Já pararam para pensar na quantidade de problemas que poderiam vir a diminuir se os media modificassem a sua maneira de trazer ao mundo a abordagem dos corpos humanos? Talvez esteja a levar o assunto de uma forma bastante utópica, mas a verdade é que hoje dei por mim a pensar na influência que uma capa de revista pode exercer numa pessoa que tenha o espírito um pouco virado do avesso. Aqui não existem os influenciáveis e os influenciados. Penso que todos nós acabamos por ceder, mesmo que por meros segundos, à tentação de desejarmos uma parte daquele corpo no nosso corpo… E recordo-me, precisamente, do vídeo que assisti no blogue da Jiji, numa publicação onde ela abordou a falta de auto estima por parte dos homens, pessoas que também são vítimas desse mal.
Hoje em dia, os meios de comunicação têm um poder extraordinário nas mãos. Basta que publiquem qualquer coisa que vá ao encontro de um desejo, que meia dúzia de pessoas acredita, adere ou comete loucuras tendo isso como base… E, a meu ver, de um olhar que já se deixou rebaixar pelo tanto que já viu, isso é um absurdo. Não só certas coisas que ganham a atenção do público, como também a forma chamativa com que ele é influenciado. E pudera muita gente saber que aquele corpo brilhante, liso, sem qualquer imperfeição sofre de uma maneira ilusória através do photoshop. Menos cinco centímetros de cintura aqui, um pouco mais de massa ali no peito, porque não umas pernocas musculadas também? Tudo alterações que, impossíveis de se realizarem com a simples prática de uma alimentação saudável feature exercício físico, obrigam à recorrência de cirurgias que, por sorte ou não, funcionam com sucesso. Mas porquê tanta mudança? Será pelo dinheiro, ou por outra coisa qualquer? – eis as perguntas para as quais não tenho uma resposta bem fundamentada para vos dar.
Este assunto é o que mais me perturba no dia a dia. Eu sou muito observadora, gosto de captar detalhes que de certa maneira me podem ajudar num futuro próximo, mas se há coisa que eu nunca compreenderei é isto, esta reviravolta que nunca mais chega e que poderá ajudar o público, parte dele a sofrer de doenças alimentares e depressivas em prol de um modelo corporal que não existe. Existe sim a saúde, essa que importa para que tudo em nós possa funcionar, mas será que interessa a essas pessoas? Nós temos o direito de vivermos livres de nós mesmos e não daquilo que a sociedade nos “manda” fazer… E sendo os media quase o centro de muitas informações que passam e repassam entre nós, seria assim tão doloroso sentarem-se tranquilamente e debaterem este assunto? Eu acredito que muitos já tenham tentado isso, mas custaria à esmagadora maioria dos mecenas da moda, fotografia, meios de comunicação, etc., ponderar em deixarem de fora esses retoques no corpo de um modelo e descortinar a sua própria realidade enquanto um ser humano, com as suas imperfeições?
Há coisa de sete meses, a Zendaya publicou no seu instagram uma foto que me fez observá-la por trinta minutos, antes de fazer qualquer tipo de acento negativo para com o telemóvel. Juntando aos retoques que já vi serem feitos no programa do America’s Next Top Model, e com esse vídeo do BuzzFeed, recordar-me desta publicação (entre muitas outras manifestações por parte dos modelos) dá-me ainda mais razões para defender que os meios de comunicação e os mecenas que os financiam deveriam unir-se e apoiar não só a moda plus size (essa que também tem o que se lhe diga), como essencialmente abandonar aquela ideia de que uma pessoa só será bonita e feliz se for magra (quase de um modo esquelético), musculado (quase a rebentar pelas costuras) e tão brilhante como a chapa de um carro acabado de polir.
