Desmistificando mitos africanos + GALLERY

Vim aqui com uma galeria desmistificar uns quantos mitos acerca da raça africana. Vejo que é bastante comum as pessoas tomarem por verdadeiras situações que, por experiência própria, sei que não o são. Mesmo pessoas que partilham da mesma etnia que eu, tendem a acreditar em algumas coisas que lhes foram ditas no decorrer da sua vida, por vezes nunca parando para refletir ou mesmo pesquisar por uma outra realidade (e confesso que também já fiz parte deste pequeno grupo de pessoas). Em função deste texto que escrevi há umas semanas, achei pertinente completar aquilo que disse com o meu rosto, as minhas expressões, aquilo que sou, aquilo que tenho, sempre com bastante orgulho. Não vejo porque esconder a forma como a minha juba tende a acordar – mesmo que para as fotografias, tivesse de o bagunçar -, não vejo porque não pousar de vez em quando e não vejo porque não partilhar estes meus pensamentos convosco.
COMEÇANDO PELA QUESTÃO DO BRONZEADO \ por muito incrível que se pareça, nós de pele negra também ganhamos cor durante o verão. Parece ser a informação mais alienígena do universo, mas é uma realidade que existe. Eu sou uma pessoa que nasceu com um tom de pele amulatado mas que, com o passar dos anos, tenho vindo a escurecer por viver num país onde quando o sol vem para reinar, reina. Durante o inverno costumo estar mais pálida do que no verão, tendo como argumento a zona dos olhos, onde não bronzeio devido à proteção dos óculos; e as zonas que ficam, obviamente, protegidas pelas roupas. Como podem perceber, a nossa melanina também entra em ação com a luz e a essa conversa de que não precisamos de protetor solar é só uma mentira. Que eu saiba, ser-se negro não impede ninguém de apanhar cancro de pele devido à exposição solar.

O NOSSO CABELO TEM COMPRIMENTO \ embora também seja sensível à humidade. Quantas e quantas vezes é que eu já saí de casa com o cabelo esticado e, chegada ao destino, parecia que me tinham colocado uma tigela na cabeça? Sempre, basicamente. Essa é uma das razões que me levam a andar com o cabelo em modo coque quando tenho de sair de casa. Ter de enfrentar as condições da natureza é muito aborrecido. O mais engraçado neste tipo de situações é que quando estico uma pequena mecha de um cabelo apanhado ou encaracolado, a expressão no rosto das pessoas é impagável. Parece ser do outro mundo quando as pessoas se apercebem de que nós africamos temos, de facto, um cabelo comprido. O que contribui também para o facto de parecer que o nosso cabelo nunca cresce tem que ver com a peripécia do mesmo ser mais frágil, quando parece ser o contrário. Por causa da questão da humidade, os nossos fios capilares tendem a secar e, consequentemente, essa secura ajuda ainda mais para a danificação do cabelo. Por essa e muitas outras razões é que é MUITO comum os africanos andarem munidos de mil e um hidratantes de cabelo, shampoos especiais e muita máscara.

NÃO EXISTE RESTRIÇÃO PARA OS PRODUTOS CAPILARES QUE PODEMOS UTILIZAR \ finalizando o ponto anterior, deixem-me que vos informe de que é muito possível os negros utilizarem shampoos da gama GARNIER ou mesmo da H&S. Já tive colegas que me perguntavam se estes produtos funcionavam connosco, e sim, o nosso coro cabeludo fica muito bem lavado, obrigada. Cabelo não deixa de ser cabelo. Da mesma maneira que existem vários tipos de pele, existem também diversos tipos de cabelo. Eu sei que disse que o nosso cabelo tende a ser mais frágil, contudo, como é óbvio, devem existir negros cujos cabelos são mais resistentes do que outros. Esta situação difere muito de pessoa para pessoa, e de tratamento para tratamento.

NEM TODOS OS AFRICANOS SABEM DANÇAR \ não sei porquê, mas existe esta ideia muito engraçada de que todos os africanos sabem dançar. Grande parte pode sim estar familiarizado com a cultura da música e da dança, mas nem todos saem por aí a dançar kuduro ou kizomba. Eu, por exemplo, já soube dançar melhor kizomba do que agora. Talvez porque nunca mais tive com quem dançar, mas a verdade é que quando a música toca, eu simplesmente reinvento o meu próprio estilo… Ou mesmo o kuduro. Sempre que alguém solta o beat, vários olhares caem sobre mim, como se eu tivesse a capacidade de me partir toda, como muitos fazem. Dou uns quantos toques, mas nada de extraordinário. Para além de mim, também já conheci muitas outras pessoas que não sabem dançar a famosa kizomba. Há artes que nascem connosco e outras que aprendemos. C’est la vie.

