E as portas fecham-se. O ar que me rodeia em tudo ou nada contribuí para que os pulmões funcionem devidamente. Tento alcançar um apoio, uma parede ou algo do género, mas deparo-me apenas com o vácuo. Tonturas e vertigens atacam-me como o inimigo num campo de batalha e o meu corpo nada mais pode fazer senão deixar-se cair, entrando em contacto com o solo. O chão frio, feito de mármore, arrefece todas as minhas células, enquanto lágrimas que se transformam em rios salgados começam a habitar o meu rosto. Mas como é que eu vim aqui parar? Porque é que me deixei levar pela escuridão que me encadeou a vista? Eu tinha mil e uma saídas, mas optei pela mais misteriosa, pela que me chamou mais à atenção. Talvez tenha sido a ausência de luz que me fascinou, a falta de respostas que se igualavam ao meu estado de espírito. Talvez tenha sido pelo silêncio, o melhor ruído que já alguma vez roçou-se-me nos tímpanos. Talvez tenha sido pela ideia de poder ficar horas e horas na minha própria companhia, a oportunidade perfeita para colocar as ideias em dia…
Mas enganei-me. Optei pelo trilho mais fácil do modo de compreensão, mas aquele que me obrigou a subir pelas armadilhas, que me obrigou a afastar galhos e picos, que me obrigou a encolher-me de cada vez que um bando de aves sobrevoava a minha cabeça. E depois apareceu-se-me esta casa, que por fora mostrava-se habitável, mas que por dentro espelha todo e qualquer tipo de solidão que me preenche… Agora sim compreendo as bocas, os avisos e as mensagens. As placas que solicitavam o meu lado racional, o meu espírito compreensivo. Agora sim compreendo quando me diziam que eu estava diferente, mais obscura, mais “reservada”. Eu estava igual a esta casa. Vazia, sem cor, a produzir eco a cada respiração, a cada suspiro. Tal como as paredes cheias de humidade, todo o meu ser mergulhava à mercê das lágrimas que se acumulavam de cada vez que me fechava do mundo que me rodeava. Tal como esta casa, eu encontro-me agora num local submerso, abraçado de árvores queimadas, jardins sem flor, rios secos e silêncio. Num local onde mais ninguém se atreverá a colocar os pés, por com certeza conservar mais força do que alguma vez já tive… Num local onde nunca receberei ajuda…
Só me resta encostar a cabeça neste chão frio, mas a única coisa que me ampara, e abraçá-lo nos meus momentos de angústia. De nada servirá se me tentar erguer e sair. Perdi a chave desta porta a partir do momento em que aqui entrei. Só me resta esperar que toda esta estrutura desabe, para poder desabar com ela…
– Carolayne T. Ramos
28/12/2015
Previous Post
3 Comments
Ísis
28 de Dezembro, 2015 at 21:18Não sei se este texto é verídico ou não mas está muito forte. E se for verdadeiro, que nunca desistas de procurar a chave dessa porta, porque a tua felicidiade depende disso.
Carolayne R.
28 de Dezembro, 2015 at 22:16Este texto é factício. Senti-me inspirada para tal (e haverão mais textos do género, tocantes outros nem tanto), mas obrigada pelas palavras 🙂
-H
28 de Dezembro, 2015 at 22:54Tão bonito. Tao intenso. Tao peculiar. Nem sei o que dizer. Parabéns!