por variados motivos:
- vergonha;
- medo;
- inseguranças;
- falta de informação;
- um pingo de paranoia.
Só que, quando o algoritmo do meu instagram me impressionou, não me consegui manter calada.
Expus-me de modo resumido nos stories, recebi feedback de outras mulheres e, naquele momento, relembrei-me do que aprendi em terapia. Relembrei-me da importância da partilha como fonte de informação e em como, ao longo do meu crescimento, isso teria feito toda a diferença.
Foi numa tarde de sol que me sentei para gravar o episódio 63, “mulheres com barba”. Foi o primeiro dia de uma gripe que só agora me está a dar tréguas, com uma chávena de chá na mão, o canto dos pássaros, a casa vazia.
Jamais imaginei que este tema me ajudaria a pensar noutros de igual importância, daí gostar tanto de gravar cada vez mais para o congresso botânico. É por esse amor que, uma vez mais, te convido a ouvi-lo. Pode ser que sintas um pouco mais de coragem para partilhares complexos que, de igual modo, te petrificam determinadas ações.
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