sobre o EP67 – (in)sensibilidade masculina
Sei que enquanto mulher, não tenho moral para falar pela experiência do homem. Tal como criticamos quem se coloca num lugar de fala que não é o seu, devemos ter consciência do nosso. Posso não saber como é ser homem, contudo, nada me impede de abraçar o meu lado humano e questionar como deve sê-lo. Tanto por curiosidade como por escutar, nos meus círculos, pontos de vista que vão contra a ideia com que cresci deles.
Estou longe de conseguir expor o meu ponto de vista completo do assunto, pois além de ser uma perceção recente, não falei com todos os homens do mundo.
Só que dos poucos com os quais me cruzei, todos me despertaram uma necessidade de me sentar de coração aberto, questionar e falar pelos que não se expressam. Ora por receio, falta de experiência, inseguranças. É tão curioso como, enquanto mulheres, nos revoltamos com as expetativas que criam em torno do que devemos ser, fazer, pensar…
Mas sinto que raras são as que se tentam colocar, realmente, na cabeça de um homem que também cresce com complexos. Complexos que, provavelmente, alimentam o seu consumo excessivo de treinos, suplementos, uma auto-imagem tóxica… Que desenvolvem problemas emocionais que os dificultam de estabelecer relações saudáveis, com espaço para comunicação aberta…
No meio desta azáfama, que saibam respeitar o ponto de vista alheio, diferente do seu, quando crescem a escutar ser o “sexo superior”, longe de conhecer que cada indivíduo tem as suas capacidades, características e ofertas. Um homem sensível, que se saiba expressar, que chora em nome das suas dores, é tão apelidado de sensível quanto uma mulher que honra as suas emoções. É visto como fraco, pouco viril, inadequado.
E eu, que muitas vezes também pensei assim, agora sinto-me enjoada, triste, revoltada na presença destes preconceitos.
Afinal, para mim, não faz sentido algum que um ser humano, independentemente do seu sexo, género, identidade, seja impedido de ser o humano sensível que veio ao mundo para ser. Somos todos vítimas desta máquina social robotizada, machista, que nos quer manter no devido lugar, seja esse qual for. Por muito que a natureza nos tenha apurado os sentidos para defendermos a nossa espécie de modos distintos, a nossa consciência da morte amplia não só o nosso medo dela, como nos conduz mais rapidamente até ela.
É a nossa falta de capacidade em lidar com estas questões que nos condiciona a sentir, ser, desenvolver uma harmonia entre a espécie. E, nesta categorização do que o homem, a mulher, a pessoa deveria ser, dentro de um papel teatral que perpetuamos na nossa imaginação, afastamo-nos de grandes experiências de elevação existencial. Entristece-me quando descubro o quão difícil é para eles, de igual modo, de se entregarem.
De abraçarem o seu lado yin, de luz, do feminino que carregam.
Que se desequilibram porque, supostamente, deveriam ser os pilares mestre da sociedade. Provir sustento. Ser constantemente fortes, transformando-os em peças vazias deste jogo doentio de egos. Sabes o mais lixado? Quando desacreditam o à vontade e meu bem-estar com um homem que seja sensível, que se expresse, que chore, que seja genuíno, por não acreditarem que isso seja possível.
Visto que essa conexão com o emocional é sinónimo de fraqueza, um fio condutor para a destruição de uma tribo sólida. Em que momento é que nos tornámos tão frios, calculistas, desumanos? Como podemos pregar harmonia, parceria, desenvolvimento se estamos, literalmente, doentes? Jamais conseguiria compactar num texto, episódio, livro, filme ou newsletter a minha indignação quanto a este assunto.
Ainda assim, quero explorá-lo mais, falar com os homens da minha vida, conceder-lhes um espaço de entrega e comunicação para se poderem expressar, seja enquanto locutora das suas crises existenciais, como com a própria voz nas minhas plataformas.
Mesmo que detenha de todas as palavras auto-explicativas que ressoassem com a maioria do meu público, nada como respeitar o lugar de fala de cada um.
Nos últimos episódios do podcast, falei sozinha e abertamente do minha visão sobre (in)sensibilidade masculina. Daqui adiante, todavia, vou preparar-me para trazer quem queira partilhar a sua experiência. Não quero, com estas observações, desculpar ações masculinas impensáveis, desumanas, de um desrespeito pelos que os rodeiam. De todo. Falo, antes, pelos que também são vítimas desse ciclo vicioso de aprovação, muitas vezes silenciosa, destes atos imundos.
Até lá, convido-te a escutar os episódios, a cogitar no assunto, a retirar de ti como te sentes perante ele. Sem julgamentos, nem medos. Apenas como ser humano empático que almeja sentir esse apoio na sua vida. Não que seja uma regra, mas a partir do momento em que somos um exemplo de empatia, mais facilmente a recebemos dos demais.
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