Título original: Sputnik Sweetheart
Autor: Haruki Murakami
Tradução: Maria João Lourenço
Editora: Casa das Letras
Páginas: 236
ISBN: 978-972-46-1582-0
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Sinopse: O narrador, um jovem professor primário, está apaixonado por Sumire, uma rebelde que conheceu na universidade. Um dia, num casamento, Sumire conhece Miu, uma mulher fascinante e misteriosa, de meia idade, por quem se apaixona loucamente, acabando por se transformar na sua secretária. Partem para a Europa, numa busca que as empurra para uma estranha e mútua descoberta, e também para um desenlace assombrado.
Este foi o primeiro romance do Murakami que eu li. Não posso dizer que tenha amado a história, mas também não detestei. Algo que me chamou a atenção, à primeira vista, foi o facto deste livro relatar a história de um relacionamento homossexual. E li-o com muito agrado por ter sido recomendado e emprestado.
Este não é um livro que siga a dita cuja narrativa “normal”. Não é Sumire, a personagem principal, que fala da trama, nem tão pouco Miu, uma das personagens secundárias. Mas sim K, o jovem professor que nutre uma paixão por Sumire. Na maior parte da narrativa, identifiquei-me bastante com ele, não só pela forma como retrata minuciosamente toda vida de Sumire, mas principalmente pelos pensamentos profundos que o caracterizam. K é de uma inteligência que transparece nas suas passagens o seu modo de viver e as coisas em que acredita. Mas engane-se quem conta com uma história de amor magnífica, ou reviravoltas de tirarem o fôlego. No início da leitura, eu estava ansiosa para o desenrolar da mesma. A meio, todas as perguntas suspensas na minha mente permaneciam sem resposta. Cheguei ao fim com um vazio que me preenche a alma inteira. Não sei se é angústia por não me sentir esclarecida, ou revolta por não me sentir esclarecida. É ambíguo.
K dá-nos a conhecer um pouco de Sumire, mas quase nada de si mesmo. Apenas meia dúzia de linhas tiveram a função de o apresentar e mesmo assim permanece a dúvida da sua identidade… Algo que parece ser bastante comum nos livros de Murakami. Embora secundárias, as personagens que narram as histórias nunca se apresentam. Algo que parece ser bastante interessante. Quando de viagem para a Grécia e após o acontecimento macabro por lá, julguei que a história fosse aquecer um pouco, fazendo-nos mergulhar a pique por ela, mas acabei por me desiludir. Embora Miu seja o tipo de personagem misteriosa, gostaria de ter ficado a saber um pouco mais da sua história, para além daquela que nos é dada. Quanto a Sumire, ela faz parte daquele grupo de personagens com os quais não me identifico nem um pouco. A única coisa que a complementa é K.
Mas não se assustem. A escrita de Murakami é incomparável, diferente. O escritor japonês tem uma fluidez magnífica para com as palavras e a forma como ele as monta dá um outro ar à coisa. Se não fosse pela escrita que cativa, eu já teria desistido do livro, mesmo quando a boa intenção do seu dono tenha sido boa. Sei, por experiência, que existem trabalhos bons e trabalhos menos bons por parte de um artista, e o Sputnik, meu amor nada terá que me obrigue a recuar em relação ao escritor. Aliás, por ter gostado do seu modo de escrever, Murakami passou a ser um dos que eu quero seguir, devorando o maior número de obras possível, pois acredito que ele tenha muitos bons projetos; todos eles carregados de cultura, histórias improváveis e palavras que nos fazem pensar.
Classificação da Lyne: 3.5/5
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