A MORTE DA INGENUIDADE – UMA REFLEXÃO EM JEITO DE DESCOBERTA

Perder a ingenuidade de ser não influencia, somente, as nossas atitudes para com o mundo. Ter consciência da mais ínfima atividade celular é capaz de arrasar, também, com a nossa capacidade de dialogar verbalmente, por escrito, abalando a nossa estrutura de pensar, com os alicerces poéticos que nos aguentaram por anos e anos, aqueles mesmos que nos permitiam enxergar o monocromático como sendo uma paleta de cores, qual arco-íris que nos convence a seguir o seu caminho circular num sorriso estampado no rosto. A ingenuidade, muitas das vezes, é aquela chama da fogueira que nos cutuca a tomar uma decisão, por mais difícil que se pareça, apenas por não nos munirmos da noção de que aquela atitude, aquele passo, poderá ser um frcasso, uma facada no tempo e que o faz se ausentar de si. 
Ter consciência é uma espiral maldita de intenções inseguras, de medos irracionais e de manifestações pouco genuínas, pois damos por nós a racionalizar todos os pensamentos, todas as nossas ações, cada linha que constitui o nosso quotidiano. A vida não é uma agenda, tal como não deveriam ser os nossos anseios. Porquê adiar, evitar, não cruzar os desejos, porquê nos limitarmos às ideologias às quais nos querem oferecer como petisco, em detrimento do nosso arbítrio, aquele mesmo que fomos conquistando, sorrateiramente, até aos dias de hoje? O inimigo não olha para nós do exterior, o inimigo somos nós e só o encaramos ao espelho. 
Perder a ingenuidade, ou melhor, permitir que ela escorra tela fora, esbranquiçando todo o percurso que delineámos, muitas das vezes de modo conturbado, aproxima-se de um crime a nós próprios, dado que alcançando um patamar, dificilmente nos abrimos às vivências. Contra mim falo, contra mim denuncio esta proeza de espécie, contra mim declaro esta guerra para lutar pelas matizes que, outrora, me permitiam rasgar os céus e perscrutar o inimaginável por detrás do horizonte. Pouco pensar, muito pensar, pensar por pensar, esta frase soa tão confusa como a minha mente que, incessantemente, se tenta despojar das limitações que esta privação imprimiu em mim, por cada aresta orgânica que se me levanta e prensa contra a gravidade. 
A ingenuidade é aquela carência da qual sentimos falta, sem saber ao certo do que se trata. A ingenuidade não se adequa, apenas, às crianças, ou às pessoas que não parecem saber do que dialogam. A ingenuidade é um estado de espírito que nos auxilia a abraçar cada uma das condições desconhecidas que nos afagam, e deambular por elas, tamanha a curiosidade e o fascínio. Em mim, será adequado afirmar eu me ter desorientado dos passos desta coreografia imprevisível, mas como boa dançarina, o que me falta é concentração e confiança. Bastar-me-á erguer os olhos e encarar a ingenuidade através da sua alma, para a compreender e me compreender a mim. Bastar-me-á me esbarrar com o pedaço de mim que se desgrudou e, com ele, partilhar desta dança.

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