BAIXAR A GUARDA. SER VULNERÁVEL.

 
 

Por anos, tentei passar a imagem da miúda insensível, cujo mecanismo de defesa nada mais era do que me lançar fisicamente a quem quer que fosse que me desrespeitasse. Sem me ter apercebido, acabei por absorver traços da agressora que tanto abusou de mim no primeiro ciclo de estudos, manifestando-os para evitar ter de sofrer o que sofri. Não sei se por tratamento de choque, mas no sétimo lá me acalmei e comecei a levar a vida numa boa, na tentativa descomunal de resolver as desavenças apenas com a conversa – e sem gritos, obviamente.   

Não omito existirem dias em que se torna inevitável esta vontade de partir à chapada para cima de certas pessoas, no entanto, o segredo sempre foi manter o máximo de distância de pessoas nas quais deteto a potencialidade de trazerem ao de cima o pior de mim. De todos os aspetos que tenho vindo a trabalhar, esta característica é a que menos quero mudar ao ponto de desaparecer, exatamente por ser das que mais me protege do mundo.

Tamanha introdução para chegar a este ponto:

De tanto me ter fechado com receio de ser feita de saco novamente, eu fui desenvolvendo nuances de uma personalidade que não era, de todo, minha.  Dizem-me, e reconheço como verdade, o facto de ser boa pessoa e uma miúda dócil, porém, aceitar isso, até há pouco tempo, era impensável porque implicava admitir que foi por conta dessa docilidade que muitos faziam pouco de mim. Pior: admitir tamanha bondade seria, talvez, chamar as presas e me perder.

Tudo isto sempre me foi um grandessíssimo dilema, até recentemente, quando me permiti abrir o coração e deixar as pessoas que eu quisesse entrar e tantas outras sair. Com o tempo – digamos, desde o sétimo -, que tenho prestado suma atenção às minhas capacidades de escolha, surpreendendo-me cada vez mais.    Foi, aliás, numa das minhas sessões de meditação, que deixei cair a máscara e permiti toda esta afluência de idiossincrasias me domar.

Chorei, solucei e me pedi perdão por todas as vezes em que me fui roubando da minha verdadeira essência.

Naturalmente, eu sou uma pessoa sociável, alegre, simpática, que gosta de se meter com os outros e de os fazer rir. Quando acordo pela manhã, e excetuando os dias em que durmo mesmo mal, eu sou pessoa de gritar “Bom Dia” à vizinhança e me fazer à vida prontamente. Não sei que espírito é que se me assomou do corpo, mas aquela antipática, gélida e inconformada Carolayne não era eu. E se o era, de facto, tenho aprendido a deixar de o ser. 

Abrirmo-nos à vulnerabilidade não tem de carregar em si uma conotação desagradável. As nossas experiências só o são assim quando somos nós que construímos os obstáculos. Sempre clamei ao Universo pelo melhor para mim e para os meus, contudo, ultimamente, é que decidi abrir as portas do meu coração e da minha alma e deixar tudo entrar. A bem ou a mal, intimamente lá acabei por seleccionar o que deveria ficar e tem sido extasiante não sofrer pelo passado, nem tampouco por antecipação.

São lições que oscilam de um extremo ao outro e que só se tornam vantajosas quando lhes concedemos esse título. Ser vulnerável, em certa medida, não é mau de todo!

5 thoughts on “BAIXAR A GUARDA. SER VULNERÁVEL.”

  1. Tão bom 🙂 também faz parte de escolhermos as nossas batalhas, não é? Acaba por ser mais fácil libertarmo-nos do que nos faz mal – e às vezes são traços que temos em nós mesmas. Olha, que 2019 te traga ainda mais paz e mais vontade de gritar "Bom dia!" ao mundo 🙂 um beijo!

    Jiji

  2. Pingback: DICAS PARA SE COMEÇAR A MEDITAR | imperium blog

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