SBSR ’16 ETERNAMENTE NO MEU CORAÇÃO

Se eu tivesse de vos fazer uma descrição visual de como eu idealizava o espaço físico de um festival, com certeza julgar-me-iam de um outro planeta que não o planeta terra, a questionarem-se de tamanha inocência, tendo em conta as fotografias, vídeos e passagens na televisão do mesmo. Confesso que nunca tinha ido a um festival “oficial” e não me arrependo nada de me ter lançado ao mesmo. Deixo bem claro, também, que apenas comprei o bilhete para o Super Bock Super Rock de 2016 com o único propósito de ver um único artista. Não construí expectativas em volta dos acontecimentos que se poderiam suceder, e tão pouco tinha em mente gastar as energias que tinha reservadas para o momento… Acontece que quando as coisas boas estão para a acontecer, o nosso corpo acaba por corresponder às mesmas, mostrando-se feito de habilidades e resistências desconhecidas aos nossos olhos…
O dia de ontem chegou (16/7) e todo o meu ser berrava de entusiasmo. Ter à frente o recinto do festival convenceu-me de que eu passaria ótimos momentos lá dentro. Passei a segurança sem problemas e deixei-me fascinar pelo ambiente que logo me saudou, sorridente e na companhia do sol que me torrou ainda mais. Fiquei deveras impressionada com a sistematização das barracas, com o espaço aberto a que tínhamos direito e com a educação das pessoas que lá estavam. Matei a fome com um dos melhores duruns de sempre, tendo a melhor companhia que eu poderia desejar. Abrimos o apetite musical, avistando ao longe os The Parrots, e embora não os conheça, abanei o capacete com as melhores intenções. Juntámo-nos ao restante grupo de amigos, alimentando ainda mais o buraco que estava dentro de nós ao som de Slow J, um rapper português que me afetou positivamente. Sentiam-se bem as influências que correm nas veias do hip hop e reparei existir uma singularidade na sua música, não fosse o meu corpo responder pela minha razão. Com certeza que terei muito cuidado em pesquisar mais acerca dele. 
A hora esperada foi-se aproximando cautelosamente, deixando para trás aquela ansiedade que se agarrou a nós. Entrámos no MEO Arena um pouco antes das 20h para que pudéssemos garantir um bom lugar na plateia, tornando-se abundante a afluência das pessoas que iam entrando. Às 20h50 entraram os Orelha Negra, uma banda portuguesa de funk-soul que desconhecia antes de verificar o cartaz, há uns tempos atrás, mas com a qual simpatizei pelo seu trabalho… Mas nunca me passaria pela cabeça que o conteúdo ao vivo seria tão, mas tão extasiante! Os Orelha Negra trabalham, essencialmente, com instrumentais de diversas músicas, fundindo-as com amostras de letras e vozes, resultando de uma composição deveras fenomenal! Por volta das 22h20, senão um pouco mais, os De La Soul fizeram uma entrada bestial, conduzindo-nos para um hip hop que nos esperava mais para o fim da noite. Foi feita uma competição amigável entre os lados opostos da plateia, com o objetivo de ver quem é que gritava e curtia mais do concerto, sendo o meu lado (of course eheh) o vencedor! Tanto um como outro integrante da banda fez o favor de parar o concerto e pedir às pessoas que guardassem os telemóveis e vivessem o momento musical sem os mesmos, pelo menos, durante três ou quatro músicas, atitude aplaudida pela maior parte do público. Aqui, já nos preparávamos para uma tal festa, que até agora me pergunto como é que me aguentei em pé durante tanto tempo.
E a hora mais esperada chegou. A atmosfera logo se transformou, acrescentando lenha àquela inquietação que nos queimava por dentro. O espaço entre as pessoas começou a diminuir, a aclamação era cada vez maior, o meu grupo se separou, mas nem isso me roubou o foco. O ecrã do palco foi elucidado com a frase “LOOK BOTH WAYS BEFORE YOU CROSS MY MIND” de George Clinton, o alvoroço surgiu dos oblíquos da nossa garganta, as luzes apagaram-se. Um dos instrumentos musicais deu início ao momento que tanto esperávamos e o Kendrick Lamar surgiu para nos iluminar a vista, para nos arrancar o pouco da força que nos restava, não fossem os nossos piores inimigos o calor, a sede e a fome. As músicas foram passando e nós fomos acompanhando cada verso daquele rap que nos é tão familiar, gritámos com todas as nossas forças, vimos o nosso ídolo chorar com tamanha emoção, nunca o deixámos desamparado com as suas letras. Nunca na vida experienciei algo assim. Quer dizer, nos tempos de adolescente, tive a oportunidade de ver ao vivo o ídolo do momento, o Justin Bieber, e até hoje não acredito que estive lá, mas ontem a coisa foi diferente. Estiverem envolvidos gritos, suores, emoções e vontades com as quais me identifiquei tão bem, as mesmas que me fizeram sentir amparada, mesmo quando metade do meu grupo de amigos estava disperso, e apenas eu e a Nobel estávamos juntas. Mesmo assim, toda aquela comunidade dentro da arena nada mais era do que uma família, unida por uma música que nos conforta em todos os momentos. Posso não ser muito prendada no que toca a ver músicos ao vivo, mas garanto-vos que tão cedo não hei de encontrar um cantor que possua tanta serenidade no olhar, enquanto os versos da sua alma se espalham por um átrio, invocando uma contestação calorosa de um público que ali está presente pelo amor que nutrem pelo artista. 
Eu já respeitava o Kendrick pela maneira como ele me faz sentir, pela paz que as suas músicas me proporcionam e pela forma sincera, madura e tão dele de abordar temas da atualidade e que chamam a atenção pelo mundo fora, mas depois de o ver ao vivo, com aquela simplicidade e aquele à vontade para connosco, a minha consideração e o meu respeito arrebentaram com qualquer tipo de limite existente dentro de mim. Se escutar alguma das suas músicas, terei ainda mais atenção ao produto que elas me podem oferecer e à diferença que podem fazer. Se escutar alguma das suas músicas, teletransportar-me-ei para aquele dia, o dia em que o vi ao vivo e a cores, com aquele sorriso super encantador e aquela aura apaixonada à sua volta, alimentando cada vez mais o meu desejo de o ver novamente. Se escutar alguma das suas músicas, terei em conta o facto do quão poderosa pode ser a música, não fosse ela uma das geradoras de um vínculo que torna as pessoas de todos os cantos do mundo iguais! 
É tão bom estar viva, ter saúde e poder viver fenómenos destes! Nunca me hei de esquecer desta sensação que transborda do meu coração, deste poder que me elucidou para viver os momentos com mais afinco. Sempre que me sentia incapaz de me lançar aos céus, sendo as minhas molas aquela música, o Kendrick amarrava-se ao microfone e eu rejuvenescia, pulava, gritava, esquecia-me daquelas pessoas em meu redor, daquela fadiga que habitava o meu peito, daquela loucura generalizada e entregava-me à minha própria loucura. No final, quando tudo acabou, o meu troféu veio em forma de água e nunca me soube tão bem humedecer a garganta e levar com a brisa da noite. O dia pode não ter começado da melhor maneira, mas todos os esforços valem sempre a pena quando a luz do nosso túnel nada mais é do que um pedaço da nossa alma que nos reencontra pelo caminho.

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