Os primeiros de Setembro

Há qualquer coisa nestes dias de transição, em que o verão deixa de ser verão e o outono começa a explorar o seu terreno, que me fazem lembrar de coisas. De sensações, sonhos, aleatoriedades. Apesar de não saber ao certo do que é que o meu corpo se começa a recordar, vou sentindo arrepios na espinha e nas pontas dos dedos, um sinal que por norma fala de coisas positivas.

Os primeiros de setembro são um mistério que não são tão misteriosos assim. Os dias, quero dizer. Eu sei, tu sabes, todos acabam por saber. Sabemos que este é o mês dos recomeços, das mudanças, dos acontecimentos que esperamos ver acontecer em janeiro mas que, tal como nós, levam nove meses a maturar antes de se revelarem.

Os corpos que, semanas antes, deambulavam semi-nus, vão sendo cobertos com finas peças de roupa, num joguete indeciso quanto ao momento certo de nos agasalharmos. Afinal, expostos ao sol sentimos o suor da testa que nos ancora em agosto e, na esquina seguinte, curiosamente amparada pela sombra de um edifício, somos transportados para um exemplo de inverno.

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Ainda assim, há qualquer coisa nestes dias de transição que me trazem conforto.

Não é só o casaco que me abraça, é também uma espécie de esperança de que mesmo alienada das grandes mudanças que aí vêm, sinto-me mais do que capaz para as abraçar. Tal como o casaco que me abraça, vencedor de uma batalha que tento ganhar, entre reconhecer que já não há condições para andar de ombros ao léu e aceitar que o mais seguro é precaver-me de gripes.

O ar carrega um odor misto, uma fornada recente de pão, a terra húmida em espaços verdes, o alcatrão queimado, os desejos de uma fome por matar. Nas zonas mais altas da cidade, sinto como se estivesse mais perto do sol… Ainda apegada às sensações de verão, às memórias de uma época de descanso, que são cortadas somente quando aperto o casaco para mais perto de mim e visualizo um chá quente entre mãos, as pernas cobertas por uma manta e a companhia de um livro ou uma série.

As cidades têm adormecido cada vez mais cedo.

Os pássaros, em bando, despedem-se de nós com o entusiasmo de quem procura o melhor para si. E nós vamos ficando, quedando no conforto dos pijamas, a matutar sobre como o ano tem passado a correr. Há qualquer coisa nestes dias de transição que me trazem conforto…e creio que acima de tudo, seja saber que continuo viva para presenciar esta beleza natural que nunca tem fim. Seja a de mudança de estação, quanto às que observo em mim.

O que pensas sobre o assunto? Gostaria de ler a tua opinião! ♥

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