CONTO PELOS DEDOS AS VEZES EM QUE…

Tropeço muito pelas palavras. Oh, se tropeço. Ainda estou para tentar compreender a complexidade da minha mente e o seu funcionamento perante a vontade, a responsabilidade e a obrigatoriedade de se manifestar através de palavras. Há dias em que as compreendo com uma plenitude de quem não almeja a coisa, mas há outros em que não nos entendemos e é no meio dessas circunstâncias em que eu me deixo enveredar pelo meu estado mais indignado, frustrado. Não sou muito apegada aos momentos em que a vontade se me falha, impedindo-me de projetar o que me vai pelo corpo adentro… O meu orgulho é demasiado extenso para tamanha trapaça e o tempo não estagna para que eu me possa vir a entender comigo mesma. 
Tropeço muito pelas palavras, embora sejam o meu único veículo para me dar a conhecer. Talvez, por nos compreender tão bem propensas ao desentendimento, deveria expandir os horizontes e perscrutar por outros meios de expressão e que me preencham tanto quanto… Porém, a problemática é mesmo essa: onde, em que canto do mundo, é que eu serei capaz de me cruzar com uma arte tão semelhante a mim, ao ponto de me conduzir ao auto-conhecimento da maneira que as palavras o fazem? É que, rastejando pela teia óbvia da sua utilização básica, palavras funcionam como degraus diversos e que em nada se assemelham às regras da arquitetura. 
 
Palavras são componentes de uma escadaria imensa para o nosso íntimo e que, conforme as necessidades, nos encaminham para diversos patamares onde, sem qualquer receio, se nos apresentam uma porta ou outra para um local inexplorável. Um ou muitos locais. Já apontei não apreciar me sentir encurralada, estagnada, aterrada perante um silêncio linear e que sussurra mais do que qualquer berro bem sincronizado com a angústia de existir? Palavras, a arte de as materializar, o corpo físico do som que o nosso coração produz, uma ponte entre duas ou mais pessoas. Entre nós e somente nós mesmos… A matéria que mais cantos do nosso ser conhece e que, ainda assim, não faz por partilhar a sua sabedoria. 
Vemo-nos, então, obrigados a ser nós, com as suas iguais, a instigá-las, aliciá-las, convencê-las de que é possível criar uma parceria nessa bela cadeia de acontecimentos que é deixarmo-nos conduzir pela curiosidade de pensar, explorar, colmatar brechas da nossa ignorância. Conto pelos dedos as vezes em que as palavras me salvaram de uma crise, de uma paixão, de um colapso mental. Conto pelos dedos as vezes em que prometi, falhei, prometi e sucedi, apenas porque as palavras existem e elas não são facilmente podadas da nossa memória. Conto pelos dedos as vezes em que as quis usar para chegar ao meu momento e, com receio de não as saber pregar, engoli-as novamente e ali quedei.

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