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MEDITAÇÕES | Mudanças na mentalidade

10 de Agosto, 2022

Não tem sido apenas a resistência que aumenta, seja ela cardíaca, de mobilidade ou de força. É de igual modo a mental. Resistência mental. Ainda há pouco, nos meus monólogos do banho, apercebi-me de que muita coisa tem mudado além do meu corpo. Já não encaro o exercício como uma ferramenta exclusiva da perda de peso, visto que me refugio naquele espaço sempre que as dores das lesões se intensificam. Quando quero provar a mim mesma de que consigo fazer certos exercícios. Sempre que estou emocionalmente mais em baixo, idem.

O meu melhor boost de energia é transpirar naquela 1h30 que, por algum motivo, julgo que seja menos.

Paralelamente às mudanças físicas visíveis, o meu estilo também se tem alterado. Nunca fui miúda de saias e vestidos. Sempre os associei a um determinado tipo de pessoa, do tipo confiante que não deve nada a ninguém, das que poderiam vestir um trapo qualquer que, sem dúvida, lhes cairia bem. Por questões de insegurança, as minhas escolhas sempre recaiam nas roupas largas, principalmente fatos de treino, sweatshirts… Enfim, algo que me permitisse esconder o que eu não queria aceitar e que não queria que fosse visto.

A ideia de me produzir, de me amar através da roupa estava fora de questão. Primeiro que gostasse de ir às compras, o restante ritual ia ladeira abaixo mergulhando no mar de complexos que me constituem o espírito. Não que ainda não os aviste nas alturas de confiança baixa, contudo não é algo que se compare. Se antes não sabia como explorar esse oceano, agora aceito-o como meu e faço dele o que me apetecer. Incluindo como energia para treinar e mudar.

Isto de vestir vestidos é muito recente.

Começou aos poucos, quando me comecei a permitir vesti-los numa tentativa de ultrapassar o que quer que me impedisse de ver a minha beleza. Julgo que tenha sido mais para marcar os meus esforços da altura e que não me bastavam na balança. Quis experimentar além disso, quis entender o que mais seria possível do que tentar caber em roupa que me começou a escorregar pela cintura abaixo ou mesmo a esconder a silhueta que se começou a revelar.

Pela primeira vez, eu quis dá-la a conhecer. A mim. Ao mundo. A quem quisesse ver. Começou pelas blusas pretas, justas, de manga cava. Conjugava-as com calças de ganga, calções. Leggings estiveram fora de questão por longos anos por evidenciarem a grande barriga, por vincarem zonas que detestava ver ao espelho. Só fizemos as pazes quando o volume do meu corpo começou a diminuir, trazendo por consequência uma figura mais esbelta, diferente da que alguma vez tive.

As cores só começaram a surgir muito recentemente.

Nas roupas de casa eram evidentes. A conversa mudava de figura quando me imaginava nelas na rua. Por algum motivo, nunca consegui conceber um arco-íris nas minhas vestimentas; talvez pelo modo como eu encarava a vida, num tom de cinzentos. Só estou consciente disso agora, visto todo o meu percurso na terapia e o que tenho aprendido com as minhas e as experiências dos demais.

Nem todos os dias são de festa. Sem dúvida que há alturas em que só me quero esconder num pijama, trancar-me em casa e fingir que o mundo não existe. Só que isso nunca resultou, portanto não vejo porque resultaria agora. Agora que sei lidar melhor com as frustrações; agora que estou a aprender a redirecionar a ansiedade; agora que me sinto genuinamente bonita.

Reconheço que ainda tenho muito que aprender sobre o meu estilo, o que me deixa confortável, poderosa, confiante.

O percurso é tão longo quanto espero que a minha vida seja para continuar a partilhar estes devaneios. Apesar de tudo, tenho gostado imenso de me descobrir em peças que jamais conceberia. O desafio, daqui adiante, é o de finalmente entrar num conjunto de lojas e dar de frente com a realidade… De que já não preciso de ter medo do meu corpo, nem tão pouco de o esconder.

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