Desde que me sei como gente, que tenho a tendência de me meter em problemas que não são meus, apenas porque me sinto na obrigação de trabalhar enquanto cola entre duas ou mais pessoas, na esperança de conservar os amigos que tenho e as amizades que esses mesmos amigos têm entre eles. De tanto cair perante as minhas falhas em conseguir, de facto, que as desavenças se resolvessem a cem porcento, foi neste ano que aprendi que tão cedo não colocarei as mãos no fogo por ninguém. Sei que é tentador fazermos o papel de mãe quando este nos assenta tão bem, contudo, quanto mais tentamos suportar uma dor que não é nossa, uma separação que nada tem a ver connosco, pior a nossa imagem perante aqueles que tanto tentamos ajudar. Aconteceu-me, recentemente, dar mais ouvidos a um do que a outro e isso resultou numa injustiça que, quem me dera a mim, ter podido evitar dentro de mim.
Feliz ou infelizmente, as coisas lá acabaram por se resolver, mas ainda durou um tempinho até eu ter finalmente decidido jamais me disponibilizar para ser a conselheira que está sempre por ali. Gosto de ajudar, gosto de ver os meus bem, porventura, já somos todos grandes e crescidos. Se o somos para umas coisas, certamente o seremos para resolver os nossos problemas. O que mais me chocou foi-me ter apercebido de que muitas das vezes, as pessoas em questão não me pediam nada e essa minha necessidade de me desdobrar e apoiar os meus era apenas um reflexo das minhas próprias necessidades. Naqueles tempos, eu precisava de me resolver e a melhor desculpa que eu encontrava para dar era a de que ajudando os outros, eu me estava a ajudar a mim.
Não era, de todo, mentira, todavia, tudo o que é demais enjoa e eu acabei por enjoar dos meus adiamentos e coloquei um ponto final nestes impulsos. Das vezes em que me pediam auxílio, eu me deixava embalar, mas de tanto detetar os sinais, acabei por começar a evitar… Daí me ter afastado de tantos e já não falar com muitos. Tanto exigiram de mim, que eu acabei por exigir o triplo de mim mesma, cansando-me desnecessariamente. Se a minha visão acerca do mundo esfriou, é porque se tornou num fantasma das coisas que eu não consegui evitar a tempo de reverter certas ações, certas palavras, certas emoções. Anseio melhorar com o passar dos dias e me permitir a voltar a ajudar, quando surgirem atritos. Até lá, ficar-me-á marcada esta sombria consequência dos meus atos, das injustiças que cometi e das lições que aprendi. Não o digo em jeito de punição, mas antes como uma conclusão de um ciclo que demorou a fechar.
Tudo se torna mais límpido quando os nossos pontos de vista se alteram, por pequenos que sejam os ângulos. É um mal necessário desabarmos, detectarmos que dificilmente pedimos o auxílio que precisamos, que raramente fazem por nós aquilo que fazemos pelos demais, para que os nossos olhos se descolem e encarem a dura realidade. É um mal necessário esfolarmos os joelhos, os cotovelos, aprendermos a chorar pelo silêncio fora e que se ocupa dos espaços entre as conversas que não baixam de tom e que nos circundam. A bolha que tanto conservamos lá acaba por rebentar e quando nos apercebemos numa outra realidade, também nós nos convertemos nessa realidade, seja ela quente, fria, confortável ou não. Estas decisões que englobam deixar, ou não, de prestar tanto apoio quanto outrora, custam mais do que muitos possam julgar. Custa-nos a nós, custa àqueles que deixam de sentir o calor das nossas palavras, custa porque por vezes somos obrigados a recuar e a avaliar o valor que nos dão, no final das contas. E se esse mesmo valor não corresponder à pessoa que somos, estamos mais do que no direito de exigir por algo melhor e nada como nos salvaguardar-mos dessas situações!
2 Comments
Joana Sousa
28 de Dezembro, 2018 at 12:42Como te entendo. Oh, como te entendo! Não tenho nenhum espírito de Madre Teresa, sempre fui muito do "resolvam-se", mas quando me pedem ajuda directamente eu não sei dizer que não, e as dores de cabeça que isso já me deu…depois de quase ter ido abaixo por problemas que não eram meus, decidi que já bastava. E sei – sinto-o, ainda – que fui "má amiga" (ou será que na verdade estar a ajudar quem nunca quis saber de mim e só se lembrava quando estava mal era só estúpido da minha parte?). A verdade é que acabo por me sentir mal quando penso nisso, mas por outro lado, racionalmente, sei que é necessário: é preciso criar uma carapaça que nos proteja. Ninguém é de ferro, e ninguém aguenta o peso do mundo nos ombros. Estamos um bocado negativas, mas viva a sanidade mental ahah!
Carolayne T. R.
28 de Dezembro, 2018 at 22:09Temos de começar a trabalhar e a aplicar o egoísmo, de certa parte, e essa nada mais é do que a tal carapaça que mencionas. Feliz, ou infelizmente, são medidas a serem tomadas!!
Ahahahah Há negativismos que vêm por bem, gosto de acreditar nisso! 😛