Os dias não têm de começar da mesma forma, por muito que nos faça sentido que assim se suceda. Lá porque queremos manter a rotina diária e não sucumbir na espiral do nada fazer, do acumular de tarefas, do armazenamento da ansiedade, não quer dizer que tenha de ser uma regra. E se assim o for, as regras existem para serem quebradas, desafiadas, substituídas por outras mais sensatas e concebíveis do ponto de vista moral. Mesmo que não tenha passado por um processo de readaptação no que toca a esta coisa do isolamento, estou a utilizá-lo a meu favor, aproveitando esta época para criar uma rotina que me diga alguma coisa e que me permita reforçar o que raio é que quero do futuro e como alcançá-lo…
Mesmo com o ano sabático a protagonizar no palco que é a minha vida, esta pandemia tornou a possibilidade de estudar online mais palpável e aceitável do que eu queria fazer por acreditar. Por dar a acreditar. Este tempo longe dos meus está-me a ajudar a compreender que a internet é uma mais-valia para quem quer continuar a estudar, mas não quer dispensar rios de dinheiro, sabendo como funciona o sistema de ensino dentro de uma faculdade. Gostei da maior parte do tempo que lá dispensei, mais pelos contactos que criei, mas isso não implica a que eu tenha de lá regressar para me tornar numa Mestre do que quer que seja. Não agora. A maior quebra da rotina que eu levava desde Julho foi ter sobreposto outra melhor e, a partir dessa, reinventá-la.
Voltei a estudar. Estou a estudar assuntos do meu interesse e que hão de me fornecer as ferramentas necessárias para encontrar as respostas que, incessantemente, eu tenho procurado que nem louca. Dou prioridade aos treinos, à dança, à culinária, à meditação… Ando a redescobrir quem sou eu enquanto máquina de histórias, quem sou eu enquanto artista e criadora de conteúdo. Tem sido uma aventura, na verdade. Ultimamente, ando a sentir músculos no corpo que nem sabia que ali estavam localizados, ando-me a alimentar de modo a que não me falte nada no organismo, gasto e reponho os líquidos que fazem de mim humana.
Acho que nunca antes gostei tanto da sensação de corpo partido após um treino e da roupa humedecida enquanto consequência. Tenho escutado muito boa música, ando a explorar álbuns que já andavam na pasta de downloads do Spotify e tenho-me deixado deliciar…. Deliciar pelo facto de todos os dias serem adequados para experimentar coisas novas, repetir outras que me fazem sentido, para descansar a cabeça e permitir que a mente fique quieta, sem as vozes do costume. Deliciar por andar a confirmar de que todas as ideias são válidas, desde que trabalhemos por elas, e que a minha melhor companhia sou eu. Mais do que nunca!
Tenho fotografado e feito por não as editar tanto, aprendendo a prestar atenção aos detalhes que deteto por detrás da câmara e antes da captura, preconizando a luz, a composição, o quotidiano tal como ele é. Apesar do silêncio lá fora, apesar das dúvidas e do medo, não obstante o desconhecido, sinto-me positiva. Calma. Esperançosa. Nas entrelinhas, vou explorando as surpresas que todos os dias têm sempre para me oferecer – seja através de um novo capítulo daquele livro, um vídeo fresco daquele youtuber, um rasgo de sol no rosto enquanto recarrego as energias -… Lá porque tem nome de rotina não significa que tenha de ser tudo do mesmo. ♥
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O PODER DA SOLITUDE, ADOTADA CONSCIENTEMENTE
24 de Junho, 2020 at 19:03[…] qual nos estamos a despojar. Uns com mais calma, outros com uma sede incontrolável. De igual modo, não será a minha primeira, nem tão pouco, última menção do assunto. Contudo, e dadas outras circunstâncias, para mim, a […]