PROJETO 642 | Por Que Motivo Escreves?

Escrevo desde que me recordo. Escrevo para organizar as ideias, sobretudo quando não faço ideia do que quero dizer. Faço-o pela sanidade que promete aparições, quando bem lhe apetece. Remonto esta prática aos tempos da primária, sempre que nos eram requisitadas composições acerca dos fins-de-semana ou cumprindo com os temas livres. Divertia-me imenso nessas ocasiões, e sei-o pelas releituras que andei a fazer dos cadernos da altura.

A necessidade, porém, foi escalando para as composições do amor…

Para os poemas que fui escrevendo de todas as vezes em que gostava de alguém, que vou rasurando sempre que dou por mim apaixonada… Apercebi-me, no entanto, que os versos só se aconchegam a mim nos períodos em que, no fundo, se revelam drásticos. Ando, como tal, a esforçar-me para reverter a situação e utilizá-la a meu favor. No lugar de poemas de um coração vergastado, tenho tentado descortinar o potencial das rimas aleatórias e conectadas com emoções mais profundas, bonitas e positivas.

“Não tens de escrever só poemas de amor” – não foi por estas palavras, mas disse-me um amigo, uma vez. E ele tem toda a razão! Embora seja mais fácil para mim relatar sentimentos através da poesia, expus-me à brincadeira e, no seio de ritmos que me inspirem, arrisco-me a escrever “músicas”, a seguir a linha de pensamento dos dadaístas, a poetizar só porque sim… A liberdade ao praticá-lo é surreal!

Para além de poesia, escrevo prosa e textos soltos numa tentativa de exteriorizar partes de mim que pertencem ao mundo, de modo a criar conexões. Sei que não estou sozinha em muitas ocasiões, e tornou-se crucial fazer as pazes com isso. Afinal, recolho um certo consolo nas manchas abstratas do pensamento e que, muitas vezes, só atrapalham o modo como pretendo levar a vida.

Consigo ser e fazer imenso!…

E devo-o à escrita que me permite, assim, expandir os horizontes, dado que a escrita está vinculada à leitura que, por conseguinte, trata mais feridas do que possamos julgar. Escrevo porque, através das palavras, reencontro-me e sinto-me eu mesma. Até o partilhar, não passa de um monólogo que, conforme o estado de espírito, poderá envergar uma conotação mais, ou menos, positiva. As palavras são poderosas e há que ter cuidado com elas.

É necessário um certo engenho, partindo do princípio que todas reverberam de um certo modo. Digo-o por já experienciar esse poder. Nada acontece se não fizermos por isso, há que existir uma intenção, um confronto contra a inércia… Contudo, palavras não deixam de ser gestos da comunicação e que nos afetam diariamente! Assim sendo, escrevo por reconhecer que dentro de mim, habitam diversos modos de fazer acontecer e a chave mestra são as palavras.

Entretanto, conta-me: Por que escreves tu?
Texto inserido no projeto 642

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