Dei-me conta de que não tenho escrito muito para aqui por uma razão que sempre enumerei e que, por anos, me impulsionou a produzir textos desenfreadamente. Quando escrevo bastante, muitas vezes coincide com épocas da minha vida em que estou perdidamente apaixonada. Não é a primeira nem última vez que o menciono, seja aqui ou nas minhas outras plataformas…
Já me tinha dado conta de que quando vivo épocas positivas, tudo o que faço é produzir. A dificuldade, porém, começa nas fases mais complicadas em que, sem dúvida, deveria fazer por sair da letargia, independentemente da estratégia que encontre.
Ultimamente, contudo, não tenho estado apaixonada. Quer dizer, vivi uma história bonita com uma pessoa que guardarei na memória com muito carinho, mas o facto é que a minha produção não dependeu disso. Seja na newsletter, como com os meus desenhos ou o podcast.
Raramente consigo sustentar um quadrado ou pentágono de produção, muito pelo facto do dia só ter 24h e eu ser só uma.
Apesar de tudo, o amor que antes me inspirava e que direcionava aos demais tem mudado de destinatário. Tudo o que tenho feito nos últimos tempos tem sido para mim. Tenho sentido muita compaixão pelo simples facto de existir em comunhão com habilidades que, desta vez, não quero deixar escapar.
Reconheço, então, que o problema não foi o de ter gostado de outras pessoas e, desse sentimento, retirar inspiração. O problema foi não só o de me ter entregue em demasia, como o de depender, quase que exclusivamente, daquela libertação hormonal para encarar a vida como algo importante…
Tanto que quando a paixão cessava, advinham as devidas desilusões que, numa urgência inconsciente, fazia por me desviar com novas paixões. Como que num jogo de evitamento da dor! Quando aprendi sobre responsabilidades, foi mais fácil de aceitar que somente eu posso coordenar a minha vida, por muito inevitável que a influência dos demais seja.
Ainda assim, a decisão final é minha.
Por isso, se não tenho escrito com o amor em vista, como o poderei ressignificar para que não seja sempre sobre, ou com os outros? De todas as vezes em que me preparo para a newsletter ou podcast, há uma sensação de não ter o que dizer que paira no ar. Como se eu fosse obrigada a viver uma vida de rebuliços para que seja interessante… Felizmente, não preciso que seja assim.
O que me tem ajudado, de igual forma, a encarar o quotidiano como inspiração infinita, é o desenho. Propus-me, junto de mais dois amigos, a desenhar por 60 dias seguidos, segundo temas que organizámos entre nós e que são sorteados diaramente. Antes de cada desenho, começo a sentir um formigueiro, uma incerteza de vir a ser capaz de concretizar o tema, surgindo com mil e uma desculpas.
Ora por não desenhar há imenso tempo, ora por medo de não conseguir alcançar a qualidade de trabalhos anteriores. Contudo, quando me sento com a folha à frente, os lápis na mão, é como se entrasse num transe, onde não existem esquemas de inseguranças, receios, problematizações. Simplesmente entro em comunhão com o que estou a sentir e criar, honrando a alma da minha criança-adulta.
Quando termino as obras, colho a mesma satisfação de quando seguia uma rotina de escrita associada a tudo e nada.
Desse modo, dou-me conta de que talvez haja forma de recuperar o apreço, o hábito e o amor pela escrita, sem que a mesma seja desinteressante ou obrigatória! Exatamente como estou a fazer agora, a escrever só porque sim… Não deveriam todos os meus amores serem tratados com esta simplicidade, sem que isso signifique retirar-lhes o valor?
a partir de hoje, tanto o blogue como o podcast estarão parados até setembro de 2023! para updates, podes acompanhar a minha newsletter “notas soltas”. subscreve aqui! 🩷
2 Comments
Andreia Morais
22 de Agosto, 2023 at 0:29“Tudo o que tenho feito nos últimos tempos tem sido para mim” e não será isto uma demonstração de amor? Tens o amor próprio a mover-te e acho isso extraordinário.
As gavetas da minha casa encantada deram lugar ao Entre Margens. É a casa de sempre, mas o endereço mudou para: https://andreiapmorais.blogspot.com
Carolayne
22 de Agosto, 2023 at 20:13Tens toda a razão, Andreia! 🥹 mas mesmo que ultimamente tenha feito muitas coisas para mim, a escrita é das que ainda não me sei endereçar sem estar associada a outrem… Vai ser interessante explorá-la de e para mim 🤗