Era muito pequena quando fui, pela primeira vez, ao palácio da pena. Se me perguntares o que associo a este monumento, sem dúvida que te respondo algum episódio de “uma aventura”. Foi em contexto de visita de estudo e devo ter lá ido umas duas vezes. Não foi algo que me tenha fascinado, sobretudo por não me recordar do que lá tenha visto. Só sei que, de há uns tempos para cá, por influência das partilhas de colegas de erasmus, cresceu-me a vontade de visitar o centro de Sintra pela primeira vez.
Sem horários, nem roteiros, muito menos regras.
Apesar da vontade, nunca tive a coragem de ir sozinha. Foi então na companhia de uma das minhas amigas mais queridas, um misto da meteorologia, o trilho de turistas a indicar que caminho seguir que lá meti os pés. Aquela frescura que só os amantes da natureza sabem interpretar, as cores espalhadas pelos edifícios, estradas, a longas distâncias na paisagem…
Sintra passou a simbolizar não só um cenário perfeito para ocorrências misteriosas, como uma cápsula mágica em que todos os problemas se derretem a cada passada naquelas ruas estreitas, inclinadas e de valas capazes de nos torcer o pé se não prestarmos atenção.
Falo por mim quando digo que estar no meio da natureza é terapêutico. Pode parecer contraproducente, uma vez que a ansiedade atua perante cenários que não pode controlar. Contudo, estar longe dos estímulos urbanos e cada vez mais perto da minha índole, num lugar em que posso escutar os meus pensamentos, é uma das experiências que esta cidade proporcionou.
O cheiro a humidade é divinal. As texturas das paredes ladeadas de plantas é de arrepiar.
A isenção de poluição sonora, sendo substituída pelo cantarolar dos insetos, o chamamento das folhas, o arrastar dos pés no pavimento… É como se, a cada rajada, fosse possível limparmos toda a camada de preocupações, aproximando-nos de soluções práticas e rápidas de modo a que possamos aproveitar melhor a estadia na serra. Ali, não há lugar para solidão aquando da presença de toda aquela estrutura natural. É impossível haver solidão onde há uma ordem no centro do caos e que nos obriga a pedir licença com respeito.
Não contava com isto. Assim que desci do comboio, não esperava ser surpreendida pelos recantos de Sintra, tendo em conta o acumulo de pessoas na estação, uma fila de restaurantes, autocarros com destinos distintos. A nossa exploração foi feita a pé até o sol se pôr e o medo do escuro, em mim, ter dado alarme. Em duas semanas, marquei presença numa Sintra que me marcou a mim, ao ponto de querer regressar. Há tanto mais para ver! ♥
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