Hoje foi dia de assistirmos a uma espécie de palestra. Um senhor que trabalha no meio do empreendedorismo foi convidado pela associação de estudantes da minha escola para nos ajudar acerca desse assunto e, embora tenha torcido o nariz ao início, a verdade é que acabei por gostar da atividade. Houve uma apresentação acerca daquilo que se ia falar, escolhemos um tema para debater e a conclusão a que eu cheguei depois de abandonar o auditório foi que nós vivemos numa sociedade demasiado avançada para retrógrada. “Então, mas hoje em dia podemos ter acesso a tanta coisa e muitos direitos foram conquistados. Como podes afirmar que vivemos num tempo atrasado?” – pois bem, passo a explicar. Estando num curso de Artes, um colega meu sugeriu debatermos acerca do facto das pessoas do nosso curso serem postas de parte em muitas ocasiões, nomeadamente em termos de empregabilidade. Fizemos um brainstorming, foram criados grupos aonde se pudessem arranjar possíveis soluções para este problema. E o que acabámos por encontrar após escavações é que muito pouco depende de nós. É verdade que se cada um de nós mover as montanhas para a frente, muita coisa se poderá vislumbrar na paisagem, porém, é graças ao trabalho que é feito na política, meios sociais e etc. que reside a origem deste problema. Se nas escolas não nos são apresentados este tipo de problemas, se ainda não existem estímulos suficientes para nos fazer ver, realmente, em que área nos sentimos realmente bem, se debaixo do nosso tecto somos incutidos a fazer aquilo que nos dizem, como é que é possível valorizarmos o mundo das artes e sermos pessoas inovadoras? É impossível existir inovação se o meio que nos rodeia não nos facilita nessa tarefa. Tal como o senhor que nos deu a palestra disse, o facto de sermos diferentes dos outros torna-nos inovadores, mas tal como refutei, não existe inovação se não nos for dado algo velho para fazermos frente. É praticamente improvável existirem escolas e pessoas que dêem o verdadeiro valor às artes quando nem se esforçam para tal.
Mesmo que continuem a existir trabalhos artísticos fantásticos, nomes bastante conhecidos, o cinema, a música, a dança, a literatura, a pergunta que muitos insistem em repetir como que em um disco riscado permanece ao longo dos tempos: “Mas para que é que servem as artes?”. Há muito que desisti de explicar que a arte não é só pintar linhas e ficar de pernas cruzadas em cima da mesa. Por vezes parece que, quanto mais explicamos algo, mais ouvidos moucos aparecem. É quase que uma falácia tentar negar que a sociedade em que vivemos é, meramente, científica. Sim, é um facto de que não existiriam altos computadores e smartphones se não fossem os designers que, muito provavelmente, estudaram num curso direccionado para as artes, assim como os programadores que tiveram de estudar algo mais científico e tecnológico. E mesmo sabendo destas coisas, o que é que as pessoas continuam a afirmar? Que não existe saída e que não há dinheiro para tal. É mais que natural as pessoas do meu curso ficarem frustradas. Não é para menos, andamos nós a fazer algo que amamos para sermos apedrejados e rotulados de preguiçosos que não querem levar com a matemática. Embora defenda que tudo o que fizermos com amor tem saída e dá dinheiro, não posso negar que, se não houver interajuda, investimentos e uma boa receção por parte das pessoas, tão pouco existirão estradas que nos facilitem a chegada ao sucesso.
Foi uma boa palestra, tenho de admitir. Por muito pouco que tenha durado, foi o suficiente para me obrigar a pensar neste assunto de uma maneira mais racional e mais da minha maneira. E graças a esta pequena luz do dia, sinto-me uma pessoa diferente e com uma nova motivação para fazer as coisas… Porque nós não fomos a uma pequena palestra falar só das artes e os seus problemas. De certa forma, nós pudemos ter a oportunidade de aprender uma outra forma de termos sucesso enquanto pessoas informadas.
