Por vezes, esqueço-me de como escrever, ao ponto de reler os meus próprios textos. Não sei se é algo comum a quem tem este hábito da escrita, mas a verdade é que eu mesma estranho estas minhas rotinas. Não sei, até certo ponto se torna estranho quando nos colocamos a pensar nos inícios de cada texto e do quão aleatório é o facto de nenhum deles começar da mesma maneira, ou pelo menos, quase nenhum. Trata-se de um fenómeno bonito, assustador, algo de outro mundo – se é que ele existe -. Tal como os textos, viver nesta montanha-russa tem o que se lhe diga.
Existem momentos pautados de certeza, em que nos vemos bem encaminhados pelo mapa que temos nas mãos, mas depois há certos caminhos que constam no mapa e não no mundo físico, arruinando os nossos planos. Atualmente, é assim que me encontro: sei para onde quero ir, mas andei tanto tempo focada nos planos delineados que me passou completamente ao lado a alternativa de os refazer, porque se existem regras, é para elas serem transgredidas. Vá, algumas delas. Sinto falta de algo, de alguém. Seria um erro fatal vir aqui me pronunciar como alguém solitária – coisa que não sou, na verdade -, embora certos momentos me obriguem a agir como tal.
Sei que não dará em nada viver por cima de um disco riscado, à espera que ele me ofereça as mesmas melodias, mas o facto é que me encontro cansada dessas mesmas melodias. Sair para procurar não será uma solução, tendo em conta que o vazio que eu sinto não se resolverá com uma busca. Isso seria irresponsável, com toda a certeza um ato de desespero. E eu não estou desesperada. Apenas existem dias em que o aperto é tanto, o sufoco um exagero de existência, que eu sei que seria bem mais fácil se eu tivesse alguém com quem partilhar estes
vai-vem sentimentais. Porque eu cheguei a um ponto em que já reconheço de que não posso nem devo carregar o mundo às costas, sozinha. Para além de magoar a lombar que já não anda boa, é cansativo.
Uma mão lava a outra e por vezes faz bem ter algo mais… Embora eu não saiba o que isso seja… Não deixa de ser fascinante conviver com a necessidade de me impor como alguém livre, ao mesmo tempo em que de vez em quando algo se incendeia com um desejo de não querer estar sozinha. Serei uma eterna curiosa no que toca a esse assunto e calhou vir aqui despejar o que me vai na alma. Andar a privar-me de o fazer é o que de certa maneira me tem convencido de eu já não saber escrever como antes. Com garra, paixão, uma certa inocência…
Ter os olhos cada vez mais abertos – e míopes, por sinal! – é uma faca de dois gumes: ou aproveitamos as lições que nos surgem e construímos uma vida com base nisso, ou nos enterramos cada vez mais, à medida em que abrimos a própria cova. Chega a ser ambíguo e paradoxal pensar nisto. De verdade. E acho que já está na hora de parar. Sei que de tanto ansiar desenrolar a linha de pensamento, ela se embrulhará mais e aí será o caos. E eu não quero chegar a viver no caos. Se é que já não me encontre por lá.
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