Quando é Chegado o Momento de Dizer Adeus

Não sei como iniciar este texto, nem tão pouco como o terminarei. Só conheço em mim a urgência de escrevinhar algo relacionado com o ato de dizer adeus, sobretudo pelo receio de o encarar, por vezes. Há quem não aprecie esta palavra. Aliás, para muitos, é preferível evidenciar um “até já”, do que empregar na intenção um nunca mais. Não me recordo de, em algum momento, ter cogitado no peso desta palavra.

Já a senti, nas suas diversas formas.

No arrastar silencioso e que caracteriza o afastamento daqueles que, outrora, nos diziam algo. No grito estridente dos que, às vezes, sentem que só assim as suas palavras serão escutadas. Nas ações do acaso e que não devem nada a ninguém, que não a eles próprios. Detestava a ideia de ter de me desvincular de situações, pessoas, emoções. Deixá-los ao corrente dos arquivos existenciais, para mim, era sinónimo de traição.

Contudo, remeti-me a demasiadas reflexões; a vida, por conseguinte, encaminhou-me por diversos níveis de desafios e obstáculos. Por engenho do desejo – ou contra ele -, lá tive de aprender que dizer adeus, que reconhecer que algo já não funciona para mim é, com efeito, tomar conta de mim. Não sou um depósito de emoções. Afinal, por muito que prefira guardá-las para mim, em certos momentos, torna-se impensável não arranjar meio de as expulsar. Quis eu muito que determinadas relações durassem; quis eu muito que certos momentos fossem eternos…

Todavia, não existe isso da eternidade.

A mente, por muito que a tente materializar, perde-se em espirais que não cessam… Sou apologista de que as respostas, as que realmente importam, vivem dentro de nós. Precisamos, somente, de as estimular, seja através da solitude, de convívios, de passeios pelo jardim ou à beira-mar. Consequentemente, o nosso corpo passa a vibrar perante despedidas que, inegavelmente, terão de acontecer. Perdemos a vontade. Aquilo ou aquela pessoa deixa de nos entusiasmar tanto quanto inicialmente.

O foco transfigura-se numa preguiça desmedida. O anseio de colocar as ideias em prática é substituído pelo anseio de abandonar aquele meio. Independentemente das motivações, há detalhes pelos quais lutar… Pelos quais tentar uma vez mais, só que com outra mentalidade. Porém, chegado o momento de dizer adeus, seja de crenças limitantes, inseguranças, loops de raciocínios, versões antigas de nós mesmos, projetos, métodos e hábitos…

Inevitavelmente, temos de erguer a cabeça e aceitar a despedida.

Deixar ir, esvaziar o tanque das lágrimas, dos gritos, das ansiedades, fazer o nosso luto e, aos poucos, trabalhar para que o sol brilhe, mesmo em dias de nevoeiro. Não digo que não custe; obviamente que sim! Somos seres humanos e por muito que tentemos escapar, não há como fugir destas arremessas sentimentais. Há, por outro lado, medos irracionais… Daqueles que quanto mais espaço lhes concedemos, pior nos fazem sentir.

Embora certos adeus sejam inevitáveis, tantos não passam de inseguranças do passado e que projetamos para o futuro, dado que não temos mão de outra realidade. Ademais, conhecidas as arestas de certas causas-efeitos, a mente toda ela trapaceira e auto sabotadora, pisca possíveis desfechos e que, talvez, já não condigam connosco. Que, provavelmente, tenham sido a causa para certos términos…

Um medo que nos envolve, sufoca e convence, num acumular diário, que aquilo vai acontecer novamente, pois, por que raio não haveria de assim o ser?

É outra coisa que tenho aprendido: que alguns gatilhos não passam disso mesmo, e que depende de mim e da minha vontade contorná-los e fazer diferente. Sempre com o meu bem-estar em mente, sempre. A esperança, outro fator que tenho vindo a trabalhar, tem assumido diversos tons no meu dia-a-dia, no modo como ajo, penso e pratico a gratidão.

Tenho medo que certos adeus me invadam o quarto pela janela, que me impeçam de sequer dar início a uma aventura. Admito-o. Não obstante, ter esperanças quanto ao facto de, também eu, ter o poder de alterar ou jamais dar de frente com certos desfechos permite-me expandir raciocínios, entregar-me a determinados sentimentos e viver cada ocasião em perpétua comunhão com as minhas facetas conflituosas. Equilíbrio, como lhe costumam chamar.

Entre o que já passou, os traumas que vou resolvendo, as feridas que vou cosendo e o espaço que vou criando para tantas mais, já que tê-las é uma condição natural.

Seja como for, não passa de mais um processo de autoconhecimento. Não me posso queixar, uma vez que procuro, incessantemente, questões novas para enfrentar e, a partir dali, melhorar-me. Tenho transitando imenso nessas fases… Entre a fase de alienação, a de descoberta e, em seguida, a de cura. Nem sempre por esta ordem, mas enfim! Recentemente, reconheci este medo de que te falei. Permiti que tomasse conta de mim e me virasse do avesso. Sacodi folhas desnecessárias e criei espaço para novos brotos. Eternamente, assim o será.

O mais bonito, até, é ir apontando e partilhando estes pensamentos, para que outros não se sintam assim tão sós… Para que eu não me sinta só! Hoje, falei do meu medo de certas despedidas… Amanhã, não sei o que a vida me reserva. Acima de tudo, farei por cumprir com o maior objetivo que conservo em mim: manter a paz de espírito, sentir-me alegre e fazer por ser feliz!

Ultimamente, quais têm sido os teus maiores medos? ♥

4 thoughts on “Quando é Chegado o Momento de Dizer Adeus”

  1. É sempre complicado dizermos adeus, mesmo que tentemos ser racionais e saibamos, à partida, que é algo necessário, para que possamos continuar a nossa caminhada. Mas custa porque parece-nos definitivo e porque permanece sempre a dúvida de o estarmos a dizer no momento certo

  2. Pingback: Fazer o Luto pelas Diversas Fases da Nossa Vida | imperium blog

  3. Pingback: Quando Algo Não Vai ao Encontro do que Esperamos | imperium blog

O que pensas sobre o assunto? Gostaria de ler a tua opinião! ♥

Scroll to Top