E esta mente que não se cala. Coisa mais irrequieta do que os movimentos lá da rua num dia de verão. As vozes que a habitam sussurram-me em cada canto aquilo que devo ou não devo fazer, aquilo que devo ou não devo dizer. Se considero impossível conviver com a confusão lá fora, acho cada vez mais insuportável ter de conviver com aquilo que tenho dentro de mim. Não que seja repulsa, rejeição; é mais a incompreensão que me obriga a agir assim. Eu juro que quero poder abraçar aquilo que me caracteriza, mas esta cabeça tem de se fazer entender. Estas sensações presas em cada articulação têm de contribuir com o desejo de querer explorar até não sobrar um único sinal de fôlego. Quero que me seja capaz abrir a mente e observar lá por dentro, como um pássaro que fita os limites ilimitados do céu, lendo-lhe cada nuvem, cada cor, qualquer sinal que o avise de que o perigo está por vir, o obrigue a fechar as asas e a acolher-se no seu ninho. Quero, antes de qualquer um, saber o que é que se passa nestas matriorcas a que se chamam “pensamentos”. Quero sabê-lo de mim, antes de ansiar conhecê-lo noutro alguém. Se as pessoas não compreendem o uso excessivo de auscultadores, passo a explicar. O que me é dado através deles, consegue acalmar a agitação que vive em mim. Embora não extinga por completo o pandemónio, o certo é que não tenho de dividir meio raciocínio com o lado louco da minha pessoa. O meu exterior traduz uma personagem calma, talvez introspetiva em demasia, mas são apenas as fases a falarem com as próprias vozes. Tal como a lua, eu tenho os meus momentos. Tal como a chuva que se adivinha, tudo em mim aquece ou arrefece. E por dentro, no ponto onde borbulham futuras erupções, a mente não se cala. Quando não é pela boca, é pela agitação que se reflete no olhar, na perna trémula, no meu desaparecimento “astral” num convívio frenético. Quando não é pela boca, é pela mente que não se cala.
– Carolayne T. Ramos
2 Comments
Miguel Gouveia
30 de Abril, 2016 at 9:51Ohn, meu Deus!!! Fico sem saber como te agradecer. É uma honra enorme sentir isso, juro!!!
E acho que fazes muito bem continuar a escrever porque o fazes de uma forma incrível. Consegues teletransportar-me para um imaginário muito real.; consegues pôr-me a refletir o que nem sempre é fácil!
Tal como referes, a mente não se cala. É capaz de falar e de interrogar mais do que a boca. É algo que nem nós próprios conseguímos controlar!
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Carolayne R.
1 de Maio, 2016 at 2:06Ultimamente, os teus comentários têm-me dado um boost incrível para escrever! Muito obrigada por isso! Fico bastante feliz por estares a gostar do meu trabalho. Espero não vir a desiludir no futuro!