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BOOK REVIEW \ “METAMORFOSE”, FRANZ KAFKA (*)

11 de Agosto, 2019
A constante comparação foi inevitável: do princípio ao final do livro, havia apenas uma opção à qual eu conseguia equiparar as nuances de a “Metamorfose”: tal como em “A morte de Ivan Ilitch“, este clássico da literatura é um autêntico pontapé no estômago, provocando-nos uma amargura no fundo da garganta, de tão deplorável. Não deixo de me impressionar com a veracidade de livros curtos, o talento por detrás em condensar tão bem as informações, trazendo-as ao nosso encontro e apaziguando as dúvidas da nossa mente, em relação ao percurso escurecido daquela pequenez física.

A “Metamorfose”, como o nome expõe, relata acerca de mudanças, de adaptações, da busca desenfreada por respostas para as quais nos sabemos capazes de nunca vir a encontrar, do abandono e do quão insignificante poderá ser partilhar laços de sangue com um grupo de pessoas. É incrível como uma pequena circunstância veste a pele do gatilho perfeito para nos desculparmos das nossas responsabilidades e deveres, para colocarmos de lado a possibilidade de compreendermos as dores dos demais e, acima de tudo, para nos esquecermos de alguma vez termos nutrido sentimentos pelas vítimas das ocorrências mais brutais da vida. 
Kafka, em poucas páginas, frisou com alguma elegância e um trabalho simplificado e exemplar, a superficialidade dos nossos atos, o egoísmo que preferimos não admitir carregar nos vértices da nossa personalidade, o quão ténue é a linha que nos separa dos nossos momentos de ingenuidade para outros de puro desprezo para com os que nos rodeiam. A história de Gregor Samsa não se baseia, somente, nas dificuldades que ele teve de enfrentar enquanto alvo de tamanha alteração física e psicológica; não, para além disso, a “Metamorfose” é como que uma pintura naturalista e na qual a inspiração assenta nos fluxos arrabaldes, sem uma pincelada branca base a filtrar os acontecimentos mais atrozes e abjetos do ser humano. 
Este livro, que tinha tudo para se centrar num único indivíduo, diverge com mestria pelas demais existências, sendo discreto em apontar o dedo e a despir as camadas que os protegem de um primeiro julgamento, apresentando, como que numa dança, as passadas de tamanha demonstração. Kafka é direto, porém, discreto; simplista, contudo, poético e isso, enquanto parte do conjunto das suas qualidades, é uma mais-valia na hora da leitura, tendo em conta que, rapidamente, a despachamos, ficando no abandono da nossa teia sentimental. A narrativa não se embrenha por aí além, embora concentre todos os argumentos possíveis para nos convencer a continuar. Levei anos para a poder explorar e agora compreendo a importância de termos de crescer um pouco mais, de modos a depreender a profundidade de uma obra destas!

Já alguma leram este autor/livro? ♥
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  • Reply
    Andreia Morais
    11 de Agosto, 2019 at 15:06

    Conheço esta história por opinião de terceiros e alguns excertos, mas nunca a li. Apesar disso, quero muito fazê-lo!
    Adorei a tua crítica *-*

  • Reply
    Sofia Costa Lima
    15 de Agosto, 2019 at 18:57

    Li este livro no 1.º ano de faculdade, nas viagens de metro, e ainda hoje é um dos livros mais marcantes. Precisei de meditar muito sobre o que li, mas é um livro que, de facto, nos dá muito em que pensar.

    A Sofia World

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