6 Comments
Noelle Simpson
25 de Maio, 2016 at 10:56concordo perfeitamente contigo. quando era mais nova, era bastante mais pesada e sempre sofri do mal que a maior parte dos adolescentes (raparigas E rapazes, como disseste e bem) sofrem, que é achar que deviam ser como as pessoas que vemos na tv.
a verdade é que, como essas mesmas pessoas são quase todas iguais aceitámo-las como sendo "o normal" quando na verdade as pessoas com o aspeto físico típico dos filmes correspondem talvez a 5% de toda a população.
pergunto-me quantos problemas de auto-estima não se iriam resolver se começassem a usar pessoas comuns nos media, em vez dos modelos com corpos perfeitos. no entanto, penso que as pessoas não estão prontas para tal. as pessoas querem é ver gente bonita, se vissem alguém como eles o mais certo era pensarem "ah e tal este é como eu, não vou ver isto" e desvalorizarem a pessoa… :/
beijinhos, Noelle 🙂 http://supergirlinconverse.blogspot.pt/
Carolayne R.
27 de Maio, 2016 at 20:26Vendo desse ponto de vista, acaba por fazer sentido o que disseste…
Eu já fui bastante influenciada por esse tipo de publicidade, mas ultrapassei. Apesar disso, o mundo continua cheio de pessoas com este tipo de problemas e isso preocupa-me não só pela saúde delas mesmas, mas principalmente porque um dos grandes culpados (neste caso, os media, a sociedade, etc) têm tudo para amenizar a "dor" e nada fazem por isso! Mas enfim… É esperar para ver!
Ricardo Francisco
25 de Maio, 2016 at 15:12Infelizmente esta é uma prática antiga e altamente comum que tão cedo não vai a lado nenhum. Cada vez que me lembro das alterações todas que fizeram no corpo da Katy Perry numa capa da Rolling Stone, até me dá uma coisinha má. É que se fosse para retirar uma porcaria num dente ou uma borbulha, tudo bem, agora modificarem quase por inteiro a anatomia de uma pessoa, é ridículo!
Ricardo, The Ghostly Walker.
Carolayne R.
27 de Maio, 2016 at 20:20Ridículo é pouco para descrever esse tipo de situações…
Tal como disse, tal esteja a pensar dum modo bastante utópico, mas eu sei que modificar os corpos dos modelos será sempre e eternamente algo que os media farão enquanto tiverem um negócio para gerir… E o público que continue a sofrer com o que sofre porque eu duvido que isso interesse aos grandes mecenas…
Nádia
27 de Maio, 2016 at 0:07O teu texto fez-me recordar um episódio a que assisti há uma semana, num autocarro. Raparigas de quinze ou dezasseis anos a falar sobre uma outra que não estava presente, dizendo que é melhor que ela comece a poupar para a cirurgia estética porque tem as mamas pequenas. Custa-me muito ouvir isto porque sei que aquelas miúdas nunca pensaram no assunto, estão apenas a repetir um estereótipo. É mesmo surreal a imposição de um determinado tipo de corpo. Mas também não gosto do termo "esquelética", que ouvi demasiadas vezes em adolescente. Uma pessoa muito magra nem sempre faz dietas loucas, muitas vezes não escolheu o corpo que tem (eu se pudesse escolher continuaria a escolher este corpo, mas isso é irrelevante para a questão), e esquelética é um termo mesmo feio. Na imagem da Zendaya, não percebo porque é que quiserem torná-la cor-de-laranja…
Carolayne R.
27 de Maio, 2016 at 20:16Peço desculpa se o termo te ofendeu, mas não tinha quaisquer intenções de ferir alguém. Assim como o termo "baleia", o termo "esquelético" é terrível de se utilizar, mas para passar a ideia, não me ocorreu uma outra palavra para refletir os meus pensamentos. Usei-o como exemplo, e talvez não tenha sido dos melhores, mas infelizmente há quem faça um uso pior da palavra e isso é uma das coisas que a sociedade, incluído nós jovens, deveriam evitar utilizar pois eu sei o quanto magoa…
Quanto a essas jovens do autocarro, vê-se que elas não devem ter um pingo de consciência porque julgar os outros pelo físico é ser-se ainda pior mentalmente.
E sim, não dá mesmo para entender as mudanças feitas na foto da Zendaya…