TBC: A LEITURA DE MAIO \ “BALADA DA PRAIA DOS CÃES”, JOSÉ CARDOSO PIRES (*)

Acredito que se eu tivesse lido este livro numa outra altura da minha vida, a experiência teria sido diferente. Se eu tivesse tido mais espaço no horário, provavelmente o teria lido em duas semanas, no entanto, o facto de ter tido de o enquadrar na minha rotina, em momentos específicos, foi o que me obrigou a tirar proveito de toda a informação que eu pudesse ter extraído, normalizando a experiência ao máximo. 
Ler obras escritas diretamente na nossa língua materna começa por impactar na nossa postura enquanto leitores, porque, de certa maneira, nos vemos impressos e representados culturalmente, dado que as gírias nos encaram do mesmo ângulo e não duvidamos, por momento algum, de todo o espetáculo que se está a desenrolar em frente dos nossos olhos. Completando isso, uma escrita boa, quando aplicada devidamente, não tem como apresentar falhas. 
Se não estou em erro, “Balada da Praia dos Cães” foi-me oferecido por uma amiga. Na altura, e ainda a acarinhar com alguma relutância a inserção de autores portugueses na minha vida, foi com grande entusiasmo que aceitei esta oferta. Colada à primeira página, reside um post-it amarelo e marcado com tinta preta o mês e o ano nos quais pretendia explorar esta obra: Agosto de 2016. Confesso que eu havia tentado, porventura, não estava inclinada e isso dá para se perceber no presente, tendo em conta que só o li para o tema do mês de Maio, para o The Bibliophile Club… 

AUTORES PORTUGUESES



Ao início custou, tal como da primeira vez. Foi como ter voltado a pegar numa bicicleta ou num carro, após meses sem o fazer: estive tão habituada, ao longo destes meses, só a consumir literatura escrita no inglês, que me senti deslocada quando me deparei com a possibilidade de interagir com a minha própria língua. A sensação se agravou quando, aglomerando todas as minhas meditações desconectadas, me apercebi de que ter deixado de trabalhar rotineiramente na tarefa de ler me maltratou a capacidade de me expressar, de produzir pensamentos e, consequentemente, na escrita. 
De certo modo, todo o meu espírito assumiu o controlo sobre uma existência desléxica, se é que me poderei apoderar de tamanha expressão, mas o facto é que observei em mim essa dificuldade, o que me apavorou bastante! Com o passar das páginas, esse medo foi-se desanuviando e, com algum sucesso, fui adentrando na trama criada por José Cardoso Pires, neste romance policial, situado no tempo de Salazar e que não foi assim há tanto tempo! Pelo que escutei de um colega da faculdade e que, também, já leu este livro, ele se baseia num facto histórico – e tal é confirmado nas últimas páginas do livro, relato providenciado pelo próprio autor -. 
Longe de constituir um spoiler, a história começa por relatar o encontro de um corpo morto na praia e cujos “abutres” em redor nada mais eram do que cães, que se apoderavam daquela carne “fresca” e chamativa. Chegou-se à conclusão de que o cadáver pertencia a um major português e cujas ações políticas eram de resistência contra o regime de Salazar e todo a história integra a investigação acerca dos possíveis suspeitos e suas motivações. A escrita, de traços poéticos, costura ao longo das páginas um conjunto de teorias da conspiração, sem nunca perder o fio do raciocínio e da entrega necessária, de modo a que o leitor se inteire dos acontecimentos.

As últimas páginas foram as que me deixaram mais curiosa, dado que demonstraram com maior clareza o resumo de todo o crime cometido. Talvez a curiosidade tenha sido, antes, a ansiedade a falar mais alto: a ansiedade de finalmente terminar o livro, a ansiedade de ver mais uma meta concluída, a ansiedade de poder seguir em frente e colocar a vida em dia. Custou imenso, mas aqui estou, de coração leve, a escrevinhar a minha opinião! Aconselho muito esta leitura, mais pelo prazer de passar o tempo do que por qualquer outro motivo. Apesar de tudo, não me desiludiu e isso deixa-me muito descansada!

Já alguma vez ouviram falar deste autor/livro? ♥
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2 thoughts on “TBC: A LEITURA DE MAIO \ “BALADA DA PRAIA DOS CÃES”, JOSÉ CARDOSO PIRES (*)”

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