NEGRITUDE PESSOAL

A Importância de Ter Deixado de Utilizar Alisantes

15 de Outubro, 2018

Há momentos na vida em que temos de nos impor. Mesmo que tal implique uma mudança radical no nosso dia-a-dia, no nosso psicológico, em tudo. Ontem, pela primeira vez em vinte anos, apercebi-me de que eu jamais havia tratado do meu cabelo natural como agora. Até aos dez, essa função cabia à minha mãe. A partir daí, e como vos contei nesta publicação do 1+3, eu fui vivendo com base na utilização de produtos alisantes, de maneira a encontrar um conforto no visual mais alterado possível, facilitando-me na tarefa de ter de lidar com o meu cabelo africano.   

Após estes anos todos, foi de extrema importância eu ter decidido regressar às minhas origens. Pois, mais do que eu ou qualquer outra pessoa possa imaginar, o meu afro hair conta muito da minha história, dos meus antepassados, quem fui, quem sou e quem quero ser.

Deixar os alisantes como parte do passado foi um passo bastante fácil de tomar, porque eu estava demasiado decidida em me livrar daqueles químicos e ver-me reflorescer através dos meus cabelos crespos e naturais. Pode até parecer uma estupidez para alguns, mas adotar esta postura apenas trouxe consequências boas e positivas, tais como me afirmar como negra, sem redundâncias, máscaras ou o que valha.   

Não quero com isto dizer que as outras mulheres negras deixam de o ser por modificarem os seus cabelos! O que quero dizer é que EU, para chegar aonde cheguei, finalmente me aceitei. E a melhor maneira de me abraçar foi esta: entrar no modo transição capilar e aprender a cuidar de mim, da minha saúde e da minha beleza.

Não me vale de nada adotar o discurso de que a beleza não importa e que o interior é que conta, porque não é bem assim que as coisas funcionam. A autoaceitação é todo um processo de filtragem entre o nosso físico, a nossa mente e os nossos desejos. E, querermos ser belos fora do padrão social, é o que nos torna únicos.  Para a grande maioria, os cabelos crespos podem até ser uma aberração, uma coisa de outro mundo. Mas para mim, que os tenho, acho-os lindos, apesar do trabalho que dão para se manterem saudáveis.

É tudo demasiado relativo… Contudo, o que realmente tem o seu pesar – ou, pelo menos, o que deveria significar algo! – é esta nossa preocupação pelas nossas origens. Pelas batalhas que elas enfrentaram ao longo da vida de maneira a podermos estar aqui… E como é que as poderemos honrar de forma respeitosa e sem ferir suscetibilidades, construindo uma base para o futuro.   

Eu comecei pelo cabelo por uma questão de autoestima, princípios, custos e racionalização. A uns quilómetros de mim, uma outra negra pode ter começado a sua jornada de honra através da exibição do seu tom de pele natural. Outra a seguir, pelo seu conhecimento e paladar para a comida da sua terra, etc.. Cada qual é uma história e não nos cabe a nós julgar o que Fulano ou Beltrano faz da sua vida. Há que respeitar, apoiar e, se puder ser, incentivar no amor próprio e na representatividade, pois, no mundo em que vivemos, isso é fulcral para a nossa integridade mental!

 
 
Quanto a vocês: O que é que mudaram na vossa vida e que vos influenciou pela positiva? ♥
  • Reply
    Cherry
    17 de Outubro, 2018 at 9:53

    Eu acho o teu cabelo muito lindo e fico muito feliz por finalmente o aceitares :). Gostei de ler toda a importância por detrás do mesmo.
    Eu passei por uma batalha semelhante com o meu cabelo. Durante anos, queria que fosse liso a todo o custo e tentei mil e uma coisas, sem sucesso. Demorei a aceitá-lo, mas agora gosto bastante dele e acho que combina com a minha personalidade. Costumo dizer que o meu cabelo não se conforma às regras, é imprevísivel, e eu também xD.
    Beijinhos
    Blog: Life of Cherry

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