PESSOAL \ Um “sim” que fez toda a diferença

Uma quarta-feira normal de regresso às aulas, como mandam os fins das pausas festivas. Uma amiga minha fez anos e ficou decidido de irmos aos 100 Montaditos, para que elas pudessem gozar da experiência de comer bem, por muito pouco. Ficámos sentadas na esplanada do estabelecimento, não obstante o céu acinzentado e alguma brisa que se fazia sentir, mas nem isso nos arrastou dali para fora a horas tão precoces. Hoje foi a primeira vez em que consegui comer quatro montaditos, incluindo alguns aperitivos, e ainda assim desejar mais. Não sei o que se passou, mas o meu sistema simplesmente demandava por alguma coisa, uma circunstância que me obrigou a tomar medidas: minutos de descanso seriam suficientes para que o estômago pudesse assentar e preparar-se para mais uma dose de montaditos. Conversa vai, conversa vem, e algumas pessoas do grupo decidiram que teriam de ir à farmácia, ficando eu e mais uma amiga para trás. Aproveitei a ocasião para fazer os meus dois últimos pedidos, embora me sentisse reticente acerca disso, mas algo convenceu-me a seguir viagem. Peguei na caixa, agradeci e saí a caminho do ponto de encontro. A partir daqui, este é o momento em que nos apercebemos de que o destino tem destas coisas, e que existem certos gestos que dizem mais de nós do que alguma vez poderíamos imaginar. Eu e a minha companhia tínhamos duas opções: ou saltávamos logo a estrada, ou seguíamos em frente. Tomámos como rédea a segunda opção, sendo que sem essa atitude, eu não estaria aqui a escrever-vos isto. No nosso caminho, fomos abordadas por um sem-abrigo que se encontrava sentado em frente do Mercado da Ribeira, e que nos cumprimentou, pedindo que se pudéssemos contribuir com apenas um cêntimo, isso já o ajudaria. Não hesitei, colocando a mão no bolso para lhe entregar uma quantia que me desse jeito dar… Contudo, a mão que segurava a caixa dos montaditos, assomou-me a mente e foi aí que me decidi: optei por oferecer a comida ao senhor, no lugar do dinheiro, questionando-o, até, se ele já se tinha alimentado hoje. Mesmo com a certeza de que muito provavelmente lhe estaria a dar restos, ele aceitou com muita simpatia o meu gesto, e agradeceu.
E tudo isto para dizer que, por muito que a nossa vontade de nos levantarmos da cama seja pouca, por muito exaustos que estejamos de nós mesmos, há sempre uma possibilidade de fazermos o melhor para nós e para os outros. E de que maneira é que este gesto me ajudou, também a mim? Na medida em que me provou de que eu sou muito melhor do que aquilo que o meu fracasso me diga, mesmo quando a intenção principal do dia é a de voltar rapidamente para casa, de tão fartos que estamos do mundo. Hoje provei para mim mesma de que existem certas decisões que tomamos que nos encaminham para um final muito feliz. Não sei se voltarei a ver aquele senhor no mesmo lugar, ou se ele se lembrará do meu rosto, mas de uma coisa tenho a certeza: a minha cabeça assentará de forma leve na almofada, por ter tido a capacidade de fazer o dia de alguém de maneira tão simples, mesmo quando duvido que consiga fazer algo por mim mesma. Hoje descortinei uma faceta em mim que sabia que existia, mas que nunca tivera chegado a um nível tão assombroso quanto este. E eu não poderia estar mais feliz por ter decidido não desistir de mim mesma.

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