Complexo de Inferioridade e a Busca Pela Superação

Todo o processo de autoconhecimento é doloroso. Ora por não sabermos por onde começar, ora por nos perdermos mais vezes ao longo do processo do que quando o iniciamos. Bem sei o quão desafiante é acordar naqueles dias em que nada me apetece, em que vou contra os objetivos aos quais me proponho, colhendo sensações que prefiro evitar no quotidiano. Apesar de tudo, é uma jornada com as suas idiossincrasias belas.

Uma delas, portanto, é a de quando dou por mim a refletir em pensamentos e ações passadas e que, inegavelmente, impactam no meu pensar do agora. Exemplo tosco. A caminho da casa-de-banho cá de casa, tenho de passar pelo quarto dos meus pais. Lá, eles têm uma televisão e, particularmente no domingo, escalou-se-me uma cogitação: eu nunca tive uma tv no meu quarto. Para além de nunca ter precisado de uma, reconheço que houve uma altura em que construí essa necessidade, resultado de muito ter observado parentes e colegas da escola que tinham uma televisão no quarto.

Essa necessidade, portanto, rimava com algo mais: no fundo, eu não me queria sentir inferior aos outros por não ter uma tv no quarto.

Tosco, repito, contudo, um exemplo que poderá ter outras facetas. Aliás, que outros complexos eu já não alimentei com receio de ser inferior aos outros. O quão inútil já não me senti por não ter o que os outros tinham. Nunca pressionei os meus pais para que eu tivesse uma tv, embora com certeza os tenha pressionado em relação a outros assuntos. Sinceramente, não me vem nada à mente, pois, eles também nunca contribuíram para que eu adquirisse esse hábito de desejar o que os outros tinham.

Diria, até, que aprendi desde muito cedo de que nós nunca devemos almejar os pertences ou conquistas dos demais, visto que cada qual carrega as suas histórias. Essa educação impacta-me até hoje e, conforme me vou descobrindo e desenvencilhando do que não me serve, percebo com maior clareza a importância de estarmos resolvidos com os nossos desejos. Dependendo da fase das nossas vidas, poderá haver a tendência de nos remoermos por causa de fulano ou ciclano, todavia, até que ponto é que o problema são eles?

Não seremos apenas nós com os nossos complexos, aquela linha especial do menu diário, o nosso desejo a sussurrar tentações?

À parte das comparações intensas, há aquelas mais inconscientes de quando não nos escolhem para algo. De quando não somos o objeto de desejo dos demais. É fodido, não há expressão mais adequada. É fodido, porém, não é impossível de se superar. Consoante as nossas estruturas internas, por que não nos questionarmos de onde surge essa inferioridade, essa inutilidade? No lugar de apontarmos o dedo aos demais, desacreditando as suas conquistas, o que é que poderemos aprender com eles?

Claro que existem situações de sorte… Por outro lado, existem aqueles que têm de se esforçar o triplo ou o quádruplo para alcançarem determinado patamar. Já muito cansados, transpirados, talvez até atrasados do ponto de vista da idealização imposta pela sociedade… Óbvio que se torna mais fácil de nos rebaixarmos, no entanto, acredito que isso aconteça com mais frequência conforme a fragilidade dos nossos alicerces.

De onde é que viemos, afinal? Como era o ambiente onde crescemos? Como são os ambientes que frequentamos? Quem são as nossas referências? O que é que costumamos ouvir e como é que absorvemos essas informações?

E por aí adiante. Isto de por vezes termos de lidar com uma mega bagagem que poderia estar repartida, cansa. Cansa e há quem não o compreenda, ou por nem reconhecer as suas bagagens, ou por lhes retirarem a importância devida. É deveras cansativo apertar as mãos com os demónios e permitir que eles atuem como lhes dá na gana. Mas não tem de ser assim. Existem alternativas. Sempre.

Acredito que acima das respostas automáticas, derivadas de um acúmulo de traumas e inseguranças, deveria começar a prevalecer um sentido crítico direcionado para a superação diária. Pequenos atos de coragem e que, aos poucos, nos vão limpando a areia dos olhos. Trata-se de um exercício diário e que nem sempre correrá bem. Venderem-nos a ideia de que existem soluções mágicas dialoga mais com os problemas do outro lado do que com as nossas buscas e que são completamente naturais.

O que não é natural, portanto, é termos de conviver com alminhas que se aproveitam da nossa fragilidade, sugando o que resta e que por vezes nem sequer reconhecemos.

Por conseguinte, para além de demorado, é também um processo individual e que nos deve expandir, sempre respeitando os nossos limites. Merece ser partilhado, mas quando é da nossa vontade. Pertence-nos e não há quem nos possa roubar isso. Basta, então, que aprendamos a abrir as portas do coração para nós mesmos… E que não tenhamos medo do que vamos recolher! ♥

O que pensas sobre o assunto? Gostaria de ler a tua opinião! ♥

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