NÓS TAMBÉM ENVELHECEMOS \ mas não parece, devido à nossa constituição genética. Foram séculos a habitar em condições diferentes das dos europeus, daí os africanos parecerem sempre jovens. Seja em que país for, por vezes torna-se difícil dizer se se passaram milénios na vida da pessoa, ou se o tempo simplesmente parou. Já olharam bem para a cara do Morgan Freeman? Este senhor é a prova viva disso!
FAZER CACHUPA NÃO É DO OUTRO MUNDO \ costumo afirmar que quem sabe cozinhar feijoada, certamente estará preparado para confeccionar uma boa de uma cachupa. A única coisa a acrescentar é o tipo de milho certo, para que a refeição esteja pronta a horas. E qualquer coisa, sempre existe o google para vos facilitar eheh.
METADE DA MINHA FAMÍLIA É BRANCA \ aqui está mais uma outra concepção que não se encaixa na mente de certas pessoas. Lá porque tenho o tom de pele mais escuro, isso não me impede de ter familiares brancos. Posso não conhecê-los a todos, mas o facto é que nos tempos em que os brancos andavam de cá para lá, e de lá para cá, muitos bebés foram feitos e nasceram. Eu, feliz ou infelizmente, venho de uma família onde brancos e negros se foram encontrando, até ter chegado o dia em que  nasci. Vão a ver, e eu sou capaz de ser dos membros da família com um tom de pele mais torrado, do que por exemplo os meus primos. Dois deles, que me são mais chegados, ao pé de mim são branquelas, apesar de serem considerados mulatos. Circunstâncias que acontecem!

Por agora, deixo-vos com estes factos. Sintam-se à vontade para colocarem questões, ou até mesmo para desmistificarem mais mitos! Em breve, talvez vos traga mais uma publicação destas, é claro, se o cérebro contribuir!

8 thoughts on “Desmistificando mitos africanos + GALLERY”

  1. Simplesmente adorei! Sou branca, e bem branquela mas o facto de ter crescido rodeada de toda esta cultura africana, visto que grande parte da minha infancia foi com amigos negros e o facto de ter um namorado africano também sei bem ao que te referes com todos estes "segredos" que "nós" brancos não entendemos muito bem hahah. De certa forma todos nós somos iguais ou parecidos e a cor da pele é apenas isso mesmo, a cor da pele, nada mais, e para certas pessoas isso ainda custa a entender. Mas de facto também têm culturas que nos separam e se se juntarem formam mundos incríveis. Descobri a maioria destes mitos ao longo do tempo, alguns com amigos meus de infância, e outros agora com a minha segunda família. Mas adorei o post, acho que explicaste cada ponto super bem e com a maior sinceridade de sempre. E sim, é verdade que para "nós" algumas coisas são "um espanto" mas nada que algumas coisas nossas também não sejam "mitos" para "voces" e nada melhor do que irmos aprendendo com isso mesmo 🙂 Mais uma vez adorei muito e olha que eu tou a tentar aprender a fazer cachupa mas a cachupa do meu amigo cabo-verdiano é bem melhor que a que a minha mãe faz hahah.
    Beijinhos, Bea

  2. Que giro! Desconhecia algumas e esclareces te me quanto a outras! É verdade que com a pele escura também podem apanhar escaldões ou é mito? Sempre tive curiosidade Lyne! Estas de parabéns pela publicação, muito bem concebida!

    1. Muito obrigada Leonor!
      Respondendo à tua pergunta: o que é um escaldão? Uma consequência de se estar exposto ao sol por uma longa duração, sem cuidados tais como o protetor, um muito conhecido. Ora bem, sei que parece a coisa mais improvável, e falo mesmo por experiência própria e por ter contacto com as minhas tias que são uns tons mais claros do que eu, que sim, é possível os negros apanharem escaldões. Não de uma forma intensa como os brancos, devido à forte concentração de melanina que temos à vista (e que confere uma maior proteção), mas é algo que pode acontecer. Podemos não ficar com a pele avermelhada – e falo-te dos que têm o tom de pele como eu – mas a superfície fica claramente ressequida, ficamos com comichão e por vezes descamamos. É a mesma situação das nódoas negras: reparas melhor numa numa pessoa de tom mais claro do que notarias em mim, embora a nódoa por lá estivesse!
      Espero ter-te esclarecido e agradeço imenso pelo interesse!
      Beijinhos! :*

  3. Gostei bastante do post, até porque mostra que independentemente da cultura ou do sitio de onde somos, nós fomos, somos e seremos todos humanos. Por vezes as pessoas esquecem-se desse pormenor. Gostei deste post por isso mesmo por mostrar isso e desvendar alguns dos mitos que se dizem por aí 🙂

  4. Adorei o post, parabéns! Também sou africana ;)) Nunca tinha ouvido pessoas a achar que nós só tínhamos o cabelo curto xD Até porque o meu é uma autêntica juba.

    Beijinhos e parabéns,

O que pensas sobre o assunto? Gostaria de ler a tua opinião! ♥

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