Vou começar do inicio. Ou de onde tiver de ser. Há que começar de algum lado, certo? Eu não sei por onde começar. Às tantas, já comecei e nem me dei conta. Foi automático ter começado, sem me ter dado conta de o ter feito. Sim, é isso. Já dei início há imenso tempo, mas ando tão focada na ideia de o pontapear, de escutar o tiro de partida, que nem fui capaz de reconhecer o caminho que já percorri. É imenso caminho. Tanto que já lhe perdi a vista.
Essa perda, que na sua natureza não tem de ser má – afinal, há detalhes que se esborratam -, é algo que quero conciliar, somente para compreender alguns aspetos relacionados comigo. Por exemplo, quero compreender as origens desta tendência que se inclina para a procrastinação, de todas as vezes em que pareço estar no auge… Quando, na verdade, nunca estou, pois trata-se de um patamar ilusório.
Estar no auge significa estagnação. Significa que já não existe nada além daquele limite e que me permitirá evoluir um pouco mais. Não pretendo nada disso para mim.
Quero estar aberta a reconhecer a minha ignorância, a conquistar um sincero senso de sabedoria e cruzar-me, novamente, com outra aresta da ignorância. Há de ser sempre assim. Daí nunca existir um início concreto que justifique a sua busca desenfreada. Então, por que quero eu compreender algo em específico, se jamais conseguirei abraçar todos os questionamentos que me assomam? Não sei. Talvez por teimosa… Se calhar, por curiosidade.
Não posso negar, no entanto, o que tem sido óbvio nas últimas semanas. De quanto tempo mais precisarei para ficar bem e tornar a expandir-me criativamente? Eis uma das questões que me tem acompanhado diariamente, pois sempre que me apanho envolvida em rotinas que demandam grandes responsabilidades, acabo por me deixar de lado.
Sim, mesmo que isso SÓ envolva o meu lado criativo e que se tem tornado evidente como o ar que respiro. Admito: sem ele, a confusão interna amplia, sinto-me desamparada e um tanto triste. Creio que a energia que utilizaria para criar converte-se naquela em que procrastino, cogito… E nada faço, além de consultar o livrinho das desculpas para não fazer. Afinal, a pressão parte de mim mesma, tal como as limitações.
Sinceramente, quero sair disso. Nem que tal se resuma a fazer transcrições dos meus pensamentos mais crus e menos positivos.
Isto de enriquecer o blogue, somente com registos alegres torna-se hipócrita, a partir do momento em que o negligencio em prol das fases más. Elas existem, fazem parte do equilíbrio existencial. Se assim o é, por que me custa sempre tanto aceitá-las tais como são? Por que tento fugir? Acima de tudo, por que não respeito a minha vontade de repousar e fazer outras coisas? Segundo o que descobri na terapia, porque cresci a observar estas condutas, logo, aprendi que só devemos parar, segundo justificações aceitáveis.
Faz lá algum sentido recolher-me só porque sim? Não será antes preguiça? Talvez. Contudo, na sua grande maioria, não é. Nos últimos dias, tenho-me sentido extremamente cansada. Sim, embora goste do meu trabalho, não me cabe a mim negar a sua influência física e psicológica. Ademais, não é só pelo cansaço físico que opto por não escrever, gravar, pintar ou aprender coisas novas. É por não me apetecer. E eu estranho-o, porque me conheço como alguém que aprecia estar sempre a fazer alguma coisa.
A questão é que o desejo por uma mente ocupada é também sinónimo de uma necessidade de fuga.
Mas do quê? De quem? De mim?
Se assim o é, quais as razões? Terei medo de me cruzar com características que sempre desprezei e reprimi? Serei um ser preguiçoso, desinteressado, pouco interessante? Terei eu algo a esconder? Por que me assusta tanto a mediocridade? Não terá a simplicidade o seu je ne sais quoi de especial? É que não querer ser só mais uma num oceano de pessoas sem respostas para a vida converte-me em só mais uma!… Visto que nenhum de nós tem um manual descodificado da vida….
Logo, julgar que não sou capaz de alguma forma, só por não estar a viver o que andei a pregar nos últimos anos é, na verdade, algo bom. Dado que reconheço o momento em que estou. A pessoa que sou. Eu nunca estou sempre assim tão plena como acredito estar. A ansiedade, por vezes, é a minha companheira diária. As preocupações acerca do futuro, do que não posso controlar, dos desejos que nutro, assomam-me de tal maneira que fico paralisada. O passado, muitas vezes, observa-me pela janela.
Há dias, até, em que só quero entrar num buraco e sair de lá quando estiver com metade do meu caminho trilhado. Só que, assim, estaria a perder a parte engraçada que é viver.
Posha!, mas é que viver é um tanto desafiante e há imensa coisa pela qual terei de aguardar. E isso, esse elemento surpresa, é bastante assustador! O tempo de que necessito só surtirá efeitos quando, efetivamente, eu o respeitar. E eu estou disposta a isso. Nem que, para tal, eu prolongue este nada fazer que até faz alguma coisa por mim. Deixar-me descansar, por exemplo, ou recarregar as energias. O resto? O resto vai-se fazendo…
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