As pessoas não estão habituadas que lhes sejam bondosas, sem que desejem algo em troca. Digo isto porque uma das coisas que mais partilho com os outros é comida. E para a obter, tenho de usar do meu dinheiro. Mas sabem que mais? Isso não me apoquenta nem um bocado. A incredulidade é a expressão que melhor define a reação das pessoas sempre que afirmo que lhes pago ou uma sandes ou um café; juntamente acompanhada da afirmação “Se não tens dinheiro para ti, quanto mais para mim!”, e normalmente, elas têm razão quando dizem isto. Posso não ter muito para mim, mas isso nunca me impediu de partilhar quando o meu coração diz que sim. O ser humano está tão habituado a viver no seu espaço, a ser maltratado quando se abre para a vida, a não saber distinguir a sinceridade do interesse, que quando lhes surge a oportunidade de gozarem de uma oferta, estranham… Estranham porque nunca o fizeram para eles; estranham porque se calhar quando o fazem, as pessoas nunca aceitam; estranham porque pura e simplesmente o habitual é que lhes cobrem mais tarde, de forma implícita.
Não vejo porque não acarinhar as minhas pessoas com o que quer que seja que eu possa pagar. Sempre me ensinaram que onde come um, comem dois ou três. É óbvio que seria impensável se eu deixasse que abusassem de mim, mas conheço os meus limites e sei detetar quais os momentos certos para investir. Seja em comprar a comida ou outra coisa qualquer, seja cozinhando e levando até ao destino que desejo. Se o faço, é porque quero e não porque mo pediram de forma indiscreta. Estou rodeada das pessoas que escolhi, e outras que me foram entregues e as quais conservo com o maior cuidado. Tendo em conta que já tive experiências não muito boas com amizades, ter perdido e ganhado com isso simplesmente me abriu os olhos para a valorização do ser humano. Por muito que o veja como algo macabro, um produto que por vezes não vale a unha do meu mindinho, também reconheço que existem pessoas pelas quais vale mesmo a pena perder uma tarde a fazer um bolo, ou uma manhã a confeccionar uma lasanha. E quando falo de lhes oferecer comida, falo também de um abraço inesperado, de um elogio após um longo momento de apreciação, de uma mensagem ou chamada depois de algum tempo sem manter contacto. Consigo compreender o lado de certas pessoas que se preocupam pouco, ou que nunca o demonstram. Afinal, ou faz parte da sua personalidade, ou então advém de muitas tentativas que receberam lama em troca. Independentemente das razões que nos levam a sermos mais conservados, garanto-vos de que não tem mal nenhum em apostarmos de vez em quando em alguém que, de facto, nos merece. A vida é feita de apostas que ou correm muito mal, ou então que só nos trazem sucesso, serenidade e ainda mais vontade de aproveitá-la! E o sorriso no rosto das nossas pessoas é a melhor recompensa de todas!
3 Comments
Vanessa
2 de Dezembro, 2016 at 16:44Também sou assim. Nunca me importei de pagar um café, de pagar uma sandes, de pagar qualquer coisa às pessoas de quem gosto ou com quem tenho afinidade, mas elas ficam sempre a achar que me devem qualquer coisa e isso é algo que eu, muito sinceramente, acho estranho.
Estou habituada a ir ao café e a pagar algo a alguém amigo, quando cheguei à universidade e paguei um café a uma amiga, ela ficou chocada, "porque é que me estás a pagar alguma coisa?". Enfim.
Ainda há pouco tempo a minha mãe foi ao café, bebeu o cafézinho dela, estavam lá uns vizinhos nossos e ela pagou a conta deles. A senhora do café perguntou-lhe "mas fazes anos é?" e ela disse-lhe "não, mas não posso pagar o café de pessoas amigas? Ainda não sou tão forreta assim". A senhora não soube em que buraco se meter xD
Realmente quem nos rodeia pensa que os outros só dão à espera de algo em troca e agora no Natal isso acontece muito mais. Quem dá, normalmente dá de coração.
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Cherry
3 de Dezembro, 2016 at 10:33Infelizmente, vivemos numa sociedade que oferece tudo sempre esperando algo em troca, e já é raro encontrar pessoas assim, que ofereçam algo sem esperar nada em troca.
Eu também sou assim. Não me importo de pagar um café ou uma sandes às pessoas de quem gosto, porque me importo com elas e gosto delas. Claro que também sei reconhecer os meus limites, e sei reconhecer quando alguém está abusar. No entanto, na minha família e no meu grupo de amigos, ninguém abusa de mim nesse sentido :).
Beijinhos,
Cherry
Blog: Life of Cherry
Joana
3 de Dezembro, 2016 at 15:02Lyne, vou sempre mandar-te mensagem sempre porque sim, sem razão aparente além de gostar de falar contigo. Acho que as pessoas deviam mesmo tentar ser mais genuínas. Não espero que as pessoas me retribuam, até porque em grande parte da minha vida pouco me foi retribuído. Contudo, isso não faz com que eu deixe de o fazer de uma forma verdadeira. Dou um pouquinho de mim às pessoas de quem gosto, e acho que isso é mesmo muito importante.
Beijinhos 🙂