Impossível não pensar nisto. Sempre frequentei escolas onde maioritariamente estudavam meninos/as brancos (quanto a isto, falaremos no futuro!), tenho espelhos pela casa e imensas vezes desejei ter outra pele e experimentar como seria ser branca. Sim, já me senti assim ao ponto de me questionar se sou a segunda opção de alguém por ser negra. Felizmente, nunca me ocorreu sentir isto em termos escolares, mas nunca me foi indiferente gostar de alguém, escutar da sua boca que ele nada queria de relações e, nas semanas seguintes, estar envolvido com alguém, da sua raça. Não sei se por acaso, mas eu nunca fui a escolhida dos rapazes e sim, já tive o orgulho furado à pala disso.
Encarem este texto como quiserem, porém, se vos escrevo com tamanha sinceridade, é porque estou de consciência tranquila por já ter ultrapassado este incómodo e já ter descoberto as razões que me levavam a questionar as minhas relações com o meu tom de pele: até há pouco tempo, eu não me valorizava o bastante e era-me muito mais fácil culpabilizar os demais, no entanto, não deixa de ser uma questão válida e que, de quando em vez, merece ser colocada: serei eu, ou tantas outras raparigas/mulheres, a segunda opção por serem negras? A auto depreciação cheira-se a quilómetros de distância.
Parece que quando duvidamos do nosso potencial, os que nos rodeiam tomam isso como desculpa para se auto bajularem e se aproveitarem de nós (falo “nós” seres humanos e não especificamente da raça negra). E eu me cansei disso, de sentir piedade de mim e de sentir que necessito da aprovação dos outros para ter a liberdade de ser quem estou a trabalhar para ser. Com os espelhos que tenho em casa, aprendi eu a fazer as pazes e tentei compreender se o problema era eu ou as minhas escolhas. Todos de quem gostei me respeitavam o suficiente para nunca me virarem as costas enquanto amigos, ou pelo menos, assim o tentavam. Quanto a este assunto, o que me acalma o coração é ter olhos para ver que já existe muita diversidade, muita representatividade a ser aceite.
No tempo dos meus bisavós, por exemplo, uma negra se envolver com um branco era um completo ultraje, ao ponto dos filhos não serem baptizados com os nomes dos pais e somente com o das mães. Menciono isto com tamanha propriedade porque esta é uma das histórias da minha família e esta realidade deixou de me assustar quando me apercebi numa outra, onde posso sim ser aceite e contemplada por quem quer que seja. Para além das questões de raça, tenho também reservas quanto ao meu peso, mas acerca disso, debateremos depois. Este desabafo merece existir por três razões:
#1 Há imenso que estou para expor um pouco mais da minha realidade enquanto mulher negra; #2 Porque eu sei que existem tantas outras mulheres negras que se sentem sozinhas acerca deste tipo de assuntos; #3 Para que, futuramente, eu possa reler isto e me certificar de que conquistei imenso nos últimos anos.
Fui chacoalhada em relação a este tipo de assuntos quando, na conversa com uma amiga, ela mal fazia ideia de que eu me pudesse sentir assim, com este tipo de inseguranças. Para além de raramente falar disto – algo que faço bastante mal! -, por puro acaso, quase todas as pessoas com quem me dou, dão-se com pessoas de raças e culturas completamente diferentes das deles e isso é de imenso valor! As oportunidades surgem quando trabalhamos por elas e o tom de pele jamais deveria ter sido um muro que nos separa do restante mundo. Não guardo rancor de ninguém e é com orgulho que me reconheço filha, neta, bisneta e por aí adentro de pessoas negras e brancas. E é com toda a dedicação que eu desejo que muitos se possam sentir, também, assim.
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Titica Deia
27 de Janeiro, 2019 at 9:27A cor da pele só existe para quem repara!