Ao ritmo e compasso dos ponteiros do relógio

Engraçada esta coisa de andar de comboio. Como que instintivamente, cada pessoa parece saber qual o seu lugar, movimentando-se ao ritmo e compasso dos ponteiros do relógio. Este, criando um volume redondo que parece estar a fugir das garras das paredes, jaze no alto das nossas cabeças, cronometrando a rota do comboio, a sua chegada e partida. Se para o mesmo destino de onde veio, isso nunca chego a conhecer, pois, desço sempre a 1/5 do seu percurso.

Gosto de andar de comboio. Pessoalmente, é um dos meus meios de locomoção favorito, seguido de longas caminhadas e conduções pela calada da noite. O meu primeiro confronto com comboios, neste registo mais íntimo e recorrente, foi há coisa de dois anos, quando eu comecei a trabalhar no mesmo sítio ao qual regressei, há umas semanas.

Lembro-me como se não tivesse havido um intervalo de meses recheados de narrativas só minhas….

Tal como me apanho a fazer agora, na altura, eu dispensava imenso tempo a ler nas idas e vindas do trabalho. Além de conseguir colocar as leituras em dia, não consigo deixar de mencionar a alegria que é estar envolvida por uma calma que não encontro em nenhum outro tipo de transporte. Mesmo que me deixe embalar nos braços dos barcos, dificilmente vejo-me capaz de tecer comparações entre estes dois. Um inspira-me ao descanso e o outro à confraternização dos meus pensamentos com os de outrem.

Os rostos apresentam mais cor e alegria. Deteto uma maior organização nas horas de espera, exeto quando estamos todos em modo correria. Talvez por ser quase tão antigo quanto à ideia que temos de ser evoluídos, os comboios estimulam em nós a certeza de que chegaremos aonde queremos estar.

Detesto quando fico sem bateria nos auriculares. Contudo, não me ralo quando isto acontece nos comboios.

Sinto-me segura naquele invólucro. Não sei se por uma questão de sorte, mas nas carruagens onde me sento, nunca há barulho além do que o motor produz, acompanhado do som das rodas contra os trilhos de metal. Ele não transporta, somente, o meu corpo; ele também carrega as minhas fantasias, os meus sonhos, as narrativas que conto, reconto, altero e às quais acrescento detalhes diferentes, ao longo dos dias.

Analogamente, de todas as vezes em que ultrapasso aquelas portas, é como se eu me estivesse a comprometer a entrar num outro mundo, onde tudo é possível. É assim que me sinto nas viagens de comboio. Nas viagens de comboio, sou capaz de rasgar o olhar pela paisagem fora, ou de observar com cautela os comportamentos alheios.

Nunca reparaste que no comboio, as pessoas são bem mais calmas do que nos autocarros ou metro? Às tantas, também elas pensam como eu e não encontram razões para desgostar dos comboios… Salvo quando não cumprem com os preceitos do relógio e que não perdoa atrasos. Nem ele, nem a nossa pressa de alcançarmos os nossos destinos.

O que pensas sobre o assunto? Gostaria de ler a tua opinião! ♥

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