7 Comments
Ricardo Francisco
26 de Fevereiro, 2016 at 17:51Desde que me lembro, o curso de Artes sempre foi visto com "maus" olhos. Nunca percebi porquê, mas quando se falava de alguém dessa vertente, seguiam-se comentários do género "ah, já percebi" como se fosse alguma criatura do outro mundo. É ridículo. O mundo, e especialmente o nosso país, precisa desesperadamente de incentivos às Artes. Quanto à empregabilidade, o mal é geral. E agora que penso nisso, conheço mais pessoas que conseguiram trabalho nessa área que na minha (Comunicação Social). O importante é não desistir!
Ricardo, The Ghostly Walker.
Carolayne R.
28 de Fevereiro, 2016 at 23:16Mal comecei a minha vida de artista e já tenho de levar com estas coisas. Tal como aprendi a fazer com muitos outros assuntos, a melhor solução é ignorar as reações e as bocas sujas… E sim, acho que Portugal deveria apostar e divulgar muito mais acerca do tema "Artes", sem fazer parecer que é uma área digna de "preguiçosos". Existe tanto que esta área nos pode dar que nem passa pela cabeça de muitas pessoas! Mas fazer o quê, não é verdade? Enquanto der para isso, desistir nunca será opção!
Vanessa
28 de Fevereiro, 2016 at 21:24É um tema que a mim já me cansa. Sempre que falo no curso que tirei, a resposta é imediata "ahh" com um ar de "ok, Artes". Sempre foi assim e acho que sempre será assim, porque as pessoas vivem com a Arte escarrapachada à frente dos olhos, todos os dias, a toda a hora, mas ignoram-na. As pessoas não compreendem que vestem roupa que alguém criou; que moram em casas que alguém desenhou, que têm objectos nessa casa que alguém criou; não compreendem que o telemóvel tem apps, tem imagens, tem coisas interessantes, porque alguém de Artes ou de Informática o fez; não querem compreender que a Fotografia está ligada à Arte, quando vão tirar as estúpidas fotos tipo passe; muito menos compreendem que até a televisão para onde olham todos os dias tem imensoooooos elementos ligados à Arte. Tudo na vida quotidiana roda à volta da Arte, mas as pessoas não compreendem, desprezam isso, olham-nos como preguiçosos, como alguém que não quer fazer nada da vida, etc.. A tecnologia, a comunicação visual, etc., melhoraram e não foi graças aos engenheiros, médicos, etc., foi graças à Arte, à Informática, aos desgraçados que são postos de parte pela sociedade.
Mas vive-se bem com isso, com a parte inculta de sociedade xD
nuages dans mon café
Carolayne R.
28 de Fevereiro, 2016 at 23:19Só alguém de Artes para compreender a duzentos o que é ser-se alguém de Artes x) Mas há-de vir ao mundo alguém que faça luz à sociedade e a obrigue a compreender que tudo à sua volta existe devido às artes!
Vanessa
29 de Fevereiro, 2016 at 0:16Mantem a fé nisso, Carolayne! xD
Já nem sequer acredito nisso. Artistas fantásticos que existiram outrora, como o Da Vinci que inventou 1001 m****s e que pintou quadros impressionantes ou como Miguel Ângelo ou Picasso ou Dali ou … sei lá, podia levar aqui imenso tempo a falar dessas coisas, mas não valia de nada. Eles morreram, deixaram história, marcaram a história e… provavelmente uma minoria da população mundial tem conhecimentos de história, quanto mais da história da arte.
Mas é como o Ricardo diz no comentário dele e eu conheço casos desses: o problema do emprego está para todas as áreas, mas há boas saídas para Artes que não há para cursos ditos "decentes"/com futuro/wtv que lhe queiram chamar. Geralmente, na nossa área, há trabalhos onde ao entrares e gostarem de ti, ficas efectivo, sem contar que fazes o que gostas, um dia inteiro e não te cansas.
Carolayne R.
29 de Fevereiro, 2016 at 1:02Mas que existe saída que se farta para a nossa área eu sei, agora experimentemos explicar isso às pessoas que julgam o contrário xD
Vanessa
29 de Fevereiro, 2016 at 15:57Acabei de sair de um estágio fora da minha área, onde fiz dois websites e a resposta que me deram no final foi "bom, ao menos aprendeu a fazer websites" e eu disse "aprendi? não, já os sabia fazer, aprendi foi a usar um programa diferente sozinha, isso sim". Não aprendi nada num estágio de RP… aliás, nem sei ao certo o que se passou em 9 meses.