Na vida real, a morte não se torna intermitente

Nunca julguei que chegaria a este dia. Ao dia de escrever um texto a falar de alguém que já não está entre nós. De todos os seres humanos existentes no planeta, eu julguei que estaria insenta dessas fatalidades, qual inocente. Afinal, se nunca me havia acontecido, talvez nunca o viesse a suceder. Não digo o que digo como alguém ingénuo, que vê a morte como um tabu; não, se há mantra que eu repito para mim mesma é o de que existe solução para tudo, menos para a morte. Na verdade, esta é a frase que adotei dos meus pais e eles têm razão. A partir do momento em que a pessoa parte, já não há nada a fazer.
Chorar é a reação mais óbvia, mesmo que a vítima não nos seja próxima. Se sentimos empatia, havemos de deitar um par de lágrimas e seguir com a vida. O problema é quando a pessoa nos era próxima, pelo menos, até certo ponto. Ela era uma amiga com quem me dei nos meus anos de adolescente, unidas por uma única pessoa: o Bieber. Conhecemo-nos online, tal como eu conheci a Beatriz e a Mars; no nosso primeiro concerto, aquele abraço soube a ouro; trocámos cartas, oferendas, sorrisos, palavras gentis e de conforto. Ela sempre foi muito boa a escrever histórias e foi inclusive uma das pessoas que mais me inspirou a descobrir a minha escrita…
Aconteceu tanta coisa, entretanto… A faculdade aconteceu, a vida aconteceu, as pessoas aconteceram. Nada justifica o nosso afastamento, nem tão pouco esta fatalidade, porque honestamente, existem milhares de possibilidades para tal e isso é o que me está a chatear. Não me chateia o facto de ela já cá não estar, mas sim o facto de eu não ter lá estado quando eu sabia que ela precisava, como sempre precisou. Falhei, não dei tanto quanto poderia ter dado, pensei em demasia nas mensagens que lhe poderia ter enviado, sem as ter enviado.
Dói para caralho e, infelizmente, já não posso fazer nada por ela. Contudo, posso fazer por aqueles que ainda aqui estão, incluindo eu mesma. Posso evitar stressar-me sem necessidade. Posso começar por deixar de ter preguiça de prestar contas ao universo. Posso deixar de ter medo de agir pelo meu bem, correndo atrás do que é melhor para mim. Posso mandar mensagem a todos e preocupar-me ainda mais. Posso, de igual forma, livrar-me do rancor e tornar-me mais leve.
Há tanta coisa pela qual lutar e ela tinha uma vida pela frente. Ela estava a tirar o curso de educação e eu acredito que ela daria uma ótima professora, se fosse esse o seu sonho. Também sei que ela daria uma ótima escritora, alguém de sucesso. Dói saber que aquilo que nos uniu deixou de ser o suficiente para a manter por cá. Dói saber que, tal como ela, existem muitos que perdem a vida, de um dia para o outro. E dói, ainda mais, quando nos apercebemos incapazes de evitar que tal aconteça.
Independentemente de existir, ou não, um outro lugar, guarda-la-ei no meu coração e no meu pensamento, dure o que durar. Não garanto que seja para sempre, pois, tal não existe, mas sei que a recordarei como a miúda que dizia as melhores piadas, como a miúda com as melhores histórias, como a miúda com um grande senso. Ela pode já não existir fisicamente, mas continuará a existir enquanto nós, os mais próximos, nos recordarmos dela! ❤️

1 thought on “Na vida real, a morte não se torna intermitente”

  1. Doce Lyne, li isto com o coração bem apertadinho e senti cada letra que escreveste. Lamento mesmo muito que já saibas qual é a sensação de passar por isto, porém, não saberia lidar melhor do que fizeste e acho linda esta reflexão que fazes em memória de uma pessoa que te é tão importante. Um beijo enorme e sabes que podes contar comigo <3

O que pensas sobre o assunto? Gostaria de ler a tua opinião! ♥

Scroll to Top