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Poucos foram os livros que li sobre realidade negra, nos meus 25 anos. Menos ainda são os que explorei sobre uma das membranas do racismo, o colorismo. Para quem não está a par, colorismo é o ato de dentro ou fora da própria comunidade negra, haver uma discriminação quanto aos diferentes tons da pele negra, conferindo a alguém um rótulo que se situa num limbo.
A questão centra-se na categorização da pessoa segundo a tonalidade da sua pele: será ela negra o suficiente para ser considerada negra? Ou mesmo que seja filha/o de um casal interracial, o seu tom próximo da de um caucasiano, não seja aceite na mesma? Onde se situam, então, os mestiços?
Este é o cenário em The Vanishing Half.
A narrativa centra-se em duas irmãs gémeas que, devido às limitações das suas vidas numa vila exclusiva para negros, decidem fugir de casa em busca de uma vida melhor. As suas vidas ganham direções diferentes quando uma abraça o seu lado negro, e a outra se aproveita do seu tom mais claro para viver como uma mulher branca.
Dali, nascem segredos, crises existenciais, arrependimentos e inúmeras situações em que, tanto Stella quanto Desiree, questionam as decisões que tomaram ao longo da vida. Por um acaso, um detalhe que reforça como podemos ser tão discriminatórios quanto foram connosco, as irmãs tornam a cruzar-se, deparando-se com as suas disparidades.
É muito curioso observar como é que um problema social nunca vem só.
Ele traz sempre camadas atreladas, que englobam tipos de pessoas que, no nosso entendimento, não têm motivos para sofrer represálias. Afinal, perguntei-me a meio a leitura, a discriminação parte de quem? Dos que nos rodeiam, criando um conceito modelo que deveria ser perseguido? De nós que, quando detetado por um potencial predador, é reforçado através de atos imundos? Ou é o resultado destas duas componentes que se complementam e afundam ainda mais o barco?
Tendo em conta uma das motivações para que as gémeas saíssem da sua terra natal, senti um misto em relação à irmã que enveredou pela sua identidade branca. Dado o tempo histórico, é compreensível que tenha decidido camuflar-se de maneira a prosperar, afinal, era uma das melhores alunas da sala e um dos seus desejos era o de frequentar a universidade….
Ainda assim, até que ponto é que abraçar uma identidade que outrora lhe tirou um familiar próximo, não reflete a sua insensibilidade? Não se tratando de insensibilidade, será uma espécie de superação? Então e até que ponto é que essa escolha não ajuda a reforçar a ideia que ainda se conserva de que os negros para se consagrarem na vida necessitam de uma figura de salvação – por norma branca, rica, influente -, caso contrário não valem nada? Por muito estudiosos, dedicados, capacitados?
A história em si, com o objetivo de nos convidar a conhecer esta faceta do racismo, reforça estereótipos.
Sobretudo o de que pessoas brancas sucedem e as negras não, mantendo-se na média baixa. Não que algum dos cenários esteja necessariamente errado, mas se o objetivo da autora era o de tecer uma crítica implícita…será que foi bem-sucedida, perpetuando o que já sabemos de cor e salteado?
Por outro lado, será que tenha sido esse o objetivo? O de estimular uma crítica interna nos leitores em relação à sua estratégia? De qualquer modo, e por estas indagações constantes – afinal terminei o livro no verão e ainda penso nele -, aconselho The Vanishing Half.
Não só por explorar um tema pouco falado quando nos referimos ao racismo, mas igualmente relevante por trazer ao de cima um ato que pode ser cometido por qualquer pessoa que se ache numa posição de destaque e soberania em relação aos que, do seu ponto de vista, não merecem frequentar os seus espaços sociais. Mesmo que façam parte da sua família.
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