JÁ O SLOW J PREGAVA A ARTE DE DESACELERAR, ANTES EU TORNAR A SABER APROVEITAR UM DIA NA PREGUIÇA

Mesmo estando em casa sem qualquer tipo de responsabilidade que vá daqui ao fim do mundo, não houve momento em que eu tivesse conseguido parar para simplesmente descansar. Não houve momento em que eu não me tenha questionado o que seria de mim se, ao contrário de todo o privilégio de ter o tempo livre, eu estivesse a ser assombrada por uma panóplia de tarefas desinteressantes e de tirar o fôlego. Este momento, inclusive, tem-se tornado bastante apropriado para me questionar se eu me estaria a dar bem no suposto mestrado que deveria estar a fazer, chegando à conclusão de que, muito provavelmente, eu estaria a ser acompanhada por um psico-terapeuta, tamanha a ansiedade com a qual teria de coabitar… Felizmente para mim, não estou sob esse stress e sinto-me grata por ter descoberto que esse método de obter outras graduações não é para mim.

Só me dou mesmo ao luxo de pensar nestas coisas, pois, parte dos meus amigos ainda está na faculdade e é com algum pesar que os observo mais sobrecarregados do que é costume.

Tenho-me descoberto muito pouco adepta do tédio, embora no outro dia, tenha lido pelo Shifter que o tédio até poderá ser uma mais-valia para a nossa criatividade. Sem querer de forma alguma ofender os diversos estágios do aborrecimento, mas a verdade é que se outrora eu fazia por recorrer ao aconchego dos seus braços, atualmente, o que me conforta é ter sempre o que fazer. Já considerei se isso não seria apenas uma desculpa para fugir das minhas questões existenciais, mas sendo eu pessoa de as confrontar antes de elas chegarem até mim, o meu problema não poderia ser esse. Talvez, eu me esteja a tornar numa obcecada por produtividade, ou, então, eu me queira sentir produtiva para não ter de dar mérito à sensação de falhanço. Seja lá o que isso for, no contexto atual.

Estou em modo quarentena desde 14 de março. Saio com o carro só para reabastecer a bateria e, ontem, decidi alongar o percurso e fui parar à praia aqui da zona, para poder olhar para outra coisa que não os edifícios e árvores que me rodeiam. Hoje, foi o único dia desde que estou fechada em casa em que não planeei absolutamente nada.

Fiquei o dia todo de pijama, coisa que nunca deixo acontecer até à hora em que treino – por volta das 11 -, substituindo-o pela roupa de casa; estendi-me no sofá com o meu panda de peluche, pois, já me está a começar a fazer falta receber um par de abraços; li por um bocado e, se estiver para aí virada, terminarei o livro hoje; entreti-me com vídeos do youtube e mudei-me para a cozinha de modo a poder aproveitar o sol da tarde.

Como estou sempre com o nariz entupido, 365 dias por ano, deixei-me de preguiças e fiz vapor com folhas de eucalipto e Vicks. Aproveitei o processo para limpar a pele do rosto, tomei um duche quentinho e coloquei um outro pijama. Estou, de momento, a ouvir música com os meus auscultadores mágicos, enquanto a comida vai ao encontro do estômago e o chá o imita. Passei estas semanas a reclamar comigo mesma, a chamar-me à atenção para tirar um dia destes e, com muito patrocínio de uma preguiça que rebentou aqui dentro, lá me transformei numa batata e quedei. Soube tão bem que até decidi relatar os pensamentos e aproveitar o facto de ter alterado a estética do blogue e andar a fervilhar de ideias para o atualizar. Queria que o fim de semana fosse em homenagem ao projeto da Andreia, a “Estante Cápsula“, mas tempo para o fazer não me falta e os livros não fogem – felizmente! -.

ellora haonne

Ao longe, conforme o sol se punha, escutei o ressoar de “Grândola Vila Morena” pela zona e esses eram os momentos em que me recordava, mas consciente, do facto de se estar a celebrar o 25 de abril. A liberdade é uma condição que se conquista diariamente e saber-me num país onde poderei ser, ter e fazer o que quiser é maravilhoso, portanto, e como âncora para o fecho desta publicação, também me sinto grata por ter a liberdade de poder ficar em casa a fazer a minha parte, no que toca a toda esta situação mundial… Se sinto saudades dos meus amigos, de me deitar num parque e debater sobre os galhos, de poder planear viagens? Estaria a mentir se dissesse que não, contudo, mantendo a calma e sendo paciente, ciente dos benefícios de cuidar de mim para que o mundo se possa cuidar, lá continuarei eu a trabalhar para, no meio da azáfama que são os meus espasmos constantes de energia, tirar um tempo para mim e simplesmente existir…

Com plenitude e serenidade, obviamente!

3 thoughts on “JÁ O SLOW J PREGAVA A ARTE DE DESACELERAR, ANTES EU TORNAR A SABER APROVEITAR UM DIA NA PREGUIÇA”

  1. Gosto tanto de te ler, Lyne! Não sabia que eras fã da Ellora. Gosto imenso dela (apesar de já não acompanhar tanto o trabalho dela como antes).

    1. Jotinha, como é bom ler isso! ?? Fico mesmo babada com esse tipo de feedback, muito obrigada, de coração!! ♥️
      Siim, gosto bastante do trabalho dela! O seu conteúdo tem vindo a evoluir bastante e muito se explica devido à própria postura dela, enquanto pessoa! Vale totalmente a pena voltar a ver os seus vídeos! ??

  2. Pingback: 22 EM 2020: REFLEXÕES ASCENDENTES EM CAPICUA | imperium blog

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