Sociedade Neandertal na Black Friday

Ouvir falar de saldos mais parece uma oração do que novidade. Nos tempos que correm, qualquer pessoa aproveita os descontos que são feitos nos produtos à venda. Adquirir aquela peça de roupa que é um pouco mais cara a um preço acessível não demonstra que a pessoa em questão é um ser terrível. Chama-se sentido de oportunidade. Mas chegar ao ponto de agredir o próximo por uma garrafa de desodorizante é de ficar pela cama e hibernar por uns bons milénios.

Para quem nunca ouviu falar do famoso dia de saldos Black Friday, que agora é tradição pelo mundo inteiro, não julgo (embora seja improvável. Mas vai-se lá saber). O seu nome diz tudo. Sexta-feira negra nem chega a ser exagero. É neste tipo de acontecimentos que nos apercebemos do quão desregulado pode ser o cérebro de alguém. Estão a ver aquela educação que vos dão desde pequenos. aquelas regras que nos atiram à cara na escola, os valores e a ética que nos esfregam no cérebro nas aulas de filosofia? Agora pretendam que tudo isto é apenas uma folha de papel e rasguem-na. E é isto o que acontece na Black Friday all around the world
Fonte fotográfica: Jornal de Notícias
O título desta publicação até parece uma ofensa ao ser humano, mas não é. Se vocês prestarem atenção à televisão ou pesquisarem na net os acontecimentos na black friday, vocês ficam besta. Então não é que existem seres capazes de arrancarem uma caixa de um produto qualquer das mãos de uma criança? De uma criança! Eu nem sequer me estou a referir a pessoas da mesma idade a lutarem por um par de brincos. Mas afinal, até aonde é que chega a racionalidade da nossa espécie? As lojas que aderem a este tipo de propaganda não se importam com o bem estar dos clientes que lá vão nesta altura. A única coisa que lhes interessa é chegarem ao final do dia, fazerem o fecho da caixa e chegarem à conclusão de que fizeram mais dinheiro do que o habitual. Para darem a sensação de ordem, disponibilizam meia dúzia de seguranças para um exército de pessoas, que quando menos esperam, estão a ser agredidas por um objeto que em dois dias se degrada. Enquanto uns puxam daqui e dali uma embalagem de creme, outra surge do chão aproveitando-se daquele momento, desaparecendo no mar de pessoas com o produto. A isto se chama estratégia de guerra. Mas guerra lá no Black Friday.

Nem é preciso ir longe. Há uns dias ouvi falar de um lançamento da marca Balmain na H&M aqui em Portugal, onde pessoas quase se mataram por produtos de 400 euros!! Houve até uma família que foi referida neste artigo, que acampou em frente da loja na noite de quarta feira (4/11) e que de um modo estratégico, adquiriu todas as peças da marca em questão, gastando cerca de 10,000 euros Ou seja, estamos num momento de crise e as pessoas estão dispostas a pagarem 10,000 euros por algo que nem sequer terá uso por muito tempo. Há necessidade disto? Que exemplo é que essa pessoa dará aos seus filhos e netos quando tiver de os educar? Quando tiver de dizer “Sejam bons para o próximo e aprendam a partilhar” contrastando com o vídeo da mãe ou do pai na internet, a agir de um modo selvagem injustificável? Simplesmente não há exemplo que se possa dar a partir destas pessoas. 
Tanto na loucura da Balmain como do Black Friday deveria existir um apelo durante o ano inteiro para que as pessoas se comecem a tratar antes das ocasiões. Que aprendam a ser cautelosas, calmas, que elaborem listas daquilo que querem e precisam comprar, assim como muitos fazem. Que pretendem ir às compras semanais, mas com calma. Que aprendam a ser estrategos como os da antiga Grécia. Eu não sei, mas penso que a media deveria ter um papel assim um pouco mais importante, para além de incitar a fera com um pauzinho de madeira.

Não afirmo que estas iniciativas sejam de todo uma má ideia, tendo em conta a época que lhes segue. Este tipo de propaganda é perfeita por anteceder o natal uns dias, permitindo às pessoas comprarem o que têm a comprar para oferecer, ou mesmo para seu bel-prazer. Sou adepta de saldos e descontos, aproveito imensos quando posso, mas de forma consciente, eu não acho que me colocaria no meio da selva só porque sim. Aliás, detesto estar no meio de muitas pessoas em sítios fechados. Fico bastante nervosa e com vontade de bater em toda a gente (talvez por isso é que as pessoas se agridem nestas situações. Por serem como eu, nervosas como as cobras). E para além do mais, os descontos feitos no Black Friday ou noutras ocasiões são também feitos quando as pessoas menos esperam, pelo qual não há necessidade de mergulhar pelo stress.

Mas agora a sério… Será que os neandertais seriam mais civilizados do que os homo sapiens sapiens?

2 thoughts on “Sociedade Neandertal na Black Friday”

  1. Realmente é triste ver que as pessoas quando existe este dia do ano parecem cães atrás de cadelas com o cio, que quase se matam só para ter uma peça de roupa que mais tarde irá ficar no armário! Não entendo como é que as pessoas conseguem perder a pouca sanidade mental que têm ao ponto de agredir outro ser por um pedaço de tecido ou uma cenoura em promoção. Gostei imenso do teu ponto de vista e aplaudo cada palavra que disseste!

  2. Eu vi os vídeos e fiquei chocada. Não é normal as pessoas terem este tipo de atitude por um bocado de tecido, e depois julgarem as atitudes dos outros por uma coisinha de nada… Mas enfim. Enquanto não existir um apelo em massa para que as pessoas aprendam a ser cautelosas, isto há de continuar. Fico grata por teres gostado. ?

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