No nosso último dia na Ilha de São Miguel, ficou decidido visitarmos as tão desejadas termas de água quente, terminando o dia com uma chave de ouro surpresa e que me valeu diversos momentos recheados de epifanias, desconstruções pessoais e ultrapassagem de medos. Apesar do dia acinzentado, pudemos contar com uma temperatura agradável e que, num ambiente daqueles, nos faz sentir numa autêntica ilha tropical. As Poças da Dona Beija aglomeram até cinco termas, sendo a mais fria com vinte e seis graus e a mais quente com trinta e nove graus, condições favoráveis e da preferência de quem vá para lá relaxar e esquecer as responsabilidades.
É-nos dito logo na receção que tenhamos atenção ao tempo que dispensamos dentro das águas, pois, devido às suas temperaturas altas, podem baixar a tensão arterial e causar indisposição física – o que acabou por acontecer comigo, mas eu também já não me encontrava lá muito bem quando fui para as Termas, o que contribuiu ainda mais para o mal-estar! -. Enfermidades à parte, foi deleitoso poder simplesmente relaxar em águas tão naturais e cuja quentura advinha dos vulcões ali perto, tendo eles criado mini cascatas onde nos poderíamos encostar e receber uma massagem no corpo e no espírito.
O som da água a cair, a sensação do corpo imerso, toda aquela vegetação verde em volta, os rostos pacíficos e a fumaça, todos estes aspetos contam como memórias que jamais me permitirão estar à beira do nervosismo ou o que valha. Apesar do cheiro a enxofre que se instala nas nossas narinas, as “Poças da Dona Beija” são um lugar obrigatório, caso estejam interessados em viajar para São Miguel. Se forem como nós, optem por deixar esta visita para o final da vossa estadia, de maneira a completarem o ciclo de rejuvenescimento do vosso ser!
Após o momento de relaxamento, fomos almoçar num restaurante ali perto, passando logo para a surpresa: andar de barco até ao Ilhéu de Vila Franca do Campo e nadar em alto mar, longe da civilização. Alvo de estudos biológicos, marítimos e geológicos, o Ilhéu de Vila Franca conta com uma morfologia cónica de origem hidromagmática, habitando figueiras e vinhas – informação da qual ainda me recordo ter ouvido! -, formando um círculo quase perfeito e uma abertura apelidada de “Boquete”, voltada para Norte, o que dificulta a entrada eufórica do mar para o interior do ilhéu.
Cá fora, no barco, podemos observar diversos caranguejos a fazerem a sua vidinha e o nosso guia também chamou a atenção para os cagarros, típicas aves marinhas dos Açores e que ajudam os pescadores a identificar os locais perfeitos para a recolha de peixe. Uma curiosidade: ele disse que a ilha de chama “Açores”, porque quando descobriram as ilhas, confudiram as aves açores com os milhafres ou “queimados”, tendo vindo a descobrir mais tarde este precalço!
Curiosidades à parte, continuaram a mostrar-nos o ilhéu de todos os pontos possíveis do exterior, contando factos e mitos acerca do mesmo. Quando o guia terminou, andámos até perdermos a costa de vista, escondendo-nos numa zona mais recatada e “perdida”, onde abaixo de nós existiam vulcões com pouca atividade, mas o suficiente para aquecerem a água e fazerem bolhinhas. Ali, nadámos até nos cansarmos, com aguaceiros a agraciarem-nos o rosto, enquanto nos divertíamos. Ao início, foi difícil para mim, pois, embora adore o mar e tudo aquilo que ele me transmite, também tenho um certo pânico de estar dentro dele.
Relutante, e depois de um conselho mega genuíno do nosso guia, relaxei os músculos, larguei os barco e afastei-me o máximo de pude, confiando na densidade daquela água e que nunca me levou ao fundo – a não ser, claro, que eu me alimentasse de pedras (uma das coisas que o guia me disse para me acalmar!) -. Para além de nunca ter feito algo do género, foi uma autêntica surpresa desfazer-me daquele receio de me afogar, mesmo sabendo nadar. Regressei para o barco a sentir-me livre e desperta, apreciando cada brisa que me secava o corpo, cada pinga de água que se erguia com a velocidade do barco e com cada vislumbre da paisagem que nos rodeava. E que bela forma de terminar uma viagem!
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