Ser otimista não é fácil, embora exista o estigma de que qualquer atividade sirva como um gatilho para despoletar esse otimismo. Na verdade, julgo que não seja bem assim. Tenho sempre presente de que, sendo cada um de nós um indivíduo diferente, torna-se até errado pensar que só porque muitas das etapas que levam a um bom caminho sejam comuns a um grupo de pessoas, que o mesmo vá funcionar para os demais. O importante, acima de tudo, é nos preservarmos ao auto-conhecimento e tecermos, a partir dali, um mapa que funcione realmente connosco, conforme a nossa personalidade e suas idiossincrasias. Daí, percorrer o caminho para o otimismo não ser fácil, para grande parte de nós. Falo por mim, por exemplo.
Só muito recentemente, tendo em conta a minha idade, é que realmente me apercebi do significado de irmos até ao fundo do poço para nos dedicarmos a sair dele, com a maior das habilidades. Já perdi pessoas muito importantes, pessoas essas que nunca mais verei na vida, mesmo que em sonhos. Ainda em Janeiro, perdi um familiar muito importante e, doravante todo o trabalho que temos vindo a desenvolver enquanto família, jamais me poderia considerar tão forte e capaz. É nestes momentos de aperto que realmente sofremos um choque do qual só nos recuperamos se abrandarmos o nosso ritmo de vida e cogitarmos no rumo que queremos tomar.
Há quem se baseie na religião e em todos os seus dogmas para ultrapassar a morte, há quem prefira ser mais plural e procurar, em cada filosofia, um meio para se encontrar. Há, também, quem procure refúgio noutros locais, que não sejam necessariamente negativos do ponto de vista exterior. Foi o que mencionei ao início: há métodos que funcionam melhor para uns do que para outros. Dentro de toda esta panóplia de acontecimentos, há momentos aos quais me dedico como se se tratassem dos meus últimos minutos de existência, pois, é como se eles se fossem multiplicando, qual folha de suculenta que se deixa propagar. Se me tornei numa pessoa positiva, foi porque, de uma maneira ou de outra, deixei de descurar da importância de todas as minhas decisões, mais detalhadamente, permiti-me a crescer e a trocar de estratégia, mesmo que por desporto.
Ainda há umas horas, por exemplo, a minha cabeça fez um reset e eu me apercebi do mestrado que quero realmente fazer e cujo plano curricular diverge daquele que, inicialmente, eu confrontei por estes três anos, desde que estou na faculdade. Não é por acaso que persistem tantas afirmações que pregam a importância de vangloriarmos cada minuto da nossa vida, principalmente quando acordamos e a nossa tendência é a de adiar o despertador, até nos cansarmos de estarmos cansados… Realmente, faz uma baita diferença quando desconfiguramos a nossa maneira de viver e enveredamos por outros caminhos, semelhantes ou divergentes dos nossos atuais, e exploramos um admirável mundo novo, mas sem o sobrenome distopia a empatar.
Os nossos impulsos, na vertente racional, nada mais são, do meu ponto de vista, do que manifestações de todo o conjunto de hábitos, pensamentos e aglomerações que damos de bebericar, no decorrer da nossa existência, logo, se a nossa tendência é a de sermos pessimistas, não é por acaso: apenas nos mostramos como a pessoa que fomos sendo ao longo da vida, ou que nos foram incutindo, sem nos questionarmos acerca dos impactos que marcariam o nosso pensar, é o suficiente para nos denominarmos como pessoas negativas e sem rumo. Posto isto, só quero que saibam que é possível revertermos toda a prolixidade de situações más que nos circundam e moldá-los em espasmos duradouros de otimismo.
Pessoalmente, o que me ajuda a ser otimista passa por meditar e cogitar seriamente no que me vai na alma, sem qualquer receio de esbarrar em mágoas antigas, rancores fora do prazo, medos e sonhos; trabalhar a empatia e ser resiliente; observar e procurar “estudar” a vida dos demais, ou seja, conversar com os que me rodeiam e consumir conteúdo que realmente importa e que me auxilia a encarar a minha própria com outros olhos, ao ponto de almejar algo melhor para mim; o exercício físico; comer o que me faz bem e estar sempre a pesquisar como está a indústria alimentícia; estar com os meus; criar projetos e vê-los crescer; aprender com os erros; ler; trocar as redes por uma atividade offline; ter noção de que estou no comando da minha vida e que optar pelo meu melhor é mais seguro do que eu possa julgar.
Por muito extremista que seja, descartar a toxicidade proveniente daqueles que me rodeiam, mesmo bastando certas lamurias que se vão repetindo com o acumular dos anos, é de uma importância exímia e algo que passei a praticar, sem medo que façam o mesmo comigo; aliás, se já alguém deixou de me falar, ou ver, por sentirem que eu os impedia de algo, nem sabem a felicidade que isso me dá. Auto cuidado e preservação são aspetos que clamam pela nossa atenção e astúcia, se refletindo como um trabalho a ser desenvolvido, a partir de hoje. Nada de nos sentarmos e aguardarmos pelo melhor, ele não surge por magia. Houve alturas em que aprendi isto da pior forma, e não tenciono repetir o erro. Como tal, faço esta reflexão em jeito de despedida do velho eu, ansiosa pelo meu renascer. Deste lado, espero de coração aberto que o mesmo se suceda convosco. ♥
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