Por muito que paisagens tais como o Gerês, a Serra de Sintra e o Grand Canyon nos arranquem os suspiros mais profundos do nosso ser, a verdade é que nenhuma destas e tantas outras paisagens ao longo do mundo se podem gabar da sua pureza. O surgimento das primeiras cidades – consequência do sedentarismo dos povos – passou a ser um dos muitos fatores para que a intervenção do Homem se fizesse sentir na zona onde ele se fixasse. Um simples desenho geométrico no solo perto de montanhas, é o suficiente para que a pureza daquele local seja corrompida… E tudo porque não existem formas geométricas na natureza, e sim formas e relações que são complexas e difíceis de explicar. Um simples socalco na paisagem do Douro é o suficiente para que toda aquela natureza que o circunda deixe de ser autêntica. Daí afirmar-se de que já “não existem paisagens puras”. É verdade que isso não anula o facto de nos sentirmos acalorados pelos seus tons, os seus odores e a sua companhia, mas existe sempre algum traço do Homem lá no meio, o que contribui para a ideia de “ordem no meio do caos”.
Aquele rio, aquela lagoa, aquele oceano que grita aos sete ventos o quão belos são, partilham também da existência de uma intervenção. Um pequeno acrescento de areia nas suas margens por meio de máquinas escavadoras, não deixa de ser uma manifestação humana. Cogitando acerca deste pequeno detalhe, será que nós enquanto humanos sabemos medir qual o limite que nos obrigue a parar de intervir? É verdade que a arquitetura facilita e muito na sobrevivência do Homem nos dias de hoje, mas será mesmo necessário a invenção de ilhas artificiais, de acrescentos de areia nas margens de um simples rio, na construção de barragens em volta de Veneza, por esta se estar a afundar de dia para dia? Por muito chato que seja termos de mexer num elemento como uma flor para que possamos construir mais uma casa, a partir do momento em que começámos este ciclo, tão cedo ele não há de cessar… E tal como temos visto ao longo da nossa existência, nem mesmo a revolta por parte da Mãe Natureza, é capaz de demover a mentalidade humana de que quantos mais pisadas deixarmos para as gerações futuras, melhor.
9 Comments
Ju
13 de Outubro, 2016 at 20:20nunca tinha pensado nisto!
Carolayne R.
16 de Outubro, 2016 at 13:31É de facto uma reflexão que devemos fazer de dia para dia!
Dona Ritta
13 de Outubro, 2016 at 20:57De facto nunca tinha parado para pensar nisso. O exemplo disso é que estive uma semana de férias no Gêres e muitas vezes afirmei "a natureza é tão linda!!" e é. Mas realmente nunca a vemos no seu estado puro…
Carolayne R.
16 de Outubro, 2016 at 13:32Folgo em saber que vos suscitei essa vontade de reflexão! Quando o meu professor fez essa afirmação da inexistência da pureza na natureza, também me senti assim, daí ter achado interessante trazer o assunto para aqui! ^^
Ricardo Francisco
14 de Outubro, 2016 at 11:09Este é provavelmente dos textos que mais de ler por aqui! Confesso que nunca tinha pensado muito neste tópico, mas é tão verdade. Como referes, a tendência é a ficar afectado com a beleza de uma paisagem que nos esquecemos do resto. Sei que algumas dessas intervenções humanas são necessárias, mas tens razão, perde-se um pouco a "pureza" dos locais.
Ricardo, The Ghostly Walker.
Carolayne R.
16 de Outubro, 2016 at 13:33Muito obrigada Ricardo!
E sim, acho que de uma maneira geral, nunca paramos para pensar nisto! E por muito chato que seja intervirmos, acaba por se tornar necessário e vicioso!
Ju.
14 de Outubro, 2016 at 19:02Wow, nunca tinha visto as coisas desta forma, mas é tão verdade!
Estou a adorar ler os teus textos pós-entrada na universidade! (:
Beijinho*
Carolayne R.
16 de Outubro, 2016 at 13:34Muito obrigada Ju! Vejo que o feedback em relação a esta publicação tem sido muito positiva!
Folgo em saber que estás a gostar! Prepara-te que no futuro haverá muito mais para ler!! 😀
Valentina Muniz
21 de Outubro, 2016 at 17:53Já nem a lua tem a sua pureza original.
Beijinho*
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