Hesitei, mas insisti perante a sensação de dar início à leitura. Sei que haveria de ser boa, afinal, as pessoas que o escolheram para mim, têm um gosto maravilhoso no que toca à literatura. Foi naqueles dias em que fitei a prateleira superior da estante, na esperança de criar uma certa empatia com algum dos livros por ler, que se me acendeu algo no âmago, a certeza de que aquele deveria ser o livro perfeito para passar os próximos dias e curtir um pouco das férias que me restavam (e ainda restam, por sinal!). Ao início, não percebemos nada. Nem mesmo após a leitura da contracapa. De página em página, com a curiosidade em lume brando, é que nos é apresentada a história de uma família portuguesa, que Rosa Lobato de Faria decidiu criar recorrendo a uma escrita extraordinária e sobre a qual eu não sabia nada, até à altura. Se o meu medo era o de nada entender, a verdade é que cheguei a uma certa página do mesmo e me deparei com uma simples fala, que nos explica quase tudo o que foi decorrendo na trama, sem deixar pontos sem nó.
Finalmente, este meu preconceito para com a literatura portuguesa desapareceu, o receio de não encontrar coisas boas, bem longe mim. Desde que apanhei em Saramago a vontade de explorar aquilo que outros escritores portugueses produzem, que me é cada vez mais latente e real a fome que habita em mim, desejosa de ser alimentada. “O Pranto de Lúcifer” envolve-nos de tal maneira, que é como se da nossa história de vida se tratasse. Acredito que tenha sido devido à edição que tenho, mas o facto da fonte ser de uma dimensão razoável, permitindo-me viajar com fluidez através das palavras, facilitou e tornou o caminho muito mais simples, limpo e rápido de percorrer. Esta autora fez uso de uma construção textual que, aos olhos de muitos, não será novidade, visto que ela intercala diálogos com descrições no mesmo parágrafo, remetendo-nos ao estilo de um outro escritor que tão familiar nos é, o que nos obriga a prestar real atenção aos pormenores e aos desenvolvimentos da narrativa.
Estamos situados num país comandado por Salazar, a opressão a fazer das suas, e numa época em que, mais do que nunca, quem filho de doutor é, doutor será. Rosa Lobato de Faria traz-nos uma história que quebra estereótipos, facultando-nos personagens diferentes, atrevidas, apaixonadas pela vida, e que preferem correr atrás dos seus sonhos, ao invés de ficarem enclausuradas na vida que escolheram para elas… Pelo menos, a maior parte. Existem conflitos, muito palavreado fresco, cenas de fazer arrepiar, mas ainda assim, uma história que nos ensina, que nos comove e que nos leva a não querer desistir dela! Para aqueles que ainda necessitam de se encontrarem em si mesmos, uma leitura que recomendo imenso!
“(…) mas agora sei, a vida não é extraordinária, só é extraordinário compreendermos que cada dia é o mais importante e fazer disso, por mais simples que seja, uma aventura.”
Já leram algum livro desta autora? Que mais recomendam?
Nunca li nada da autora, embora sempre tenha sentido que devesse por tratar-se de uma das autoras portuguesas mais famosas no nosso país. A tua maneira de descrever o livro e a sensação que tiveste ao agarrá-lo na prateleira e escolhê-lo é encantadora, Lyne! Muito poética, sem dúvida 🙂
Beijinhos,
Anteriormente She Writes, agora By the Library
Obrigada, minha linda! <3
Estou a ver que sim, ela é bastante reconhecida e com todo o mérito! Aconselho-te mesmo a ler algo dela, penso que gostarás imenso!
Beijo grande!
O livro, pelo menos nas tuas palavras, pareceu-me muitíssimo interessante! Nunca li nada da autora, embora os últimos 8 livros que eu li sejam todos de autores portugueses (é o que dá ter Literatura Portuguesa no secundário ahah). Espero ler esse livro em breve!
Beijinhos! 🙂
MARY WITH LOVE
E é muito, posso afirmar! Qualquer um se sentirá à vontade para explorá-lo!
Pois, existem vantagens nisso, eheh.
Beijinhos!