LONDRES: UM DESTINO QUE SURGIU DO ACASO

Não contava realizar esta viagem, tão cedo. Embora, na altura, estivesse perto de chegar ao sétimo ano do usual convite para lá ir, as minhas justificações eram sempre as mesmas: ora tinha aulas, ora não tinha dinheiro, ora não tinha vontade, enfim, tudo do mesmo… Até que, sem me ser disponibilizada a ocasião de refletir em demasia, o convite surgiu novamente e algo, um arrastão sentimental muito subtil, me sibilou para mover mundos e fundos e, por fim, comprar os bilhetes. Quando dei por mim, estava a estudar as melhores datas e que não coincidissem com as aulas, ou mesmo que fossem numa época mais relaxada. 
Dois dias se passaram, desde a minha primeira pesquisa, e apenas uma solução se me apresentava: abdicar um pouco do meu lado responsável, respirar pela minha sanidade e viajar a meio de um semestre. Tudo isto, pela primeira vez, em toda a minha vida. Faz hoje um mês que parti para Londres, com a finalidade de visitar uma família muito minha amiga. Julguei que me fosse atirar aos lobos. Com o volume de trabalhos e testes que se avizinhavam, viajar no último mês de aulas seria impensável para mim, há uns anos, no entanto, estar sob pressão e demasiada ansiedade foram duas das outras motivações que me conduziram a esta decisão. 
Não tive de me preocupar com nada, senão com os bilhetes e a pré-disposição para conhecer uma nova cidade e novas pessoas. Levei todo este tempo para introduzir esta aventura pelo blogue, porque realmente senti uma urgência em parar e cogitar, sem qualquer tipo de filtro, nas consequências desta viagem. Um mês, só muito por acaso, foi o período que se me pareceu mais adequeado, para além do mais, acabei de fazer a formatação do computador e estou a aguardar que alguns programas instalem, portanto, tenho mais do que tempo para atualizar todas as emoções, todas as minhas atividades favoritas e todos estes pensamentos. 
Penso que este texto e todos aqueles que estão por vir, assentarão que nem uma luva na mente das pessoas que estão habituadas a viajar, na medida em que nada mais farei do que extrair conclusões do meu contacto com outras realidades, uma das vantagens de poder sair da nossa zona de conforto, seja ela qual for. Em primeiro lugar, viajar não implica que gastemos rios de dinheiro numa passagem, na estadia e com comida. Viajar poderá cingir-se, somente, ao ato de nos disponibilizarmos para explorar com mais afinco um local que nos chame a atenção e que se situe a duas passadas de nós. No ano passado, tive a oportunidade de passar uns dias em Paris e na Ilha de São Miguel, nos Açores, e, ainda hoje, se me latejam as repercurssões de ter aceite sair de Portugal. 
De certa maneira, viajar funciona como um gatilho para outro tipo de auto-descoberta, sendo que damos por nós a despojar-nos de todas as complexidades que coabitam connosco, tendo em conta que teremos de, eventualmente, travar diálogos com os demais, se nos quisermos locomover para algum lugar, ou mesmo afincar a nossa existência num estabelecimento, rua ou praça. Damos por nós, ou pelo menos, eu dei por mim nesta viagem a Londres, a me aperceber da quantidade de resíduos tóxicos que eu alimentava em mim, desde me encolher sobre mim própria para evitar falar numa outra língua, até ao simples facto de rejeitar o corpo que tenho e quem sou. 
Ter sido abraçada pelos amigos do meu amigo, aquele que fui visitar, e ter tido de me dar a conhecer, gerou no meu íntimo a certeza de que não existem razões para eu me maltratar, de todo. Concluí de que eu sou bem capaz de viajar sozinha, de conhecer novas pessoas, de renovar a minha curiosidade, seja para que área for… Tornou-se ainda mais claro o facto de que o conceito de família somos nós que ditamos na nossa realidade e que todas essas conexões dependerão daquilo que almejamos para a nossa vida. Durante aqueles seis dias, esqueci-me completamente de que tinha uma vida em Portugal e foi deveras uma lufada de ar fresco. Diferente da maior parte da minha existência, atirei-me sem expectativas e colhi, ao longo da jornada, brotos de uma beleza e exepcionalidade improváveis. 
Londres foi muito mais do que um produto mágico, Londres foi aquilo a que se chama de retiro espiritual, a meditação de que estava a precisar, para que toda eu me pudesse reequilibrar. Foi, sem espaço para dúvidas, atirar-me ao oceano e boiar, sem recio de ser engolida pelas ondas mais revoltadas que possam imaginar. Regressei mais liberta e propensa para questionar, corretamente, a minha própria cabeça; ainda mais ciente da união que tenho vindo a adiar comigo mesma, e dos caminhos que percorri e deliniei em mim, conforme as pegadas que imprimia no meio urbano londrino. Espero, futuramente, saber fazer jus às outras sensações que colhi com esta minha viagem, embora não tencione trabalhar em mais do que duas publicações adicionais. Contem com alguma profundidade e, acima de tudo, registos fotográficos muito especiais!

2 thoughts on “LONDRES: UM DESTINO QUE SURGIU DO ACASO”

  1. Já viajei duas vezes. E das duas tive essa sensação de retiro espiritual, apesar de ter viajado acompanhada. É sempre bom descobrir cidades novas. Explorarmos novas ruas e partirmos a aventura. Só mais recentemente tenho descobrido o meu país. O ano passado foi a Lisboa. Este ano estou no Porto. E já estou completamente apaixonada por essas duas belas cidades

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