Book review \ “O retrato de Dorian Gray”

Título original: The picture of Dorian Gray
Autor: Oscar Wilde
Tradução: Artur Parreira
Editora: Editorial Verbo (Livros RTP)
Páginas: 224
ISBN: —–

 

Sinopse: Dorian Gray é o tema de um retrato de corpo inteiro em óleo de Basílio Hallward, um artista que está impressionado e encantado com a beleza de Dorian. Ele acredita que a beleza de Dorian é responsável pela nova modalidade na sua arte como pintor. Através de Basílio, Dorian conhece Lord Henry Wotton, com o qual se encanta pela sua maneira de pensar e agir. Entendendo que a sua beleza desaparecerá, Dorian expressa o desejo de vender a sua alma para garantir que o retrato, em vez dele, envelheça e desapareça. O desejo é concedido e Dorian persegue uma vida libertina de experiências variadas e imorais. Enquanto isso, o seu retrato envelhece e regista todos os pecados que corrompem a sua alma.

 

Este foi o primeiro livro que mudou, de maneira drástica, a forma de eu tratar certos livros. Não é um hábito meu sublinhar certas passagens ou dobrar as orelhas das páginas, mas com este livro foi diferente. Para começar, nas primeiras páginas, somos presenteados com frases que nos obrigam a parar durante uns segundos e cogitar. E por muito que me custasse ao início, a melhor solução que eu encontrei para nunca me esquecer de tais passagens foi ao sublinhar com marcador amarelo as que me raspavam a alma de modo positivo.

“O retrato de Dorian Gray” é o tipo de livro que ou se gosta ou se desgosta. Embora o seu ano de origem, a escrita de Oscar Wilde é bastante simples, fluída e descomplicada. É o tipo de escritor contemporâneo que arrasa com todos os outros por quebrar aquela noção de escrita complicada, palavras a chinês. Engane-se quem pense que esta leitura só se mistura com coisas clichés e assuntos da arte. Este livro é muito mais do que isso. Esta obra foi feita para aqueles que andam à procura de certas respostas para muitas perguntas. Dotado de questões filosóficas bastante pesadas, este exemplar fornece-nos um panorama diferente de que estamos habituados a ver do papel de cada pessoa no século XIX. As mulheres não são assim tão frágeis, embora o papel do homem seja mais “apreciado” e respeitado.

“O segredo da permanente juventude é nunca ter emoções inconvenientes” – Lord Henry

O trio principal representa muito bem certos tipos de grupos que existem, até hoje, no mundo. Basílio representa a moral, os bens e os costumes. É o tipo de pessoa que se afasta de qualquer confusão e que zela pelo bem dos seus. Sendo um artista, a sua noção de beleza e conservação da mesma chega a ser um pouco exagerada, o que acaba por exercer em Dorian certos tipos de atitudes. Por outro lado, temos Lord Henry, um homem culto e bastante excêntrico que leva a vida numa boa e despreocupada.

De opiniões e reflexões extraordinárias, Henry desempenha o papel dos ensinamentos da vida que muitos tentam alcançar, assim como interpreta o gatilho para abandonarmos a ingenuidade. Em suma, Henry é uma espécie de “diabinho” ao lado de Basílio. Por último e não menos importante, temos a personagem principal, Dorian Gray. Bonito, rico, cavalheiro. Porém, bastante ingénuo para a idade que tem. Dorian é tudo aquilo que já fomos um dia. Meras crianças que não sabem distinguir o bem do mal. Não que fosse uma má influência, mas as convivências com Basílio impediam-no de explorar o mundo à sua volta.

Até Henry enquadrar-se na sua vida, para Dorian qualquer coisa servia. Mas, a partir do momento em que o mesmo teve de escutar coisas que o fizeram pensar e desejar a jovialidade eterna, a sua vida dá uma volta de 180º e nada mais passa a ser o mesmo. Não só por me ter sido oferecido e indicado por uma grande amiga, mas também por fazer jus a muitas opiniões que vagueiam por aí. Eu adorei este livro. Posso ter levado o meu tempo, mas de forma inconsciente foi para poupá-lo. Não me faltava a curiosidade para saber o final, assim como o medo de o alcançar. O desenvolvimento de Dorian e as descrições que o acompanham, favorecem ao livro aquele toque especial que o caracterizam. E repito, as passagens são extraordinárias. Curiosamente ou não, (quase) todas elas pertencem a Henry.

“(…) influenciar uma pessoa é transmitir-lhe a nossa própria alma. Ela não pensa já os seus pensamentos, nem arde com as suas paixões naturais. As suas virtudes não são realmente dela. Os seus pecados, se se pode dizer que existem pecados, são emprestados. Torna-se o eco da música de outra pessoa, actor de um papel que não foi escrito para ele.”

 

Um aspeto bastante significativo nesta obra é, sem sombra de dúvida, a referência que se faz às ambições do ser humano. E ninguém melhor do que Dorian Gray, um jovem ingénuo que se transforma em alguém insuportável, para o representar. Arrancado da sua bolha protetora, nada mais poderia ser feito a Dorian, para além de abraçar os pecados, as imoralidades, a vida. A sua primeira paixão ensinou-o a ser alguém frio mas com remorsos, alguém dono das suas decisões, mas dependente da opinião de Henry. Só houve apenas um momento em que Dorian sentiu-se “escandalizado” pela influência que Henry exercia sobre si, mas tudo o resto abafa essa situação. E nada mais substitui os momentos finais desta obra.

O desespero, a angústia, a curiosidade de levarmos tudo aquilo avante. As mudanças que o retrato da personagem principal vai sofrendo, acompanhando as ações do mesmo. O retrato tem um valor bastante simbólico. Para além de personificar o reflexo de alguém através de um espelho, o retrato são os sentimentos, as ações e os pensamentos organizados através de linhas que se desenformam, cores que se tornam mais sombrias e expressões que vão envelhecendo. Em contraste com a figura jovem de Dorian com o passar dos anos, o seu retrato é a realidade que muitos optam por trancar a sete chaves num quarto fechado, adotando gestos que não são seus. E isto meu amigos, é a realidade que podemos encontrar hoje em dia.

Resumindo e concluindo. Eu sei que já falei imenso, ao cabo que talvez não tenha falado nada! Mas sendo bastante sincera, se eu me colocar aqui a escrever mais, não saímos daqui hoje. E existiriam grandes probabilidades de nascerem spoilers pelo meio. Porém, tenho a acrescentar que, para mim, este foi um dos melhores livros que eu já li, para além de ter aprendido bastante com o mesmo. Penso que esta obra é daquelas que toda a gente deveria mesmo ler, libertando-se da preguiça, dos preconceitos para com os contemporâneos e daquela curiosidade que eu sei que existe.

Ser bom é estar em harmonia consigo próprio” – Lord Henry

6 thoughts on “Book review \ “O retrato de Dorian Gray””

  1. Adorei ler esse livro! É um clássico da literatura. Faz-nos reflectir sobre a arte e a vida. Dorian Gray foi um dos livros que mais prazenteiros que li, ainda bem que existe alguém que sente o mesmo.

O que pensas sobre o assunto? Gostaria de ler a tua opinião! ♥

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