Tenho este tema por desenvolver há meses. Inicialmente, inspirei-me nas flores que tenho recebido por parte dos meus amigos, sobretudo da Inês. A Inês é uma pessoa com quem tenho desenvolvido uma amizade muito bonita que, a cada semana, se vai adequando às nossas fases de vida.
O mais bonito, pelo menos para mim, é que não tenho criado expectativas de como é que a nossa amizade deveria ser. Como tal, não crio um peso quanto às nossas ações, ou ao tempo em que deveríamos fazer as coisas. Há momentos em que sinto um vazio no peito, longe de o conseguir descrever.
Muitas vezes, até, associo-o às minhas frustrações, aos investimentos de tempo a projetos que não são meus, a conquistas que não alcanço. Só que, pelo meio, não me dou espaço para reconhecer a falta que me faz estar com rostos conhecidos. Assim, sempre que regresso ao ninho, de corpo desenvolvido, mente expandida, as asas cobertas de experiências, o vazio deixa de estar tão vazio.
Pois, ali, compreendo como certas pessoas me fazem sentir ancoradas.
Não no sentido de apego e carência, mas sim por me relembrarem dos sonhos que já partilhei, as afrontas de determinadas épocas, a pessoa que fui noutros tempos, noutras mesas. Ela foi das primeiras amigas a oferecer-me flores no aniversário, um bouquet de girassóis que, infelizmente, findaram umas semanas depois da entrega. Contudo, o seu gesto de flores ainda me aquece.
Amizades deste calibre não acontecem, somente, com a Inês. Tenho muitos amigos que me ajudam a elevar a fasquia quanto à amiga que quero ser e quem, obviamente, quero manter – desde que o outro lado também o queira -.
O gesto de flores, para mim, não se cinge apenas aos objetos físicos com os quais nos cruzamos e nos quais enxergamos um detalhe dos nossos ente queridos. Na sexta 21, por exemplo, fui jantar com a Inês numa pizzaria que desconhecia. Pese embora a minha intolerância, o corpo não reagiu tão mal quanto, por norma, reage. Falámos um pouco sobre tudo, focando-nos essencialmente num tema que, por respeito, não direi qual.
Não obstante, todo o serão levou-me a concluir que nenhuma de nós está melhor ou pior por comparação…
Senti que invertemos um pouco os papéis, no sentido de eu me ter sido capaz de estender as mãos e apoiá-la dentro do que me fosse possível. E, isso, acrescentou ao que um gesto de flores também pode ser: complementarmo-nos quando mais precisamos.
Há fases em que ela é o meu apoio quando não estou capaz de ver as soluções, desta vez fui eu a partilhar com ela o que aprendi da minha experiência. Os abraços são gestos de flores. Criarmos espaços de conversa e partilha são gestos de flores. Fazermos palhaçadas quando os nossos amigos estão afogados em lágrimas, com o intuito de os fazer rir, é um gesto de flores.
Partilhar o silêncio é, sem dúvida, um gesto de flores.
Até aceitar convites em cima da hora é um gesto de flores, principalmente quando não é comum! Há quem o possa denominar com outro termo, só que para mim, chamar de gesto de flores a um conjunto de gestos de amor torna tudo mais colorido.
É como se por cada abraço, uma semente se desenvolvesse no imenso terreno que somos. E, ao longo do tempo, o que outrora costumava ser um pequeno caule, transforma-se numa bela flor. Quando damos por nós, o campo é uma explosão de cores, odores, sensações que, eventualmente, dão lugares a gestos de flores. É tão gratificante participar de amizades assim!
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